O Camarada Barreirinhas, Álvaro Cunhal para muitos, "Lã Branca" para alguns, o Manuel Tiago da literatura finou-se na noite de Santo António. Com 91 anos, cego de uma vista e com pouca visão da outra, dizem os próximos que ultimamente já não conseguia dedicar-se às actividades predilectas da sua reforma: a leitura, a escrita e a pintura.
Fica na história pelo seu papel na 2ª década do século XX. Enaltecido pela sua "coerência" onde só vejo casmurrice e falta de abertura à vertiginosa evolução do mundo actual, Álvaro Cunhal foi capaz do melhor e do pior no PREC. E nos primeiros anos da democracia portuguesa.
Felizmente tivemos um Cunhal. É de equilíbrios que se faz a estabilidade e progressão democrática. Por isso, foi bom tê-lo ao comando do PCP quando o país navegava à vista, sujeito às pressões da extrema esquerda, da extrema direita, do centro, do capital.
No dia anterior ruiu a Muralha de Aço. Vasco Gonçalves, de 83 anos, nadava numa piscina de familiares quando se sentiu mal e se apagou. "Pai" das nacionalizações e mentor de vários governos num só ano, foi o exemplo típico do desnorte que se seguiu ao 25 de Abril. Também para o Camarada Vasco fica o lugar na história do PREC.
No campo das letras, Eugénio de Andrade, também octagenário, após anos de doença, escreveu o seu último poema. Não sou especial apreciador da sua poesia. Mas reconheço-lhe a qualidade reservada aos poucos que a História guarda. A sua obra garante-lhe a perpétua memória.
A todos o tempo apanhou. Todos viveram muitos anos, podendo contribuir para o mundo com a plenitude das suas forças.
No campo dos eventos que merecem uma palavra, falta falar do "arrastão" que envolveu cerca de 500 indivíduos na praia de Carcavelos. É preocupante, sem dúvida, quando grupos de origens tão distintas geograficamente, mas tão iguais sócio-economicamente, têm a mesma iniciativa. Como combater este fenómeno?
Seguramente sem alarmismos, e com a cabeça, não com o coração.
Voltarei ao tema, oportunamente.
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