31.10.06
Hoje é dia de festa
Pôr em dia
A Companhia Nacional de Bailado tem no Teatro Camões o "Programa Stravinsky", com A sagração da Primavera e O Pássaro de Fogo.
26.10.06
Foi este o slogan e foi esta a realidade que há dois anos descobri nos pacotes de leite Vigor magro. Há uns anos adepto incondicional do "leite do dia", por oposição ao UHT que consumi durante mais de uma década, o Vigor magro foi uma agradável descoberta.
25.10.06
Uma acção vale mais que mil palavras
23.10.06
A Dália Negra
Antes de ver o filme já tinha lido o livro, bom companheiro há um par de anos durante os almoços em dia de trabalho. Se há coisa que não gosto é de estar no restaurante sózinho sem nada para fazer, pelo que o jornal ou um livro me costumam acompanhar. Foi assim que li A Dália Negra, de James Elroy, obra muito completa, complexa, mas escrita com frieza, dureza, e muita, muita crueldade. Os personagens de Elroy (como em L.A. Confidential ou O Grande Desconhecido) são sempre pessoas duras, extremamente determinadas, com sentimentos confusos e relações pessoais vulcânicas, ou seja, com frequentes abalos telúricos e sempre à beira da erupção.
O filme de Brian de Palma é muito agradável mas para quem não leu o livro será, seguramente, difícil de acompanhar pois o realizador não simplificou a dificuldade da história original. O mistério adensa-se, as personagens somam-se e as relações entre elas, que nas páginas de um livro podem ser cuidadosamente escalpelizadas, na tela têm que se intuir mais do que ver explicadas.
Não obstante, reconheço neste filme um excelente trabalho de adaptação, de realização e recriação do ambiente desenhado por Elroy. Há, contudo, um aspecto que me deixa desconfortável: o actor principal Josh Hartnett, na pele de Dwight "Bucky" Bleichert. Porquê? Porque é muito "bonitinho", muito "limpinho". Das páginas do livro trazia a imagem de um tipo mais bruto, mais rude, mais inadaptado a Kay Lake, aqui interpretada por Scarlett Johanson. Um pouco como Russel Crowe aparecia em L.A. Confidential. Ao invés, Hartnett passeia pelo filme como um modelo faltando-lhe o poder de impacto que reconhecia ao seu personagem. Erro de casting? Talvez a indústria assim não ache.
Em todo o caso este pormenor não desvirtua o bom pedaço de cinema que é o filme Black Dahlia, que se vê com prazer e se recomenda.
19.10.06
EUA
Antes de mais, Boa Viagem, Alfonso!
.
Mas, agora que vem a talhe de foice, pergunto: não vos preocupa poderem ser vítimas de tortura nos EUA sem terem qualquer hipótese de reagir e o evitar?
Nos EUA foi aprovada uma lei que, em casos de terrorismo ou suspeita de terrorismo, confere ao Presidente o poder de interpretar a Convenção de Genebra e definir o que é tortura ou não. E nestes casos deixa de ser possível recorrer ao habeas corpus.
Hoje em dia, nos EUA, a protecção da Convenção de Genebra vale o que a CIA quiser. O caminho está aberto, legalmente, para os Jack Bauer lá da terra.
Isto é tão grave que pode acontecer, a qualquer um de nós que viaje para os EUA, ser agarrado no aeroporto, levado e pronto. Não pode contactar com ninguém, seja da Embaixada, seja quem fôr; não pode reagir judicialmente à detenção; e fica sujeito a tortura, sim tortura. Apenas porque alguém, nalgum momento, apontou para vós como suspeito. Chateia-me, e muito, esta ideia.
Não sei como estará a senhora da fotografia. Envergonhada, certamente. Pensando emigrar, não vá alguém dizer que foi ela quem lhe deu instruções para fazer umas bombas.
Como poderão, agora, os EUA criticar os violadores da Convenção de Genebra?
E porque razão os paízes civilizados não denunciam esta situação e exigem alterações?
17.10.06
15,7%
16.10.06
Agora o Teatro
Mais cinema
E que surpresa tive eu.
Junte-se uma família disfuncional numa carrinha VW "pão-de-forma" e veja-se o que acontece aundo o texto é excelente, a realização segura e as interpretações de alto nível.
Nesta família o pai está convencido que é um vencedor e que descobriu "a pólvora" com um método de nove passos para o sucesso. O seu pai, o avô, é viciado em heroína, consome pornografia em barda e tem a linguagem de um carroceiro. O filho fez um voto de silêncio até entrar na academia da Força Aérea. Enquanto não pilota jactos de combate, treina e lê Nietzche.
