26.1.06

"O Edifício da Verdade" (12)


Só com o passar tempo se apercebeu de como fora mau aquele dia. Por portas travessas, veio a saber a história de Isabel. Tinha trinta anos e nunca conhecera alguém que a amasse. Todos os homens com quem tinha estado, e eram bastantes, apenas se serviram dela. Apenas receberam, nunca deram. Teve parceiros com vinte anos e com cinquenta... todos olharam para o próprio umbigo e a tomaram como a presa fácil que se deixou ser.
É certo que desta vez Isabel usou Vitor, no dia em que se conheceram. Mas depois, aparentemente, quis redimir‑se. Quis apagar o erro, quem sabe na esperança de construir algo de novo, algo de bom. Não conseguia afastar a semelhança física com a Janis Joplin, que aos poucos se acentuava por força da construção do imaginário. Era apaixonada e deixava‑se usar... E quando Vitor teve na mão a oportunidade para ser diferente, ser melhor, foi igual aos outros. Foi igual. Usou‑a. E mal.
Sem que estivesse à espera, uma semana depois de terem dormido juntos, atendeu uma chamada dela apesar de nunca lhe ter comunicado o seu número de telemóvel. Isabel convidou-o para um encontro, uma saída. Por dentro, tal qual um miúdo, pensou: "Querias agarrar‑te? Toma!!!". Para ela inventou a desculpa mais imbecil alguma vez utilizada, deixando no ar a certeza de não a querer ver mais.
Como se arrependia. Mas era tarde. Era cada vez mais outro mundo. Deixou de aparecer em público por algum tempo. Voltou a recusar participações em festas ou eventos. Queria esquecê‑la. Esquecer tudo aquilo. Queria fugir.
Acabou por combinar as férias com Diogo.
(continua)

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