30.9.04

Anos '80 - 80 memórias (6)

Bicicletas chopper e BMX



Nos anos oitententa não havia bicicletas de montanha. Uma máquina com 18 ou 21 mudanças era algo de fantástico e inacessível.
Havia bicletas tipo "pasteleira", como a que tive durante anos; havia as clássicas de corrida; havia as chopper, aquelas cuja roda de trás era maior que a da frente, tinham um guiador alto, comprido, e um banco também ele comprido; e apareceram as BMX.
O conceito das BMX era estranho. Eram máquinas para fazer "cross", mas nem mudanças tinham. Na terra, era só pedalar e ainda disfarçava. Mas o desgraçado que tivesse uma fartava-se de dar ao pedal para acompanhar os outros na estrada.
Nunca tive uma BMX, felizmente, mas houve uma altura que era a minha bicicleta de sonho. Até que um amigo me emprestou uma e eu vi que aquilo exigia que se pedalasse muito para andar pouco. Passei a valorizar mais a minha pasteleira, com roda 26 e três mudanças de cubo, pesada, mas que embalava muito e disfarçava a minha falta de ritmo para acompanhar os mais "pedaleiros".
Aliás, todas as bicicletas "boas" tinham estas três mudanças de cubo e fartavam-se de andar. Melhores, só as de corrida, que se vendiam com duas pedaleiras, ou seja, 10 (!) mudanças.
Andava eu no 9º ano, pelos anos de 1985, quando na escola aconteceu a 1ª corrida de BMX. Nessa altura, numa praceta próxima, tinha aparecido um "half pipe" para umas aventuras de skate (aqueles pequenos, com prancha plástica) e um colega que viera da Bélgica começou a utilizá-lo com a sua BMX.
Foi a loucura, perceber que uma bicileta não tinha que andar com as rodas no chão. Foi o princípio das modalidades que hoje vemos por todo o lado. Foi o fim das chopper, o declínio das pasteleiras. Quando apareceram as bicicletas de montanha, com 18 e 21 mudanças, rapidamente dominaram o mercado. Só as de corrida se mantiveram intocáveis, e cada vez melhores.
As BMX assumiram o nicho de mercado das acrobacias. Sem mudanças, era difícil outra utilização.

29.9.04

Óptica e Química

Desde pequeno que tenho um fascínio pela fotografia. Não sei a razão, se razão existe. Prefiro pensar na fotografia como uma paixão, uma emoção.
Filmes ou séries de televisão em que os personagens fotografassem tinham outro interesse. Se havia trabalho de laboratório, então o encanto era maior. Veja-se, por exemplo, o Blow Up, que há pouco tempo esteve em reposição, em cópia nova, pela Medeia Filmes.
Daí recordar que sempre quis "fazer" fotografias, revelar os rolos de filme, imprimir fotos e ampliá-las.

Os anos passam. Hoje já posso investir parte dos meus ganhos nesta arte. Por isso, numa altura em que os arautos da modernidade lançam prognósticos de morte e extinção da fotografia clássica, nomeadamente a preto e branco, uma vez que somos invadidos pelo formato digital, cada vez melhor, mais barato, mais versátil, decidi fazer um curso de fotografia.
É isso que actualmente faço, no Instituto Português de Fotografia onde frequento o curso básico que ali é ministrado.
Aulas de técnica fotográfica, de composição e de laboratório preenchem o currículo. As mais emocionantes, porque mais práticas, porque assentam na prática de um processo produtivo, são as de laboratório. Se na primeira, em que fiz fotogramas, fiquei muito entusiasmado, ontem, que revelei o meu primeiro rolo, tive uma gratificante sensação de missão cumprida.
Habituados que estamos a entregar um rolo num laboratório e a receber em troco fotografias e o filme processado, perdemos uma série de momentos fantásticos. Ontem, quando ao fim de três horas, cortei a película e a guardei numa folha de negativos, vendo sobre a luz as imagens que recentemente colhera fiquei inchado. Orgulhoso por ter conseguido aprender a fazer aquele milagre. Satisfeito por ver o produto quase final do disparo no obturador.

Estou ansioso por voltar a mexer nos químicos. Por revelar mais rolos. E pôr imagens em papel.

