4.2.08

"At last, my arm is complete"

Para que não existam confusões, avisem-se os mais distraídos: Sweeney Todd é um musical. Quer isto dizer que a maior parte do filme é cantada, que os actores se expressam naquelas cantorias americanas da Broadway, e do clássico filme musical dos anos cinquenta de Hollywood.
É isso mau? Bom, se o filme não fosse de Tim Burton ou não tivesse litradas de sangue eu era capaz de ficar arrepiado com o conceito do filme musical. Nunca foi um estilo que apreciasse e, até ao "Chicago", não me sentia inclinado a ver qualquer filme musical ("Toda a gente diz que te amo", de Woody Allen não conta, porque é mais Woddy que musical, não é?).
Porém, como disse, "Chicago" abriu-me os horizontes para o filme musical, que agora já não é uma realidade a negar à partida, mas sim a investigar com curiosidade.
Por outro lado, Tim Burton é um dos meus realizadores favoritos e não me lembro de nenhum filme dele que me tenha desagradado. A história, sobejamente conhecida, do sanguinário barbeiro de Fleet Street prometia hemoglobina q.b. e aquela dose do lado negro para afastar as flores e os passarinhos que o meu imaginário costuma associar sempre aos musicais. Johnny Depp e Helena Boham Carter davam a segurança que Burton costuma reunir ao escolher os seus elencos. Por isso, tudo se conjugava para um filme que, pelo menos, não me iria incomodar.
E não incomodou... aborreceu ou desiludiu. Sweeney Todd tem uma estética irrepreensível, uma realização dinâmica que combina cenários e criações digitais para nos transportar para a fétida Londres de meados do Séc. XIX e nos introduzir de forma cúmplice na insensata vingança planeada pelo terrível barbeiro.
Não há ali lições de moral, e a única certeza é que morrer pode ser muito fácil, especialmente se nos cruzarmos com as lâminas de prata deste barbeiro animado pela bilis da ira e da vingança. As músicas são negras como o filme, as letras de métrica difícil mas ritmada e saímos da sala cantarolando golpes na garganta e jorros de sangue, ansiando por comprar a banda sonora.
Conclusão: é, sem dúvida, um filme para não perder, especialmente enquanto está na sala 4 do Monumental, com projecção digital. De entre a filmografia de Burton não é um dos melhores exemplos. Mas a mediania deste realizador corresponde, sem dificuldade, ao melhor cinema que encontramos em exibição.

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