31.10.06

Hoje é dia de festa

Ali ao lado, à direita, o perfil do Urso Polar mudou.
Entrei nos 35. Começa a ser uma idade respeitável.
A partir de hoje já posso ser Presidente da República.

Pôr em dia



A Companhia Nacional de Bailado tem no Teatro Camões o "Programa Stravinsky", com A sagração da Primavera e O Pássaro de Fogo.

Se este último foi vibrante e empolgante, com espectaculares interpretações nomeadamente da vedeta Carlos Acosta, bailarino cubano que no dia em que vi o bailado era o pássaro do título, já a Sagração deixou a desejar. Não que fosse mal dançada. Mas a coreografia e figurinos, rigorosos e clássicos, não permitem esquecer, a toda a hora, as duas coreografias que no passado vi interpretadas pelo saudos Ballet Gulbenkian.
Esse é um vazio que não tem forma de ser preenchido. E ainda estou a espera das anunciadas iniciativas da Fundação para promover o bailado sem ser com uma companhia residente.
Ontem fui ver o "Children of men", Os filhos do Homem, última realização de Alfonso Cuarón, que tem como cabeças de cartaz Julianne Moore, Clive Owen e Michael Caine.
O filme passa-se no Reino-Unido, em 2027, dezoito anos depois de ter nascido o último bébé humano. Por razões desconhecidas a infertilidade apareceu de um momento para o outro e a humanidade vê-se num beco sem saída, envelhecida e sujeita distúrbios e ruptura institucional. À boa maneira da ficção científica catastrófica, o Reino Unido consegue manter-se através de um Estado autoritário, repressivo, militarista e controlador, que recorre à expulsão dos estrangeiros, dos emigrantes ilegais, tratados como verdadeiros párias, à imagem dos terríveis exemplos dos campos de concentração ao longo dos tempos.
Pelo meio surge um raio de luz, de esperança, que envolverá os protagonistas na tentativa de levar para sítio seguro uma mulher, emigrante, que está grávida.
O filme não dá explicações, apenas expõe situações. E toda a acção que se desenrola de peripécia em peripécia, sem contudo cativar. Os personagens progridem de cenário em cenário, de contratempo em contratempo, quase como um jogo de computador de plataformas. Revêem-se lugares-comuns do estilo, e com indiferença escapamos à emoção que deveria ocorrer quando o bebé nasce.
É daqueles filmes que aguarda bem pela oportunidade de ser visto em casa, poupando-se o dinheiro do bilhete. Ou então, como passatempo, sempre é um filme que não chateia.

26.10.06


Foi este o slogan e foi esta a realidade que há dois anos descobri nos pacotes de leite Vigor magro. Há uns anos adepto incondicional do "leite do dia", por oposição ao UHT que consumi durante mais de uma década, o Vigor magro foi uma agradável descoberta.
Como toda a gama de leite Vigor, cujo sabor, para mim, se encontrava a anos-luz do sabor do leite UHT e por isso justificava o esforço de me deslocar mais frequentemente à loja para o encontrar, fresco e dentro do prazo de validade, o Vigor magro era "leite do dia".
Seguramente muita gente se queixou de ter que se esforçar para ter o Vigor em casa (quando era miúdo, e o leite Vigor vinha em garrafas de vidro, o dito aguentava-se apenas um dois dias no frigorífico antes de azedar; a minha mãe tinha que o ir comprar todos os dias e, por isso, a dado passo reconverteu-se aos pacotes de UHT). Por isso, a Vigor lançou agora um novo processo de tratamento e conservação do leite que permite que, ao pegar no pacote no supermercado, me depare com quase quinze dias de validade para um litro de leite da Vigor.
Já não é, seguramente, "leite do dia".
Mas o pior é que o Vigor já não sabe a leite Vigor. Agora o travo final da bebida branca está muito próximo do sabor do leite UHT. Quem lhes disse que estavam a evoluir o produto mentiu-lhes. O novo Vigor não satisfaz como dantes. Aqui deixo o meu protesto desiludido!