Anos '80 - 80 memórias (5)

Cubo mágico



Não sei se apareceu ainda nos finais dos anos setenta, mas cero é que foi já nos anos oitenta que a moda pegou em Portugal. Não havia cabeça que não perdesse tempo a tentar resolver o enigma. No programa do Júlio Isidro das tardes de Domingo havia concursos em que indivíduos supersónicos resolviam o quebra-cabeças em segundos. Nos pátios das escolas discutiam-se truques. Obviamente que não havia internet para ir procurar as instruções de resolução. Folhas de caderno rabiscadas, com setas para cima, para o lado, para baixo ensinavam as manobras.
O meu primeiro cubo de Rubik era muito pequeno, era um porta-chaves (!). Recordo-me da euforia que senti quando completei uma face, por raciocínio próprio, e me dirigi ao meu pai a dizer "olha, consegui, já está". Quando ele me disse que não era suficiente, que estava bem, mas era preciso completar as outras faces, senti que estava perante uma tarefa impossível.
Mas horas, e horas, e horas de desafio e lá o "2º anel" ficou completo. O último, só mesmo com recurso a instruções.
Como o tal cubo era mínimo o meu pai comprou-me um dos "grandes". Ainda o tenho lá em casa, na prateleira. Hoje, não faço a menor ideia como se conclui o cubo.
E, apesar de ter um livro com as instruções para a sua resolução, de saber onde tais soluções estão, na internet, o desafio não me cativa.

Numa determinada altura, milhares de pessoas deram uso aos seus cérebros para resolver um desafio lógico, matemático. Hoje, é mais fácil carregar em "on" ou "play".

28.9.04

Anos '80 - 80 memórias (4)

ZX Spectrum



Hoje qualquer miúdo vibra com emoções virtuais muito realistas que Gamecubes e Xboxes ou o próprio PC lhe proporcionam. Mas não foi sempre assim.
Em 1982 apareceu o ZX Spectrum. Evolução do Sinclair "qualquer coisa", do qual ainda vi um exemplar, o Spectrum foi o primeiro computador a generalizar-se nas casas portuguesas. Um colega ainda teve a versão inicial, de apenas 16k, mas o mais comum foi a versão com o triplo da capacidade: o 48k.
Nunca tive um destes aparelhos, mas juntos dos amigos ele era comum, e por isso marcou-me, como a toda uma geração.
Foi em 1984 que tive o primeiro contacto com a máquina, em casa de um colega. O primeiro jogo que joguei foi o Jet Set Willy. E que horas de diversão passei teclando naquela caixa preta com teclas de borracha cinzenta, ligada a um pequeno televisor a preto e branco. As teclas tinham inúmeras indicações, pois o basic era a linguagem usada .
Quer isto dizer que, para carregar um jogo ligava-se ao computador um gravador (mono) que usualmente era daqueles rectangulares, com abertura para as cassetes por cima, e aí se colocava a fita onde estava a programação. A seguir, teclava-se load " " enter, às vezes seguido de code e esperava-se.
A música de fundo era igual ao som que hoje ouvimos no telefone se ligarmos para um número de fax. Abelhinas irritantes zuniam enquanto o jogo carregava. Os mais completos, que iam ao limite da capacidade do computador, chegavam a demorar 4 ou 5 minutos a carregar. Se tudo corresse bem, e não fossemos traídos por um tape loading error que nos obrigava a reiniciar o processo, podíamos passar horas agarrados ao aparelho.
Jogos como Penetrator, Jet Set Willy, High Noon, Manic Miner, Chuky Egg, Pac Man, The Way of the Exploding Fist, F1 Manager, Winter, Snooker, com gráficos elementares, preenchiam o universo virtual. Jogos de plataformas, simuladores, estratégia... de tudo havia. Hoje são recuperados para telemóveis.
Com o tempo passando já se podia ir para a sala ligar o computador à televisão "grande". Ganhávamos a cor. Mas, nem assim, a maquineta substituía a vontade de ir para a rua. De viver ao ar livre, ou de, ficando em casa, jogar jogos de tabuleiro, de cartas.
Até que, um dia, deixou de interessar. Tornou-se obsoleto e acabou nas arrecadações e sotãos. Mas uma coisa garanto: o 48k demorou mais tempo a tornar-se obsoleto que um qualquer Pentium III.


