29.2.08

O intruso

Foi assim que foi qualificado por muita gente este filme, por ter sido um dos nomeados ao Oscar de melhor filme. Tudo porque é mais uma produção independente do cinema norte-americano, com reduzido investimento em técnica, e um grande investimento no texto, na interpretação e na intensidade da mensagem.
Assim como o ano passado vibrámos todos com a saga de uma família destroçada em "Little Miss Sunshine", este ano a história que surpreendeu anda à volta de uma rapariga de 16 anos que inesperadamente engravida e não consegue "resolver o assunto" como no seu meio é costume. E avança com a gravidez para entregar a criança um casal do subúrbio endinheirado, onde a vida limpinha e regulada com o chapéu-de-chuva da advogada que assegura a legalidade de uma existência escondem gente igualmente comum, com problemas, dúvidas, e assuntos por resolver.
Pelo meio o humor suave mas incisivo acomoda-se no fio condutor da história que tem uma mensagem a transmitir, afastando-se de qualquer exercício oco de cinematografia. Talvez por isso o Oscar de melhor argumento original tenha premiado Diablo Cody, a escritora deste "Juno".
O filme fica aquém do brilhantismo que em tempos apontei ao aqui já citado "Little Miss Sunshine", mas deixa-nos nas entranhas uma agradável satisfação, muito semelhante ao "Garden State" de Zach Braff, do qual em tempos também aqui falei. Gostaria de distinguir a nota relativamente ao primeiro, mas isso implicaria ficar aquém das 5 estrelas, e 4 é manifestamente pouco para este trabalho. Por isso, nota cinco, é o que é!

26.2.08

Eles comem tudo, e não deixam nada

"A Caixa Geral de Depósitos reconheceu nas contas do ano passado um prejuízo de 89 milhões de euros decorrente da exposição ao crédito de alto risco(subprime). Esta perda, que representa cerca de 0,3% da carteira de investimentos, foi compensada por outros ganhos e não impediu o banco público de apresentar ontem lucros recordes de 856,3 milhões de euros, mais 16,7% que em 2006.", diz o DN. Mais à frente, noutra página, anuncia que a CGD vai aumentar os custos do crédito porque tem que aumentar receitas. Na primeira página dizem que a média diária de ganhos dos bancos portugueses foi, num único bolo, de 7,9 milhões de euros.
Até onde vai a gula destes vampiros?
É obscena a forma como os bancos tratam os seus clientes para engordar números que são irreais e ferem a sensibilidade de quem, com dificuldades para pagar os seus encargos, vê o empréstimo à habitação subir 20, 30, 50 euros por mês.
Ao lado dos bancos estão as seguradoras.
São dois exemplos da corja empresarial que domina a sociedade actual e escraviza todos os que trabalham para engrossar o caudal de chorudos ganhos que depois são "investidos" em divertidos jogos de fortuna e azar conhecidos por Bolsa. 
Vampiros...

25.2.08

Oscars de 2008

Uma lista informativa para quem não quer perder tempo à procura:
Melhor filme: No Country for Old

Melhor realizador: No Country for Old Men

Melhor actor: Daniel Day-Lewis, There Will Be Blood
Melhor actriz: Marion Cotillard, La Vie en Rose
Melhor actor secundário: Javier Bardem, No Country for Old Men
Melhor actriz secundária: Tilda Swinton, Michael Clayton
Melhor argumento adaptado: No Country for Old Men
Melhor argumento original: Juno
Melhor filme estrangeiro: The Counterfeiters
Melhor filme de animação: Ratatouille
Melhor documentário (curta metragem): Freeheld
Melhor documentário: Taxi to the Dark Side
Melhor curta-metragem: Le Mozart des Pickpockets (The Mozart of Pickpockets)
Melhor curta-metragem de animação: Peter & the Wolf
Melhor tema musical: Once
Melhor banda sonora: Atonement