25.10.06

Uma acção vale mais que mil palavras

Os partidos políticos têm irregularidades nas suas contas da última campanha, apontou o Tribunal Constitucional. Resposta dos partidos: "Ah, e tal, desculpem mas não temos culpa, e coiso e tal, a lei é nova e difícil de perceber, sabem como é, isto não se acerta à primeira, a gente até pensava que estava a fazer bem, porque a gente não viola a lei, não, que ideia, a gente é boas pessoas, só que a lei é tramada e por isso vamos a ver, tenham lá calma que a coisa resolve-se".
Oh meus amigos,... mas quem é que fez a porra da lei? então e se vocês não a sabem cumprir, porque é que os cidadãos hão-de saber cumprir as outras leis, a começar pela do IRS que muda todos os anos e parece um labirinto armadilhado?
Assim se vê como são estes gajos.
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Ontem foram anunciados os lucros de dois bancos relativos aos primeiros nove meses de 2006. O Millenium teve 500 milhões de euros de lucro. O BES 300 milhões de euros de lucro.
"Ah, e tal e coisa, coitadinhos da gente que ganha tão pouco e temos que cobrar aos nossos clientes por tudo e mais alguma coisa senão fica muito caro ter um banco e depois não conseguimos ser muita ricos, e o catano , tás a ver, isto está muito mau prá gente, como é que um tipo consegue sobreviver neste mundo dos bancos, a vida está pela ora da morte."
Depois anunciam taxas de juro competitivas, a menos que nos demos ao trabalhos de ler as letras pequeninas que passam a correr, cobram-nos por uma transferência bancária que fazemos na internet, ou seja, sem que tenham algum trabalho para a fazer, já para não falar das despesas de manutenção e dos arredondamentos.
Também é assim que se vê como vão estes gajos.

23.10.06

A Dália Negra



Antes de ver o filme já tinha lido o livro, bom companheiro há um par de anos durante os almoços em dia de trabalho. Se há coisa que não gosto é de estar no restaurante sózinho sem nada para fazer, pelo que o jornal ou um livro me costumam acompanhar. Foi assim que li A Dália Negra, de James Elroy, obra muito completa, complexa, mas escrita com frieza, dureza, e muita, muita crueldade. Os personagens de Elroy (como em L.A. Confidential ou O Grande Desconhecido) são sempre pessoas duras, extremamente determinadas, com sentimentos confusos e relações pessoais vulcânicas, ou seja, com frequentes abalos telúricos e sempre à beira da erupção.

O filme de Brian de Palma é muito agradável mas para quem não leu o livro será, seguramente, difícil de acompanhar pois o realizador não simplificou a dificuldade da história original. O mistério adensa-se, as personagens somam-se e as relações entre elas, que nas páginas de um livro podem ser cuidadosamente escalpelizadas, na tela têm que se intuir mais do que ver explicadas.

Não obstante, reconheço neste filme um excelente trabalho de adaptação, de realização e recriação do ambiente desenhado por Elroy. Há, contudo, um aspecto que me deixa desconfortável: o actor principal Josh Hartnett, na pele de Dwight "Bucky" Bleichert. Porquê? Porque é muito "bonitinho", muito "limpinho". Das páginas do livro trazia a imagem de um tipo mais bruto, mais rude, mais inadaptado a Kay Lake, aqui interpretada por Scarlett Johanson. Um pouco como Russel Crowe aparecia em L.A. Confidential. Ao invés, Hartnett passeia pelo filme como um modelo faltando-lhe o poder de impacto que reconhecia ao seu personagem. Erro de casting? Talvez a indústria assim não ache.

Em todo o caso este pormenor não desvirtua o bom pedaço de cinema que é o filme Black Dahlia, que se vê com prazer e se recomenda.

19.10.06

EUA


Antes de mais, Boa Viagem, Alfonso!