27.9.04

Anos '80 - 80 memórias (3)

Relógios digitais, de preferência com máquina de calcular e músicas

Lembram-se dos relógios que se usavam nos anos 80, antes do aparecimento dos Swatch? Pois é, relógios digitais, de preferência com máquina de calcular e músicas, muitas músicas.
Relógios pretos, com revestimento plástico ou de borracha. Números intermitentes, em vez de ponteiros, e músicas. Parabéns, Jingle Bells, Frère Jacques, Hino da Alegria...
Os mais evoluídos até tinham máquina de calcular, com botões minúsculos... um pouco como hoje nos telemóveis.
Foi no início dos anos oitenta que passei a poder usar relógio, que me foi entregue um relógio de pulso, mais velho que eu, para poder seguir as horas e não me atrasar nas escola onde passava a responder a horários variáveis. Contudo, estava sempre a ouvir comentários sobre o meu relógio "à velho", dos outros que tinham as suas máquinas digitais, com pilhas, não carentes de corda todas as noites.
Hoje posso dizer que ainda lá tenho o relógio em casa. Funciona, tem quase quarenta anos, e é uma linda máquina. Quanto aos digitais, dúvido que ainda existam. Certamente foram avariando (sem qualquer hipótese de conserto) ou perdendo o interesse e valor. O lixo deve ter sido o seu destino.
O meu Cauny Prima não terá o mesmo fim.
Hoje, é o total domínio dos Swatch, no pulso de toda a gente.
E foi ainda na década de 80 que apareceram.

Mais do mesmo

José Sócrates foi eleito pelos militantes do seu partido para os liderar rumo ao Governo. Temos mais do mesmo. Mais do estilo Guterres que mal nos conduziu durante os últimos quatro anos dos seis que esteve nos comandos do Poder Executivo.
É curioso, como hoje, aqueles tempos do PS de Guterres me parecem tão bons, comparados com a "excelência" deste PSD governante.

***

À volta do caso do aparente homicídio de uma criança no Algarve voltamos a ter mais do mesmo. As Televisões, ávidas de sangue, abordam o tema dispostas a tudo. Abordam adultos, crianças , vizinhos e desconhecidos, mirones, como se a opinião deles interessasse. Como se não houvesse limites ao decoro e ao bom senso.
A PJ lá vai dando informações sobre a investigação que, assim a lei o exige, estará em segredo de justiça.
E os Tribunais, lá está, são uns malandros porque, desta vez, não prenderam (se tivessem prendido certamente seriam prepotentes, autoritários, pois coitado do homem não deve ter feito nada. - AH!, erro meu, este tipo não é figura pública. Cadeia com ele !!!, senão tratamos nós de fazer justiça).

***

Pessoas morreram porque um tipo, armado em "fitipaldi" conduziu um carro artilhado sem sequer ter carta de condução.
Poderiam dizer que lamento.
Mas não. Não o lamento.
As vítimas não era transeuntes inocentes. Eram espectadores de corridas ilegais, perigosas e obscenas. Assumiram o risco e perderam. Sempre tiveram mais hipótes que jogando à roleta russa.
O rapaz, com este homicídio por negligência, certamente grosseira, assegura uns anos na cadeia. Pelo menos, se fôr seguido o entendimento da jurisprudência actual.

24.9.04

Anos '80 - 80 Memórias (2)

Televisores a preto e branco, e com antena interior

Naqueles anos, muito antes de se poder escolher entre quatro canais (quanto mais cinquenta), a televisão era um bicho muito diferente.
Antes de mais, em minha casa, só lá para meados dos anos oitenta apareceu o evento da cor. Até então, era um aparelho a preto e branco, com oito botões para os canais que se carregavam com força e faziam um estalido, enquanto um se fixava e o outro era solto, com uma mola.
Quando ligava o aparelho, demorava a aparecer a imagem. Ao desligar, a imagem contraía-se para um ponto luminoso que permanecia por largos segundos no centro da pantalha já escura. Recordo que em criança, aquele ponto a brilhar no escuro era aterrador.
Aquele televisor tinha uma antena interior, com três elementos presos numa base de madeira escura. Nos dias de pior recepção (normalmente com céu nublado), tínhamos que ir mexer na dita antena e passá-la de uma prateleira para outra, para o topo do móvel ou rodá-la até encontrar o ponto certo.

Não havia comando à distância, e se queríamos passar do primeiro para o segundo canal, tínhamos que levantar o rabo e ir carregar no dito botão.
A certa altura, para evitar que nos levantássemos muitas vezes para "espreitar " no outro canal se já tinha começado o programa que queríamos ver, a RTP engendrou um sistema em que aparecia uma estrelinha a acender e a apagar no canto do ecran para informar que no outro canal começava o referido programa.


Consequentemente, era mais difícil estupidificar em frente à televisão. O zaping era um sonho.
Lia-se mais.

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O Periscópio-Quatro aditou um link para esta morada. O Urso Polar agradece.

23.9.04

Anos '80 - 80 memórias (1)

Sugus de hortelã-pimenta.

