23.10.06

A Dália Negra



Antes de ver o filme já tinha lido o livro, bom companheiro há um par de anos durante os almoços em dia de trabalho. Se há coisa que não gosto é de estar no restaurante sózinho sem nada para fazer, pelo que o jornal ou um livro me costumam acompanhar. Foi assim que li A Dália Negra, de James Elroy, obra muito completa, complexa, mas escrita com frieza, dureza, e muita, muita crueldade. Os personagens de Elroy (como em L.A. Confidential ou O Grande Desconhecido) são sempre pessoas duras, extremamente determinadas, com sentimentos confusos e relações pessoais vulcânicas, ou seja, com frequentes abalos telúricos e sempre à beira da erupção.

O filme de Brian de Palma é muito agradável mas para quem não leu o livro será, seguramente, difícil de acompanhar pois o realizador não simplificou a dificuldade da história original. O mistério adensa-se, as personagens somam-se e as relações entre elas, que nas páginas de um livro podem ser cuidadosamente escalpelizadas, na tela têm que se intuir mais do que ver explicadas.

Não obstante, reconheço neste filme um excelente trabalho de adaptação, de realização e recriação do ambiente desenhado por Elroy. Há, contudo, um aspecto que me deixa desconfortável: o actor principal Josh Hartnett, na pele de Dwight "Bucky" Bleichert. Porquê? Porque é muito "bonitinho", muito "limpinho". Das páginas do livro trazia a imagem de um tipo mais bruto, mais rude, mais inadaptado a Kay Lake, aqui interpretada por Scarlett Johanson. Um pouco como Russel Crowe aparecia em L.A. Confidential. Ao invés, Hartnett passeia pelo filme como um modelo faltando-lhe o poder de impacto que reconhecia ao seu personagem. Erro de casting? Talvez a indústria assim não ache.

Em todo o caso este pormenor não desvirtua o bom pedaço de cinema que é o filme Black Dahlia, que se vê com prazer e se recomenda.

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