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Mas, agora que vem a talhe de foice, pergunto: não vos preocupa poderem ser vítimas de tortura nos EUA sem terem qualquer hipótese de reagir e o evitar?

Nos EUA foi aprovada uma lei que, em casos de terrorismo ou suspeita de terrorismo, confere ao Presidente o poder de interpretar a Convenção de Genebra e definir o que é tortura ou não. E nestes casos deixa de ser possível recorrer ao habeas corpus.

Hoje em dia, nos EUA, a protecção da Convenção de Genebra vale o que a CIA quiser. O caminho está aberto, legalmente, para os Jack Bauer lá da terra.

Isto é tão grave que pode acontecer, a qualquer um de nós que viaje para os EUA, ser agarrado no aeroporto, levado e pronto. Não pode contactar com ninguém, seja da Embaixada, seja quem fôr; não pode reagir judicialmente à detenção; e fica sujeito a tortura, sim tortura. Apenas porque alguém, nalgum momento, apontou para vós como suspeito. Chateia-me, e muito, esta ideia.

Não sei como estará a senhora da fotografia. Envergonhada, certamente. Pensando emigrar, não vá alguém dizer que foi ela quem lhe deu instruções para fazer umas bombas.

Como poderão, agora, os EUA criticar os violadores da Convenção de Genebra?

E porque razão os paízes civilizados não denunciam esta situação e exigem alterações?

17.10.06

15,7%

E viva a liberalização dos mercados, com a sempre boa livre concorrência. Cá p'ra mim a EDP vai espremer a galinha até à efectiva chegada dos espanhóis.

16.10.06

Agora o Teatro

Ontem foi a última exibição. Eu vi a de sábado. Falo do "The Pillowman", que esteve em cena no Maria Matos.
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Vou ser breve, e ficar-me apenas pelo que de mais marcante posso reportar.
O testo. É sem dúvido um excelente texto e quem o escreveu é merecedor dos prémios já alcançados. Assim que o encontrar editado, de preferência no inglês original, faço tenções de o comprar, porque é tão intenso e torcido que merece ser lido com calma.
Ora, pegando num texto destes, respeitando-o, sendo simples mas criativo, o encenador Tiago Guedes montou uma boa peça. Que assenta nas excelentes interpretações de Gonçalo Waddijgton, Albano Jerónimo, João Pedro Vaz e Marco D'Almeida.
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Se repuserem a peça (a sala estava esgotada) aproveitem para ir ver. Vale mesmo a pena. Se porventura forem a Londres ou Nova Iorque (sim, também há por aqui leitores viajados), poderá ser uma opção ir ao teatro ver esta peça, se por lá ainda estiver em exibição. Com efeito, nessas cidades, uma peça que esgota salas não sai de cena assim, pois não?

Mais cinema

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(de volta ao Photobucket)
Este fim de semana fui parar à sala do Little Miss Sunshine (traduzido para um inenarrável "Uma família à beira de um ataque de nervos"), apenas porque era o único filme que no Monumental começava às oito da noite. Não tinha lido u visto alguma coisa sobre o filme. Do cartaz apenas reconhecia alguns dos actores e encontrava a referência a ter o filme ganho o festival de cinema independente de Sundance.
E que surpresa tive eu.
Junte-se uma família disfuncional numa carrinha VW "pão-de-forma" e veja-se o que acontece aundo o texto é excelente, a realização segura e as interpretações de alto nível.
Nesta família o pai está convencido que é um vencedor e que descobriu "a pólvora" com um método de nove passos para o sucesso. O seu pai, o avô, é viciado em heroína, consome pornografia em barda e tem a linguagem de um carroceiro. O filho fez um voto de silêncio até entrar na academia da Força Aérea. Enquanto não pilota jactos de combate, treina e lê Nietzche.
A sua irmã, a mais nova, sonha ser Miss. A mãe tenta gerir a família, mas entretanto alimenta-a todos os dias com frango assado comprado . Pelo meio luta com falta de dinheiro. O seu irmão, o tio, tentou suicidar-se.
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E mais não conto. A não ser dizer que, quando no final vemos a carrinha a afastar-se estrada fora achamos que ainda é cedo. Queremos saber mais, saber o que se vai passar agora com aquela gente, agora que falharam mais uma vez, mas no falhanço encontraram algo de novo e forte. Será que alguma vez vencerão? Será que esta sensação de que algo poderá ter mudado nas suas vidas é real?
O filme não responde, mas deixa-nos sonhar. Com o fim mais cor de rosa que quisermos. Ou negro como o carvão. Todo o humor do filme é assim. Faz rir, mas deixa um travo azedo na boca.