Para mim, o melhor sabor de sempre, dos sugus.
Desapareceram. Creio que muitas das coisas que então gostávamos desapareceram porque proibiram a utilização de alguns produtos na sua fabricação.
Quando ia ao cinema de Carcavelos, comprava sugus avulso, e separava cuidadosamente os de hortelã-pimenta para serem os últimos, os melhores.
Comprava as goluseimas na loja que muito concorrida foi quando era vendedora a Ana Rosa, conhecida como Nucha, mais tarde concorrente a Miss Portugal e acompanhante do Herman José no seu programa Parabéns.
Mas, os sugus de hortelã-pimenta também se vendiam em separado, naquelas embalagens de dez, que rapidamente se consumiam.

Tenho saudades dos sugus de hortelã-pimenta

22.9.04

Para onde vamos nós?

Lembro-me com clareza que há vinte/vinte e cinco anos atrás as aulas começavam, invariavelmente, em Outubro, ficando por vezes à espera que colocassem os últimos professores. E no final de Junho fazia-se o balanço final. Tínhamos três gloriosos meses de férias. As verdadeiras férias grandes.

Era possível fazê-lo, porque em todas as famílias estava a mãe em casa, ou a avó, ou o avô, ou a vizinha olhava por nós... ou acreditavam que, apesar de termos dez anos podíamos ficar na rua a brincar com os amigos. Porque podíamos. Não havia perigo, e tínhamos muita coisa para fazer na rua.

Naquela altura o computador era algo que só havia no Star Treak ou no Espaço 1999 (onde dava talões como os das compras). A televisão só começava às 5 ou 6 da tarde, e desenhos animados apenas ocupavam uma hora da grelha. Em casa só dava mesmo para ler. E, apesar de muito lermos na altura, queríamos era estar na rua. Correr o pinhal que havia perto de minha casa (hoje está maioritariamente convertido em urbanização, sem árvores decentes), jogar à bola na rua, no meio da estrada por onde raramente aparecia um automóvel, fazer corridas de carrinhos, ou andar de bicicleta, alimentar rivalidades ou amizades. Muito havia para fazer.

Este saudosismo surge por causa de uma estranha associação de ideias.
Na altura, tínhamos estações do ano.

No dia 22 de Setembro já não tínhamos 35º ao sol!!! Nem pensar nisso.
A partir de meados de Setembro começavam as chuvas acompanhadas das trovoadas de fim de dia. Era certinho. O sol esforçava-se para secar aquilo que, ao cair da tarde ficava ensopado. Chovia, a temperatura descia, e as árvores começavam a despir-se.
Claro está que chuva em Agosto era uma miragem e esse mês escaldava, sempre acima dos 3oº.

Que se passa com o tempo? Que treta é esta de estar a trabalhar e só me apetecer ir para a praia? Este ano os dias que tinha escolhido para fazer praia foram cobertos de chuva e temperaturas de 18º a 24º.
Definitivamente aproximam-se tempos difíceis. E se até há bem pouco tempo pensei que eles surgiriam apenas após o meu horizonte de vida, agora começo a ficar menos certo. A fúria dos tufões e furacões, a temperatura a subir, a instabilidade climática já não são um acaso. Repetem-se preocupantemente.
E, meus amigos, duvido que tenhamos engenho e arte para criar um sistema de controlo metereológico como vários escritores de ficção científica engendraram.

À mão é mais seguro

Não obstante as ameaças de cegueira aos onanistas, cuja tradição se perde nas brumas do século XX, com o aparecimento de novas e incontroláveis maleitas apareceu a mensagem sanitária que anunciou a segurança do acto "à mão", ao invés do recurso à interacção, nomeadamente em ambiente profissional ou desprovido de valores.
O advento da informática e da transmissão de dados a alta velocidade, bem como os aparelhos de realidade virtual propiciaram o nascimento de uma nova forma de fazê-lo, só ao alcance de alguns enquanto se desenvolve para mais tarde chegar a todos.
Foi nisto que o Ministério da Educação investiu: numa solução informática para fazê-lo. Para distribuir os professores pelas escolas como todos os anos faz. Curiosamente, a tentativa de aplicar uma modernice informática redundou num enorme fracasso, pois a entidade particular, uma empresa do Grupo PSD, não conseguiu movimentar os professores.
A Ministra, herdeira da pasta e deste processo, procurou segurar o barco o tempo que pôde. Porém, o fracasso da iniciativa privada tornou-se evidente e insuperável. Solução: se queres a coisa bem feita, fá-la tu mesmo. Nem que seja à mão.
Sempre prezei o trabalho artesanal, valorizando-o face à produção industrial, massiva.

