A mala estava junto à porta da rua, gorda e pesada. A seu lado repousava a velha mochila de campista, cheia de livros até mal fechar. Nas mãos tinha um saco com alguns CD e DVD.
Com uma enorme sensação de vazio percorreu as quatro divisões do pequeno apartamento, em busca do que pudesse ter esquecido.
No quarto despediu-se do velho e psicadélico candeeiro da mesa de cabeceira que comprara na feira da ladra logo após a mudança para aquela casa. Fora comprado para ali, não fazia sentido levá-lo para qualquer outra paragem.
No corredor para a sala viu-se ao espelho e recordou o dia em que o encontraram na defunta Habitat, exposto com aquela marca na moldura, e negociaram a sua compra com um desconto de 40%.
Passou pela sala e percebeu que nunca mais ouviria música pela aparelhagem que já tinha desde os tempos de faculdade. Não era um som muito bom, mas o equalizador que se mexia no visor digital marcara os últimos vinte anos. Precisava esquecê-la, deixá-la para trás. Hoje a sua música cabia toda no iPod que tinha no bolso e se levava alguns CD era só porque tinham uma história para contar ou uma dedicatória pessoal.
No pequeno espaço reservado à função de escritório passou os dedos pelo teclado do iMac e antecipou a compra do seu novo computador, a anos luz daquela máquina branca de agradável desenho.
Encaminhando-se para a saída passou ainda pela cozinha onde pegou na caneca lascada que o alimentava ao pequeno-almoço havia mais de uma década. Enfiou-a no saco, engoliu em seco e partiu.
Tanto tempo reunido em tão poucos pertences.
Enquanto trancava a porta imaginava-se a comprar novas mobílias, novos aparelhos, a encher uma nova casa e suspirou de enfado.
Enfiou a chave na caixa do correio e partiu.
Será que ela conseguiria manter tudo o resto à sua volta?
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