Actualizando (aos poucos porque o blogger comeu-me um post inteiro)




A semana passada fui ver o World Trade Center do Oliver Stone e, porque queria pôr umas fotos neste post não o consegui fazer por misteriosas motivações das máquinas informáticas.



Agora ficar-me-ei pela introdução do poster.
Quanto ao filme...
Não é, felizmente, um filme para arrasar audiências. Não é um filme polémico como o Oliver Stone nos habituou com Salvador, Platoon ou JFK, ou mesmo o provocador Natural Born Kilers. WTC é um filme sobre o 11 de Setembro que nos mostra um pouquinho apenas do que se passou naquele dia, sempre centrado à volta das duas personagens que ficaram soterradas nos escombros e foram das poucas a ser libertadas com vida.
De forma clara e segura, Stone relata-nos o horror por que passaram esses dois polícias, e relata-nos o drama das suas famílias. Acontece que a encenação criada reduz a profundidade dos personagens, quem sabe se, por se basearem em gente real, viva, ficaram os actores limitados na sua criação. Mas o que é certo é que o filme "apenas" conta a história.
Ao sair da sala sentia o peso da fantástica recriação do WTC e da sua derrocada. Fui sensível à emoção impingida pelo desenrolar dos eventos. Mas não me senti próximo dos personagens. Nesse aspecto, WTC não chega a ser intimista. Por isso ficou aquém das minhas expectativas.
Mas também vos digo que numa boa sala de cinema, com grande écran e um forte dolby surround que até faça estremecer a cadeira, o momento em que a primeira torre cai é, verdadeiramente, esmagador.

12.10.06

Isto não está bom

O meu acesso à net, no trabalho, não anda bem. Não consigo postar em condições. O Zapp não está em minha casa...
Espero por melhoras para postar de jeito.