Efeitos especiais: The Golden Compass

Melhor guarda-roupa: Elizabeth: The Golden Age

Melhor Caracterização: La Vie en Rose

Melhor direcção artística: Sweeney Todd The Demon Barber of Fleet Street

Melhor mistura sonora: The Bourne Ultimatum

Melhor edição sonora: The Bourne Ultimatum

Melhor edição: The Bourne Ultimatum

Melhor cinematografia: There Will Be Blood

Sangue e petróleo

Em dia de Oscars fui ver este filme de Paul Thomas Anderson e que gira à volta da vida de um pioneiro da exploração petrolífera nos EUA. À sombra do "derrick" Daniel Day-Lewis envelhece, vencendo contrariedades e expondo um personagem forte, determinado e com um curioso e discutível sentido de moral.
O filme gira à volta da interpretação que garantiu ao actor o Óscar de melhor actor principal, num tom algo excessivo como a filmografia americana gosta. Mas o argumento não é particularmente rico, e esgota-se no personagem, esticando-se para encher as duas hora e meia de filme.
Não obstante a realização segura e criativa, com alguns planos soberbos, a própria recriação da época parece demasiado limpa, demasiado cinematográfica. Talvez porque não consegui deixar de fazer a comparação com os ambientes da série de televisão, da qual já aqui falei, "Carnivale".
Para o estilo de filme, limito-me a dar a mediana nota 3, porque não foi filme que me encantasse.
Registe-se a interpretação de Paul Dano, que se nos revelou no "Little Miss Sunshine" e agora está a confirmar-se como um novo nome para explorar um grande potencial.

22.2.08

IKEA

O IKEA vai vender automóveis. Fáceis de transportar, montar e usar. Para clientes habituais e habituados.

(Recebi esta por e-mail e não resisti)

21.2.08

E o ladrão sou eu?



Consta que o BES, banco do qual, avisadamente, não sou cliente, cobra € 100,00 (cem! euros) de taxa pelo encerramento de uma conta.

Ninguém sai da "famiglia" assim tão facilmente. E se não tiverem dinheiro para encerrar a conta, ficarão com ela a acumular despesas de manutenção... tipo rendimento fixo do banco até que decida cobrar a quantia, quem saiba recorrendo aos Tribunais...

Se eu não me mexesse, se eu não saísse do colchão...

Causas e consequências

António Costa foi o Ministro responsável pela Lei que impede as autarquias de contraírem empréstimos excepto em circunstâncias muito precisas e restritas. Agora vê-se impossibilitado de contrair o empréstimo que precisa para pagar dívidas antigas. De acordo com o Tribunal de Contas, terá que pedir ao Governo dinheiro para o efeito.
Qual a diferença entre a CML e outras autarquias, algumas já com penhoras, que justifique o pagamento de apenas algumas das dívidas? Se calhar nenhuma. Como descalçar esta bota? Logo veremos.
*
Numa altura em que clamar contra a corrupção é moda e fica sempre bem o PSD foi condenado, assim como a Somague, por financiamento ilícito de campanha. A clareza dos financiamentos dos partidos tem os seus custos. Mas seria bom esclarecer os ganhos destas entidades quando "investem" tanto dinheiro num cavalo pronto para correr. Como são pagos os benefícios do investimento?
Entretanto, o PSD vê-se numa posição bem atrapalhada. Seguramente que o PS está no mesmo barco. É assim que o jogo dos lobbies funciona.
*
Quando chove muito, temos o caos. Porque será? Rapidamente governo e autarquias empurram responsabilidades. Como um amigo arquitecto está sempre a apontar-me, impermeabiliza-se terreno a torto e a direito e constroi-se em cima de linhas de água. Se não há terra que absorva a água, esta corre sobre as superfícies impermeabilizadas até encontrar o seu destino. Cimento, betão, pedra e alcatrão não absorvem a água destas chuvas. Apenas a canalizam para os pontos fracos, os obstáculos onde se acumulam enchendo, enchendo, enchendo.
De quem é a culpa?, minha não é certamente. Mas será de todos os que autorizam tais construções, todos os que as fazem, todos os que as exigem e louvam como marcos de progresso.
*
Estamos a um ano e meio das próximas eleições legislativas, e já o tema começa a ser lançado pelos media. Quer isto dizer que governação e oposição começam a ser feitas, cada vez mais, com vista ao voto. Diz-se que uma das primeiras vítimas será o novo mapa judiciário, pois o PSD quebrou o pato da justiça, perdão, o pacto da justiça opondo-se a semelhante desenho para os Tribunais. Os municípios já vieram clamar contra. Todos estes valem votos. A opinião dos operadores judiciários, igualmente contra, é irrelevante. Mas os votos que se podem perder poderão engavetar a ideia peregrina e mal estudada deste Governo.
Há males que vêm por bem.
*
Numa altura em que este blog tem mais leitores e acessos do que alguma vez teve, porto-me mal e pouco escrevo. Além do mais, cada vez mais venho aqui para me queixar. Isto só pode querer dizer que estou a tratar mal os meus leitores. Isso não se faz.
Prometo tentar arranjar mais tempo e ter textos de melhor qualidade, sem ser com opiniões políticas e judiciárias. Se não, já sei que ainda me mandam dar uma curva.
Causas e consequências...

20.2.08

Traição

Vim blogar só para dizer qualquer coisa. Estiquei-me e escrevi muito aqui no blogger,o que não costumo fazer, pois quando quero escrever textos grandes faço-os no word e copio-os para aqui.
E porquê?
Para não perder tudo como acabou de acontecer.
Volto quando estiver mais bem disposto.

