6.12.04

Anos '80 - 80 Memórias

Fórmula 1 interessante

Foi com pouco mais de dez anos que comecei a interessar-me por um desporto que, à primeira vista, não passa de um carrossel em formato gigante. Falo da Fórmula 1 e dos seus Grandes Prémios. Quem hoje espreitar uma transmissão de um GP certamente acreditará nisso, tal é o bocejo em que se transformaram as corridas, tal o domínio de um piloto e de uma marca sobre os demais.
Nos anos '80 não era assim. A equipa que tivesse a melhor máquina, o melhor conjunto chassis/motor, capaz de dominar as demais, tinha, em regra, dois pilotos de elevado nível a digladiarem-se pelo título. Foi assim com Niki Lauda e Alan Prost; foi assim com Prost e Ayrton Sena; com estes e com Nigel Mansel, Nelson Piquet, Keke Rosberg, Michele Alboreto, Gerhard Berger.
Houve campeonatos com quatro candidatos ao título a três corridas do fim (1985); campeonatos decididos por 0,5 ponto (1984); campeões que apenas ganharam uma corrida na época (1982, salvo erro). As corridas tinham inúmeras ultrapassagens.
Os pilotos tinham máquinas que rodavam em regra com 800 ou 900 cavalos, mas que, com um botão que aumentava a pressão do turbo, chegavam aos 1000 ou 1100 cavalos, acelerando bruscamente para a ultrapassagem. Depois, por vezes, a gasolina não chegava ao fim, porque abusavam do expediente. Eram tempos em que se viam carros aos "esses" a tentar fazer com que os últimos restícios de gasolina chegassem ao motor para alcançar a meta, ali perto. Tempos em que pilotos, como Elio Di Angelis desmaiavam a caminho da meta, a empurrar o seu Lotus. Sim, os fantásticos Lotus com as cores negra e dourada da John Player's Special.
Tempos eram em que, de uma época para a outra, apareciam novidades nos carros que os outros à pressa tentavam copiar. Desde a caixa de velocidades semi-automática, aos controlos electrónicos, ou às asas aerodinâmicas originais, o nariz levantado, o nariz de tubarão... mil e uma novidades que, na pista, provocavam luta, competição.
As corridas do Japão e Austrália eram emitidas em directo, às quatro e às cinco da manhã, e tinham audiência. Voltou a haver um GP em Portugal.

Hoje a Fórmula 1 caminha num marasmo doentio. Eu, que sou adepto incondicional da Ferrari, fico aborrecido com o domínio da marca e do Schumacher. Não consigo ver uma corrida do princípio ao fim sem estar a fazer outra coisa, como ler o jornal ou passear em constante zapping. Eu, que adorava os GP, e não perdia um. Era capaz de ir tarde ou vir cedo da praia, só para ver mais uma corrida. Para torcer pelo meu piloto, pela minha marca.
Nos anos 80 a Fórmula 1 era um verdadeiro espectáculo.
Hoje, é uma memória.

1 comentário:

Anónimo disse...

Bem, este post já foi escrito há muito tempo, mas como só agora é que o encontrei por mero acaso, direi que concordo com tudo, mas faço uma pequena correcção. Que eu saiba não foi Elio Di Angelis que desmaiou a caminho da meta, foi Nigell Mansell que, tendo ficado sem caixa de velocidades perto da meta após duas horas de condução sob uma temperatura ambiente de 40 graus, saiu do carro, começou a empurrá-lo até à meta para garantir a sexta posição e acabou por desmaiar em plena pista quase ficando esmagado debaixo do eixo traseiro. Isto aconteceu no Grande Prémio dos Estados Unidos em 1984.