10.10.06

Souto Moura

Enquanto Souto Moura se afasta das funções de PGR ao fim de seis anos de conturbado exercício, parece desporto nacional responsabilizá-lo por todos os males, apontando o seu substituto como o supremo salvador da Justiça portuguesa.
Este meu texto destina-se exactamente a expressar posição contrária.
Souto Moura teve falhas e defeitos enquanto PGR. A começar pela facilidade com que se deixou enredar nas rasteiras da comunicação social, simplesmente porque não soube estar calado quando tal se justificava. E passando por alguma falta de controlo hierárquico, não relativamente ao magistrado do MP na comarca, mas ali naqueles cargos intermédios de grande responsabilidade, tanto mais que são o elo de ligação entre a cúpula e as bases.
Mas Souto Mouro conseguiu nestes seis anos algo de muito, mas mesmo muito relevante: incomodou quem não estava habituado a ser incomodado.
Talvez não se recordem mas antes de Souto Moura o PGR era Cunha Rodrigues. Também este PGR foi particularmente atacado quando a magistratura que dirigia apontou batarias aos "intocáveis" (recordem Melancia, Leonor Beleza, Torres Couto...). Apesar de ter sido consensual, no final do seu mandato Cunha Rodrigues tornara-se incómodo e, por isso, a sua substituição por Souto Moura, pessoa de trato afável e apenas motivada pelo Direito (com o correr do tempo Cunha Rodrigues já era visto como um actor político) pareceu adequada e direccionada a serenar ânimos e dar descanso aos novos alvos da mira judiciária.
Errou quem assim pensou.
Souto Moura manteve o MP empenhado em perseguir a criminalidade mais gravosa, de maior impacto e de mais difícil investigação. Nem sempre tal opção foi bem executada, mas a determinação existiu. E os meios começaram a ser carreados para melhores resultados.
A criminalidade "menor" passou a ser encarada com mais celeridade, menos investimento pessoal e material e ainda assim a ser mantida sob controlo. Reduziu-se drasticamente a investigação do tráfico de droga de rua, do traficante-consumidor, e investigou-se muito mais e com melhores resultados o tráfico nos degraus acima da cadeia de traficância. Olhou-se a criminalidade económica e novas formas de praticar crimes. E entrou-se em campos em que os políticos navegavam com à-vontade, perturbando o estado de graça de quem vivia habituado aos "esquemas". Assim como se revelou um sórdido mundo relativo ao tráfico de influências (vide Casa Pia).
Por isso Souto Moura é agora alvo de críticas a tordo e a direito, ou antes, à esquerda e à direita.
Mas Souto Moura não vergou a espinha, e foi um espinho para quem o julgava apenas uma flor de cheiro.
Agora vem Pinto Monteiro.
As loas que recebeu de toda a parte fazem desconfiar. Mas acredito que a vida não vai ficar mais fácil para aqueles que provavelmente julgam que uma nova direcção irá manietar a investigação. Porque a podridão é tão grande que acaba sempre por cheirar mal. E o PGR só tem duas opções: ou desata a fazer limpezas ou apodrece também.
Agora toda a gente fala de corrupção. De ânimo leve dizem que no futebol, nas autarquias, nos corredores do poder está tudo minado pela corrupção. Mas depois estendem a mão aos Isaltinos, às Felgueiras, aos Judas, aos Loureiros e Pintos da Costa, dizendo-os injustiçados e vítimas de um sistema persecutório.
Num país em que a opinião pública é fabricada nos meios de comunicação social que se citam mutuamente e alimentam polémicas que impingem ao cidadão cada vez menos esclarecido e satisfeito apenas por alguém lhe dizer o que falar e sobre o que falar nas conversas do dia-a-dia, é ingrata a posição daqueles que aindam acreditam nas instituições e as procuram pôr a funcionar democraticamente, ou seja, de forma igual para todos.

9.10.06

Alvo em movimento



É com alguma perturbação que oiço as notícias de gente alvejada pela GNR. Não por terem sido alvejados. Não. Mas pela vitimização dessas pessoas que, ao que tudo indica, desrespeitaram a autoridade policial não parando os carros que conduziam quando tal lhes foi ordenado e, uma vez começada a perseguição policial a prolongaram, assumindo comportamentos de risco para os agentes perseguidores e para todos os utentes da via pública.
A polícia tem armas!
Toda a gente sabe que a polícia tem armas!
E porquê?
Porque a polícia tem autoridade. Tem autoridade, por exemplo, para mandar parar. E se nada devemos, nada tememos. Logo, paramos.
O que se vê em comum nestes casos é o desrespeito pela autoridade policial e a vitimização por ter a polícia usado dos seus meios para exercer a sua autoridade e impedir o perigo para a sociedade.
Gente distraída não corre o risco de ser alvejada. Porque se não se aperceber da ordem de paragem também não enceta uma fuga. E mais adiante acaba por parar. Quem foge, habilita-se a ter uma reacção porporcional por parte da entidade policial que, SIM, TEM ARMAS e pode vir a dispará-las. Obviamente que alvos em movimento são mais difíceis de atingir e a lei das probabilidades vai no sentido de que os projécteis que atingem pessoas escolhem os locais mais sensíveis para se alojarem.
É, por isso, totalmente tonta a ideia que se pretende passar de que os agentes policiais são assassinos descontrolados ou incapazes com armas na mão.

