9.10.07

Armadilhas dos armados em bons

Este fim de semana voltei ao cinema, após longa paragem, para ver dois filmes. O primeiro foi uma escolha sem grande convicção. Porém, como vira em DVD os dois primeiros filmes da série, havia uma certa curiosidade em saber como funcionava o espectáculo em ecran de grandes dimensões.
Não funciona bem. O filme é uma sucessão de fugas, corridas, perseguições, lutas e tiros filmadas quase sempre com câmara livre, ou seja, à mão, num fluxo de imagens agitadas, desfocadas, confusas, montada em velocidade supersónica com planos de muito curta duração. A história é mais do mesmo, Jason Bourne é muito bom, muito melhor que os outros, e já roça as capacidades de um super-herói.
Conclusão: quando o realizador confunde acção com confusão, perde-se a contemplação. Muito se perde porque o realizador não nos mostra, tendo que o imaginar. O filme não é "limpo", mas sim uma suja confusão. Saí de lá cansado, com os olhos em bico e sem prazer. Nem a história convence. Nota 1, apenas por alguns detalhes curiosos.

Depois vi o segundo filme de Grindhouse, a épica homenagem de Tarantino e Rodriguez aos filmes de série Z. Da opção de Tarantino ("À prova de morte", já por mim comentado) resultaram padrões muito elevados e que inevitavelmente proporcionariam comparação com este filme de Robert Rodriguez. Porém, o realizador esteve igual a si mesmo e, num regresso às origens, fez um filme de zombies. Mas apenas isso. Um filme de zombies.

Basicamente, ao ritmo de um jogo de vídeo (ou antes, foram estes inspirar-se em filmes dos anos setenta) temos uma história descabida que cria zombies bexigosos, esfomeados por cérebros, e um grupo de sobreviventes a disparar a torto e a direito para acabar com eles e salvar a humanidade. Está lá tudo o que de bom e mau tinham estes filmes. As incongruências de argumento, a irrealidade das situações, o vazio dos personagens, a película riscada e até uma bobina perdida. E nunca se leva a sério, nunca se arma em bom, pelo que foge aos lugares miseráveis daqueles filmes que, actualmente, enchem a pantalha de efeitos especiais e pseudo-histórias para transpor ideias que nasceram de jogos de vídeo do tipo "tiro neles" (shoot'em up).

É, sem dúvida, uma boa diversão. Falta-lhe contudo, o substrato que faz da obra de Tarantino um verdadeiro filme, devidamente completo. Enquanto Tarantino não deixa nunca para trás o diálogo, a composição dos personagens, Rodriguez troca isso tudo por mais sangue, mais gore. Por isso, na comparação, fica a perder, e merece apenas uma nota três.

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