23.1.06

Acabou-se

Serão três anos sem eleições. Seguramente inventarão uns referendos para nos distrair, mas nos próximos três anos não teremos que ir votar para eleger alguém.
As presidenciais chegaram ao fim e Cavaco é o novo Presidente.
Não sou daqueles que acha que o mundo vai acabar. Ao fim dos anos começo a achar que se as diferenças entre PS e PSD são cada vez menores, também entre um Presidente vindo de um ou de outro desses partidos as diferenças serão mais de estilo e método, não interferindo com o essencial que o cargo exige.
Sócrates estará satisfeito. Acredito que fez tudo para se assegurar que teria Cavaco como Presidente, o único dos candidatos capaz de coexistir com a sua maioria absoluta sem o boicotar.
Não vou pôr-me a comentar os resultados eleitorais porque muitos o fazem hoje, e porque parecem óbvias as ilações que a maioria tira (há sempre gente mais arisca a inventar cenários, não é?). Mas não me escuso a uns apartes.
Assim, os resultados provisórios são:

Inscritos
8.830.706

Votantes
5.529.117
62,61%
-
Brancos
58.868
1,06%
-
Nulos
43.405
0,79%
-
CAVACO SILVA
2.745.491
50,59 %
-
MANUEL ALEGRE
1.124.662
20,72%
-
MÁRIO SOARES
778.389
14,34%
-
JERÓNIMO SOUSA
466.428
8,59%
-
FRANCISCO LOUÇÃ
288.224
5,31%
-
GARCIA PEREIRA
23.650
0,44%
(Fonte STAPE / ITIJ / IBM)
Em poucas palavras, direi, que Mário Soares encontra a reforma, finalmente, pois a partir daqui nada mais poderá pretender fazer.
Jerónimo de Sousa alcança uma percentagem que lhe dá capital político para continuar a ser a oposição à esquerda do Governo.
Francisco Louçã cai do pedestral e percebe que por si, não vale assim tanto. Temo mesmo que este seja o princípio da queda do Bloco de Esquerda e do sucesso do seu discurso. A forma como têm desperdiçado o capital ganho nas últimas legislativas é assustadora.
Garcia Pereira é o Garcia Pereira.
O resultado do Manuel Alegre vai abanar o PS. Espero que ninguém meta na cabeça uma tonta ideia de criar um novo partido com base neste apoio ao candidato. Já a ouvi pela boca de alguns comentadores e parece-me disparatada. Deixem o PS tratar no seu interior do descontentamento gerado pela sua direcção. Os partidos portugueses não precisam de cisões. Senão ficamos pior que a Itália.
Cavaco tem tudo para ser aquilo que quer. Um Presidente a pairar lá por cima sem grande interferência cá em baixo. Vamos a ver se daqui a cinco anos não estará o PS a pensar se vale a pena apoiar a sua recandidatura.
Uma palavra para os dados menos falados. A abstenção foi "normal". Não houve nenhuma corrida às urnas. Nem um alheamento que pusesse em causa a representatividade do acto. Os brancos e nulos foram menos do que estava à espera. É, contudo, significativo que mais de cem mil pessoas optassem por demonstrar assim o seu descontentamento.
Guardem o cartão de eleitor. Vamos ver se o deixam ganhar pó.

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