Senhor Inspector-Geral da Administração Interna... não fique admirado se, apesar de todos os seus esforços, o número de incidentes com armas de fogo aumentar na actividade policial. Quem está de olhos abertos percebe que a quebra da autoridade se traduz num maior número de actos de desrespeito e agressão que vão exigir reacções que poderão envolver tiros. É a lei da proporcionalidade. E se a autoridade vem minada desde o berço, pois os pais não podem ou não querem exercê-la sobre os filhos, os professores são agredidos nas salas de aula, e os polícias desrespeitados na rua, os juízes na praça pública, o cidadão comum em toda a parte (seja o transporte público, o cinema, a loja, o restaurante ou a fila do supermercado) algo vai mal na nossa sociedade.

Não sou particularmente securitário, defensor de um Estado policial. Mas não tenho tolerância para esta vitimização do bandido, do violador da lei e da culpabilização de quem tem que agir no terreno em defesa de todos nós.

2.10.06

Supremo Tribunal de Justiça

QUEM TEM MEDO DE NORONHA DO NASCIMENTO?
Foi eleito presidente do STJ o Conselheiro Noronha do Nascimento. Pelos vistos o senhor é temido pelo poder político. Porque é que penso assim? Ora vejam.
Muito antes desta eleição, quando se perfilou a sua recandidatura (da primeira vez saíu derrotado), começaram logo a correr páginas e páginas de jornal com artigos de opinião a defender a alteração das regras da nomeação do presidente do STJ, com argumentos que simplesmente se poderiam ler como "assim elegem o Noronha do Nascimento". Sim, porque na eleição anterior, em que se apresentou como candidato para ser derrotado (e foi por pouco) não se ouviram tais reservas.
Tentaram, os poderes que conseguem penetrar na imprensa e fazer publicar notícias (alguém duvida que os partidos políticos, sejam eles governo ou oposição se incluem nesta classe), boicotar a eleição deste Conselheiro. Mas ninguém apareceu para fazer frente nesta eleição a não ser um arremedo derrotado à partida do então ainda apenas Conselheiro Pinto Monteiro, figura que entretanto se viu lançado como novo PGR.
Perante tal cenário, logo que se deu a eleição, surgiram as mais estranhas manifestações na imprensa. O Correio da Manhã pôs como chamada de capa a notícia de que Noronha do Nascimento foi eleito contra a vontade de 19 Conselheiros. É a velha questão do copo "meio cheio - meio vazio". Noronha do Nascimento teve 53 votos favoráveis, ou seja, uma legitimidade eleitoral de 73,6%. Estranha forma de noticiar
No DN e no JN também apareceram alguns artigos de opinião a questionar a eleição. Como se de repente a figura do Presidente do STJ fosse a figura do demónio. Até hoje ninguém se lembrara dele. Porquê agora? Talvez porque Noronha do Nascimento, quando ouvido por jornalistas, se bate de igual para igual e não se deixa levar pelas manhas dos entrevistadores. Poruqe em debates com políticos os consegue desarmar. Porque quando discursa não se coíbe de aflorar os assuntos polémicos, criticar ou sugerir rumos decisórios mostrando o que está errado. Se bem que me lembro de o ouvir apontar igualmente o que está correcto. Pena é que seja tão pouco.
Mas, voltando à imprensa, pior que tudo só mesmo o ignorante e ofensivo editorial do Público, em que José Manuel Fernandes está abaixo do nível de Luis Delgado quando este defendia Santana Lopes e era atacado por todos os lados. Parece agora que ninguém aponta o ridículo deste director de jornal, cada vez mais alucinado, e a fazer os favores a... a quem lhos pede. É facil perceber a quem interessa tamanha barbaridade. Para que percebam o que digo aqui fica a ignomínia. E reparem como se quer reacender a "luta" entre a Judicatura e o Ministério Público, dividindo para reinar. Vamos a ver se o agora louvado novo PGR ainda será defendido daqui a 6 meses.
Vejam então o dito editorial:
A ESTRATÉGIA DA ARANHA
José Manuel Fernandes, Público 29 de Setembro de 2006