15.2.08

Insuflável


Esta semana descobri esta pequena maravilha. Chama-se SmartKat e é um catamarã à vela equipado com cascos insufláveis que é transportado e guardado em dois sacos com 1,80 metros de comprimento e 30 cm de diâmetro, cada um com apenas 20 quilos.  Estes sacos transportam-se facilmente no tejadilho do carro e arrumam-se em qualquer canto lá de casa. Demora 20 minutos a montar (com bomba de ar) e dizem que atinge os 18 nós (cerca de 32 km/h). Em Portugal custa qualquer coisa como € 4.000,00.
Bem vistas as coisas, não é preciso comprar atrelado, ou ter garagem grande para o guardar, ou marina para o manter ou descarregar, e leva-se facilmente para qualquer lado.
Já me estou a ver nas albufeiras de Portugal, ou nos rios mais largos a passear nisto. Claro, se alguém que me estiver a ler quiser fazer mecenato e mo oferecer. Eu prometo convidar para um jantar de agradecimento :0))

12.2.08

A passo de caracol

Enquanto lia o DN ao almoço deparei-me com a acertada opinião de que é incrível o papel dos advogados no processo Apito Dourado (v. 1.0) que saíram da primeira sessão de julgamento queixando-se de que o processo estava a andar demasiado depressa (!!?) e que com quatro dias de julgamento por semana não conseguiam preparar as sessões.
Dizer que um processo que leva quase quatro anos está a andar depressa é manifestação clara de que, no nosso país, são as defesas que protelam o mais possível o desenrolar dos julgamentos, escudadas numa lei ineficaz que, sob o escudo das "garantias de defesa", torna quase impossível fazer justiça em tempo útil. Quanto à preparação das sessões... então os excelsos advogados ainda não têm tudo preparado? E o que cobram não lhes permite trabalhar no duro no resto do tempo da semana? É que a semana tem o mesmo número de dias para os juízes e procuradores...
Cada vez menos ando de carro no dia-a-dia, circulando, isso sim, de metro ou de autocarro. É impressão minha ou está mais acentuada a utilização dos transportes públicos, excepto nos dias próximos do fim/princípio do mês, altura em que haverá dinheiro para a gasolina. É que nas ruas da cidade também fico com a ideia que, tirando ali dez dias à volta do ordenado, vai havendo menos automóveis a circular e trânsito mais fluido.
Pde ser apenas impressão minha e tudo não evidenciar senão melhores vias de acesso e mais gente a vir para Lisboa, inclusivamente de transportes públicos.

11.2.08

Há dias assim

O dia acordou com o atentado às figuras de Estado em Timor-Leste. Fracassado relativamente ao primeiro-ministro Xanana Gusmão, mais duvidoso quanto ao presidente Ramos Horta, este a merecer especiais cuidados médicos.
Uma Nação que tanto passou sob o jugo indonésio, almejando a independência, vem sucessivamente ameaçando desperdiçar as conquistas que a fizeram nascer aos olhos da comunidade internacional. Num país tão pequeno, com população reduzida em número, é facil um pequeno grupo ser arregimentado e pôr em causa a existência do país, perturbar o funcionamento das suas instituições, criar a anarquia que abrirá as portas à entrada de outros senhores, outros poderes, que com mão de ferro e desculpando-se na instabilidade existente, venham subjugar de novo a população timorense.
Uma coisa é certa: só acontecem coisas destas porque por trás está gente ávida de poder ou de dinheiro, ou de poder e de dinheiro porque hoje em dia dinheiro ainda dá poder e o poder dá muito dinheiro.
E tudo o mais são bonitas utupias idílicas nas quais os Homens agem contra a sua natureza, esquecendo-se de qunato gostam de ser mais que os outros. E entre a gente vil sempre passeará a gente subjugada, ou sofredora, ou indiferente, boa ou simplesmente sobrevivente. E os vilões mostrar-se-ão, à luz da sua escala, pelas acções que promovem. Sejam elas matar um presidente ou roubar um saco de berlindes ao colega da escola.
Hoje vejo o Mundo através de óculos muito escuros. Há dias assim.

