13.12.04

A razão da emoção

Numa altura em que o PR decidiu dar-nos, finalmente, a palavra sobre o governo deste país, em eleições antecipadas, e o Governo, compungido, apareceu perante as câmeras para se mostrar como vítima, demitindo-se, não resisto a algumas considerações futurológicas sobre os próximos meses.
Não há muito lugar par dúvidas, neste país que é Portugal. Aqui, só dois partidos poderão ganhar as eleições: o PS ou o PSD, inclinando-se actualmente a balança para o primeiro. Partidos como o PP, o PCP e o BE não têm essa veleidade. E se à direita, é fácil ver o PP num Governo, como foi o caso dos dois últimos anos, à esquerda não acredito que o PS alguma vez poderá coligar-se com o PCP ou o BE. E porquê? Porque o discurso destes dois partidos com representação parlamentar depende da sua radicalização, a qual não é compatível com uma posição de governo. E exigir mundos e fundos pela sua pequena percentagem é cedência que PS, ganhando as eleições, não poderá fazer.
Temos, então, alguns meses até às eleições. Meses esses que serão desperdiçados.
A decisão da vitória entre PS e PSD não passará pelo voto esclarecido, mas sim pelo voto emocional. Cada Partido tem os seus votantes incondicionais. Depois, entre estes dois, haverá gente que acreditará mais no projecto de um ou de outro. Finalmente, o grosso dos votos dependerá da emoção.
Por isso, duvido que as semanas de pré-campanha e campanha que se seguem venham esclarecer os votantes. Isso não interessa. O que importa é emocionar os eleitores e levá-los a ir lá depositar a cruzinha onde interessa.
O PSD vai apelar à emoção da vítima, do coitadinho, diabolizando o PR e colando-o ao PS, para invocar o risco de conluio socialista institucional. O PS vai apelar ao sentimento de volatilidade e insegurança que Santana Lopes trouxe ao país, personalizando a contenda . O PP ou vai colar-se à vitimização (se aparecer coligado), ou vai desmarcar-se do PSD, acentuando a imagem que foi prejudicado pela ineficácia do outro partido do Governo. O PCP vai divulgar a cassete, o disco já riscado e que frutos certamente não dará. O BE vai gritar bem alto as suas bandeiras mais controversas, atacando tudo e todos.
O povo português não ficará esclarecido. Irá votar emocionalmente. Assim como vota num daqueles programas de televisão. Assim como escolhe a roupa que veste ou a revista que compra. E, enquanto assim for, de nada interessa governar com qualidade, pois esta não granjeia votos. E mais vale uma inverdade, uma meia-verdade ou mesmo mentira com impacto, que seja difundida na TV, na rádio e nos jornais, que uma grande verdade, uma decisão estudada, ponderada e acertada.
E, tal e qual como numa eleição para qualquer associação de estudantes, ou associação académica, o que importa é a "bujarda" e o caciquismo.
Bota aí a cruz e até às próximas eleições.

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