“Querem um símbolo, um expoente, um sinónimo, dos males da justiça portuguesa? É fácil: basta citar o nome da Noronha de Nascimento e tudo o que de mal se pensa sobre corporativismo, conservadorismo, atavismo, manipulação, jogos de sombras e de influências, vem-nos imediatamente à cabeça.O juiz - porque é de um juiz de que se trata - é um homem tão inteligente como maquiavélico. Anos a fio, primeiro na Associação Sindical dos Juízes, depois no Conselho Superior da Magistratura, por fim no Supremo Tribunal de Justiça, esta figura de que a maioria dos portugueses nunca ouviu falar foi tecendo uma teia de ligações, de promiscuidades, de favores e de empenhos (há um nome mais feio, mas evito-o) que lhe assegurou que ontem conseguisse espetar na sua melena algo desgrenhada a pena de pavão que lhe faltava: ser presidente do Supremo Tribunal de Justiça. O lugar pouco vale (quem, entre os leitores, sabe dizer quem é o actual presidente daquele tribunal, formalmente a terceira figura do Estado?). Dá umas prebendas, porventura algumas mordomias, acrescenta uns galões, mas pouco poder efectivo tem.O problema, contudo, reside neste ponto: tem, ou terá? Os senhores juízes, que aqui há uns tempos se empenharam na disputa com o Tribunal Constitucional para saber quem era hierarquicamente mais importante (ganharam os do Supremo a cadeira do protocolo, deram aos do Constitucional a consolação de terem ao seu dispor um automóvel topo de gama...), nem sequer são muito respeitados. Por sua culpa, pois sabe-se que alguns passam pela cadeira do Supremo apenas uns meses e para engordar a sua reforma. O presidente daquele agigantado colégio de reverendíssimos juízes pouco poder tem tido, só que Noronha de Nascimento apresentou-se aos eleitores - ou seja, aos seus pares, aos que ajudou a subir até ao lugar onde um dia o elegeriam - com uma espécie de programa que arrepia os cabelos do mais pacato cidadão.O homem não fez a coisa por pouco: ao mesmo tempo que vestiu a pele do sindicalista (pediu que lhe aumentassem o salário e que dessem menos trabalhos aos juízes...), pôs a sobrecasaca de subversor do regime (ao querer sentar-se no Conselho de Estado) e acrescentou o lustroso (pela quantidade de sebo acumulado) chapéu do "resistente" às reformas no sector da justiça.Se era aconselhável que um presidente do Supremo Tribunal desse mais atenção a Montesquieu e ao princípio da separação de poderes do que à cartilha da CGTP, Noronha de Nascimento fez exactamente o contrário. Reivindicou como um metalúrgico capaz de ser fixado para a posteridade numa pintura do "realismo socialista" e, esquecendo-se de que é juiz e representante máximo do "terceiro poder", o judicial, pediu assento à mesa do "primeiro poder", o executivo. É certo que o poder do Conselho de Estado é tão inócuo como o penacho de ser presidente do Supremo Tribunal, só que a reivindicação contém em si duas perversidades. A primeira é ser sinal de que Noronha de Nascimento se preocupa mais com o seu protagonismo público do que com os problema da justiça. A segunda, bem mais grave, é que o homem se disponibiliza para ser o rosto de uma fronda dos juízes contra as decisões reformistas do poder político, neste momento objecto de um consenso alargado entre o partido do Governo e a principal força da oposição.É tão patético que daria para rir, não estivéssemos em Portugal e não entendêssemos como funcionam as estratégias das aranhas. O homem, creio sem receio de me enganar, é tão inteligente e habilidoso como é perigoso. Até porque tem já um adversário assumido: o novo procurador-geral da República, Pinto Monteiro, um dos raros que tiveram a coragem de lhe fazer frente.”