A sua irmã, a mais nova, sonha ser Miss. A mãe tenta gerir a família, mas entretanto alimenta-a todos os dias com frango assado comprado . Pelo meio luta com falta de dinheiro. O seu irmão, o tio, tentou suicidar-se.
E mais não conto. A não ser dizer que, quando no final vemos a carrinha a afastar-se estrada fora achamos que ainda é cedo. Queremos saber mais, saber o que se vai passar agora com aquela gente, agora que falharam mais uma vez, mas no falhanço encontraram algo de novo e forte. Será que alguma vez vencerão? Será que esta sensação de que algo poderá ter mudado nas suas vidas é real?
O filme não responde, mas deixa-nos sonhar. Com o fim mais cor de rosa que quisermos. Ou negro como o carvão. Todo o humor do filme é assim. Faz rir, mas deixa um travo azedo na boca.
Actualizando (aos poucos porque o blogger comeu-me um post inteiro)
A semana passada fui ver o World Trade Center do Oliver Stone e, porque queria pôr umas fotos neste post não o consegui fazer por misteriosas motivações das máquinas informáticas.
Agora ficar-me-ei pela introdução do poster.
Quanto ao filme...
Não é, felizmente, um filme para arrasar audiências. Não é um filme polémico como o Oliver Stone nos habituou com Salvador, Platoon ou JFK, ou mesmo o provocador Natural Born Kilers. WTC é um filme sobre o 11 de Setembro que nos mostra um pouquinho apenas do que se passou naquele dia, sempre centrado à volta das duas personagens que ficaram soterradas nos escombros e foram das poucas a ser libertadas com vida.
De forma clara e segura, Stone relata-nos o horror por que passaram esses dois polícias, e relata-nos o drama das suas famílias. Acontece que a encenação criada reduz a profundidade dos personagens, quem sabe se, por se basearem em gente real, viva, ficaram os actores limitados na sua criação. Mas o que é certo é que o filme "apenas" conta a história.
Ao sair da sala sentia o peso da fantástica recriação do WTC e da sua derrocada. Fui sensível à emoção impingida pelo desenrolar dos eventos. Mas não me senti próximo dos personagens. Nesse aspecto, WTC não chega a ser intimista. Por isso ficou aquém das minhas expectativas.
Mas também vos digo que numa boa sala de cinema, com grande écran e um forte dolby surround que até faça estremecer a cadeira, o momento em que a primeira torre cai é, verdadeiramente, esmagador.
12.10.06
Isto não está bom
10.10.06
Souto Moura
9.10.06
Alvo em movimento
É com alguma perturbação que oiço as notícias de gente alvejada pela GNR. Não por terem sido alvejados. Não. Mas pela vitimização dessas pessoas que, ao que tudo indica, desrespeitaram a autoridade policial não parando os carros que conduziam quando tal lhes foi ordenado e, uma vez começada a perseguição policial a prolongaram, assumindo comportamentos de risco para os agentes perseguidores e para todos os utentes da via pública.
A polícia tem armas!
Toda a gente sabe que a polícia tem armas!
E porquê?
Porque a polícia tem autoridade. Tem autoridade, por exemplo, para mandar parar. E se nada devemos, nada tememos. Logo, paramos.
O que se vê em comum nestes casos é o desrespeito pela autoridade policial e a vitimização por ter a polícia usado dos seus meios para exercer a sua autoridade e impedir o perigo para a sociedade.
Gente distraída não corre o risco de ser alvejada. Porque se não se aperceber da ordem de paragem também não enceta uma fuga. E mais adiante acaba por parar. Quem foge, habilita-se a ter uma reacção porporcional por parte da entidade policial que, SIM, TEM ARMAS e pode vir a dispará-las. Obviamente que alvos em movimento são mais difíceis de atingir e a lei das probabilidades vai no sentido de que os projécteis que atingem pessoas escolhem os locais mais sensíveis para se alojarem.
É, por isso, totalmente tonta a ideia que se pretende passar de que os agentes policiais são assassinos descontrolados ou incapazes com armas na mão.