8.2.08

Balanescu Quartet

Ontem, no CCB, assisti a um fantástico concerto do Balanescu Quartet, em mais uma iniciativa da Incubadora D'Artes. Há muito tempo que não assistia a uma performance tão arrebatadora, tão intensa, capaz de fazer vibrar cá dentro emoções muito variadas, conduzindo-me a uma apoteose de satisfação ao fim da hora e meia de espectáculo. Cliquem no link que deixei acima, depois cliquem na imagem, e oiçam um pouco. Oiçam dois violinos, uma viola e um violoncelo que juntos nos transportam a cenários, paixões, angústias e prazeres como só a música bem composta e interpretada consegue fazer.
Comprei dois dos seus CD's, que ao intervalo voavam que nem pãezinhos quentes porque a assistência, que enchia mais de meia casa, estava rendida ao que vira na primeira parte.
E, se mais gente havia como eu, que desconhecia por completo o grupo e a sua música e só ali fui parar por convite de última hora, seguramente estavam tão arrebatados quanto este Urso Polar pelo choque com aquele intenso e vibrante som.

6.2.08

Angústia de um erro

Este é mais um filme de extrema sensibilidade sem com isso cair na lamechice, fruto de uma cuidada realização digna de destaque. É perfeccionista na imagem, nos enquadramentos, na luz e na forma de pôr em cena toda a acção, todo o jogo temporal com curtas analepses e oportunos saltos para o futuro expondo toda a narrativa e densidade dos personagens, suas angústias e motivações. As interpretações são convincentes pelo empenho evidente dos actores que merecem destaque por aquilo que conseguiram alcançar neste filme que se arrisca a ficar para os anais do cinema como em tempos recentes ficaram "África Minha", ou "O Piano".
Não percam num grande écran mais uma nota cinco cinematográfica, porque guardá-lo para o televisor lá de casa é um desperdício. Este filme exige, não só a tela de grandes dimensões, como o escuro de uma cadeira de cinema, e o passeio para casa no fim da projecção, pensando ou discutindo aquilo que se viu.

4.2.08

Fantasias


(fotografia de m.)

Numa montra aqui perto de casa, tudo está preparado para um grande Carnaval. 

"At last, my arm is complete"

Para que não existam confusões, avisem-se os mais distraídos: Sweeney Todd é um musical. Quer isto dizer que a maior parte do filme é cantada, que os actores se expressam naquelas cantorias americanas da Broadway, e do clássico filme musical dos anos cinquenta de Hollywood.
É isso mau? Bom, se o filme não fosse de Tim Burton ou não tivesse litradas de sangue eu era capaz de ficar arrepiado com o conceito do filme musical. Nunca foi um estilo que apreciasse e, até ao "Chicago", não me sentia inclinado a ver qualquer filme musical ("Toda a gente diz que te amo", de Woody Allen não conta, porque é mais Woddy que musical, não é?).
Porém, como disse, "Chicago" abriu-me os horizontes para o filme musical, que agora já não é uma realidade a negar à partida, mas sim a investigar com curiosidade.
Por outro lado, Tim Burton é um dos meus realizadores favoritos e não me lembro de nenhum filme dele que me tenha desagradado. A história, sobejamente conhecida, do sanguinário barbeiro de Fleet Street prometia hemoglobina q.b. e aquela dose do lado negro para afastar as flores e os passarinhos que o meu imaginário costuma associar sempre aos musicais. Johnny Depp e Helena Boham Carter davam a segurança que Burton costuma reunir ao escolher os seus elencos. Por isso, tudo se conjugava para um filme que, pelo menos, não me iria incomodar.
E não incomodou... aborreceu ou desiludiu. Sweeney Todd tem uma estética irrepreensível, uma realização dinâmica que combina cenários e criações digitais para nos transportar para a fétida Londres de meados do Séc. XIX e nos introduzir de forma cúmplice na insensata vingança planeada pelo terrível barbeiro.
Não há ali lições de moral, e a única certeza é que morrer pode ser muito fácil, especialmente se nos cruzarmos com as lâminas de prata deste barbeiro animado pela bilis da ira e da vingança. As músicas são negras como o filme, as letras de métrica difícil mas ritmada e saímos da sala cantarolando golpes na garganta e jorros de sangue, ansiando por comprar a banda sonora.
Conclusão: é, sem dúvida, um filme para não perder, especialmente enquanto está na sala 4 do Monumental, com projecção digital. De entre a filmografia de Burton não é um dos melhores exemplos. Mas a mediania deste realizador corresponde, sem dificuldade, ao melhor cinema que encontramos em exibição.

2.2.08

Sócrates

Não sei o que é pior:
- se a gravíssima incorrecção de assinar os projectos de um amigo que não o podia fazer porque trabalhava na Câmara, e assim ajudar a defraudar a lei;
- se O Público está errado e Sócrates realmente desenhou (?!!) estas casas cujo resultado final é mesmo uma amostra clara daquilo que deveria ser demolido a bem do bom-gosto.

De uma maneira ou de outra, a história de O Público é muito preocupante. E como as explicações de Sócrates são tão atabalhoadas e ocas como um discurso de Bush, acho mesmo que desta feita o jornal desenterrou qualquer coisa bem real.