Senhor Inspector-Geral da Administração Interna... não fique admirado se, apesar de todos os seus esforços, o número de incidentes com armas de fogo aumentar na actividade policial. Quem está de olhos abertos percebe que a quebra da autoridade se traduz num maior número de actos de desrespeito e agressão que vão exigir reacções que poderão envolver tiros. É a lei da proporcionalidade. E se a autoridade vem minada desde o berço, pois os pais não podem ou não querem exercê-la sobre os filhos, os professores são agredidos nas salas de aula, e os polícias desrespeitados na rua, os juízes na praça pública, o cidadão comum em toda a parte (seja o transporte público, o cinema, a loja, o restaurante ou a fila do supermercado) algo vai mal na nossa sociedade.
Não sou particularmente securitário, defensor de um Estado policial. Mas não tenho tolerância para esta vitimização do bandido, do violador da lei e da culpabilização de quem tem que agir no terreno em defesa de todos nós.
2.10.06
Supremo Tribunal de Justiça
José Manuel Fernandes, Público 29 de Setembro de 2006
“Querem um símbolo, um expoente, um sinónimo, dos males da justiça portuguesa? É fácil: basta citar o nome da Noronha de Nascimento e tudo o que de mal se pensa sobre corporativismo, conservadorismo, atavismo, manipulação, jogos de sombras e de influências, vem-nos imediatamente à cabeça.O juiz - porque é de um juiz de que se trata - é um homem tão inteligente como maquiavélico. Anos a fio, primeiro na Associação Sindical dos Juízes, depois no Conselho Superior da Magistratura, por fim no Supremo Tribunal de Justiça, esta figura de que a maioria dos portugueses nunca ouviu falar foi tecendo uma teia de ligações, de promiscuidades, de favores e de empenhos (há um nome mais feio, mas evito-o) que lhe assegurou que ontem conseguisse espetar na sua melena algo desgrenhada a pena de pavão que lhe faltava: ser presidente do Supremo Tribunal de Justiça. O lugar pouco vale (quem, entre os leitores, sabe dizer quem é o actual presidente daquele tribunal, formalmente a terceira figura do Estado?). Dá umas prebendas, porventura algumas mordomias, acrescenta uns galões, mas pouco poder efectivo tem.O problema, contudo, reside neste ponto: tem, ou terá? Os senhores juízes, que aqui há uns tempos se empenharam na disputa com o Tribunal Constitucional para saber quem era hierarquicamente mais importante (ganharam os do Supremo a cadeira do protocolo, deram aos do Constitucional a consolação de terem ao seu dispor um automóvel topo de gama...), nem sequer são muito respeitados. Por sua culpa, pois sabe-se que alguns passam pela cadeira do Supremo apenas uns meses e para engordar a sua reforma. O presidente daquele agigantado colégio de reverendíssimos juízes pouco poder tem tido, só que Noronha de Nascimento apresentou-se aos eleitores - ou seja, aos seus pares, aos que ajudou a subir até ao lugar onde um dia o elegeriam - com uma espécie de programa que arrepia os cabelos do mais pacato cidadão.O homem não fez a coisa por pouco: ao mesmo tempo que vestiu a pele do sindicalista (pediu que lhe aumentassem o salário e que dessem menos trabalhos aos juízes...), pôs a sobrecasaca de subversor do regime (ao querer sentar-se no Conselho de Estado) e acrescentou o lustroso (pela quantidade de sebo acumulado) chapéu do "resistente" às reformas no sector da justiça.Se era aconselhável que um presidente do Supremo Tribunal desse mais atenção a Montesquieu e ao princípio da separação de poderes do que à cartilha da CGTP, Noronha de Nascimento fez exactamente o contrário. Reivindicou como um metalúrgico capaz de ser fixado para a posteridade numa pintura do "realismo socialista" e, esquecendo-se de que é juiz e representante máximo do "terceiro poder", o judicial, pediu assento à mesa do "primeiro poder", o executivo. É certo que o poder do Conselho de Estado é tão inócuo como o penacho de ser presidente do Supremo Tribunal, só que a reivindicação contém em si duas perversidades. A primeira é ser sinal de que Noronha de Nascimento se preocupa mais com o seu protagonismo público do que com os problema da justiça. A segunda, bem mais grave, é que o homem se disponibiliza para ser o rosto de uma fronda dos juízes contra as decisões reformistas do poder político, neste momento objecto de um consenso alargado entre o partido do Governo e a principal força da oposição.É tão patético que daria para rir, não estivéssemos em Portugal e não entendêssemos como funcionam as estratégias das aranhas. O homem, creio sem receio de me enganar, é tão inteligente e habilidoso como é perigoso. Até porque tem já um adversário assumido: o novo procurador-geral da República, Pinto Monteiro, um dos raros que tiveram a coragem de lhe fazer frente.”