Esta será uma oportunidade para aplaudir a capacidade artesanal da função pública. Isto se conseguirem fazer, em oito dias, aquilo que um programa informático anda a tentar fazer há meses.
Aproveitem para pensar como correrão as coisas no dia em que quiserem informatizar o processo eleitoral, assumindo o voto electrónico. Arrepia, não é?

20.9.04

Estado TERMINAL

Fui ver o último filme do Spielberg, com o Tom Hanks e a sempre agradável de ver Catherine Zeta-Jones. "Terminal" é o nome do filme. Terminal deve ser o estado da criatividade do realizador.
O filme é de uma simplicidade que se aproxima do imbecil. A história parece ter sido escrita para crianças de idade inferior a 10 anos. As interpretações també. A realização é tão criativa como um aquário com dois peixes. Um bocejo!
As incongruências do argumento saltam à vista. As personagens assumem-se como esteriótipos. São esteriótipos. E passeiam num terminal num estado que poderia aproximar ao coma.
Não via forma do filme acabar... chorando pelo dinheiro do bilhete.
Spielberg... põe-te mas é a fazer filmes bons, como já deste provas de saber fazer.

***

Terminal é o estado de um programa da manhã da rádio que me acompanhou durante anos.
Até 1998, era rádio ouvir rádio. Ouvia meia-hora de manhã, na TSF, para saber das novidades do dia. Depois descobri a nova Comercial, e o Programa da Manhã com o Pedro Ribeiro a apresentar acompanhado pela Ana Lamy e pelo José Carlos Malato. A acompanhá-los aparecia um Nuno Markl fantástico com o seu Homem que Mordeu o Cão.
Ouvia-os a partir das sete da manhã, quando acordava. Continuava a ouvi-los enquanto trabalhava e cheguei a fazer esperar pessoas para acabar de ouvir o HQMC.
Depois, ... depois o Malato e a Lamy saíram do barco. Foi uma machadada que nunca mais permitiu ao programa voar. Importara uma tal de Maria Vasconcellos que sempre detestei. Uma voz que me irritava, uma total falta de tempo, interrompendo tudo e todos, e nenhuma piada. Pedro Ribeiro, que continuo a achar um grande apresentador/realizador de rádio deixou de ter ali ao lado quem lhe desse uma resposta à altura. Markl, disperso por mil e um projectos, deixou de ter piada.
Quando a Comercial mudou de estilo, o programa da manhã em causa foi despachado para uma frequência regional. Só Lisboa e Porto. Depois Coimbra. Será estranho que tenha perdido audiência, se em sítios como Mafra ou Torres Vedras já não eram audíveis?
Confirmei hoje que o programa terminou. Moribundo, sucumbiu.
Ficam na memória grandes momentos que passei a ouvi-los. Aos quatro, nos tempos áureos, seguidos por três horas de música apresentada por Vanda Miranda, cujo rasto também perdi.

Resta-me, há já mais de três anos, creio, o Programa da Manhã da Antena3. Diogo Beja apresenta, Ana Lamy seduz, Peixoto é um repórter que descobre os assuntos mais inesperados, Alexandre Afonso é o melhor comentador desportivo que conheço, para falar em cinco minutos, e Bubu, nas suas Bolas com Creme, é genial e delirante. Longe de estar em estado Terminal, mantêm as manhãs suportáveis, para me acompanhar nas primeiras horas de trabalho.

17.9.04

Trombose

Lá fora o Sol ergue-se rapidamente acima do horizonte, cambiando do alaranjado de fogo para o implacável branco do seu zénite. Também rapidamente, a cidade enche as suas artérias de coágulos motorizados, ameaçando a trombose a todo o momento.

15.9.04

Agora é de vez

Estou de volta. Posso não escrever todos os dias, mas volto a aceder todos os dias.

A temperatura desceu um pouco. O céu está azul e o sol brilha forte. Da janela do meu novo gabinete vejo as copas das árvores, uma obra do Taveira onde esteve instalado um banco no qual trabalhei quando tinha 18 anos, e um grande empreendimento espanhol. Vejo a cidade de Lisboa. Estou de volta ao trabalho.

Agora é de vez

Estou de volta. Posso não escrever todos os dias, mas volto a aceder todos os dias.

A temperatura desceu um pouco. O céu está azul e o sol brilha forte. Da janela do meu novo gabinete vejo as copas das árvores, uma obra do Taveira onde esteve instalado um banco no qual trabalhei quando tinha 18 anos, e um grande empreendimento espanhol. Vejo a cidade de Lisboa. Estou de volta ao trabalho.

7.9.04

É a loucura

Nem de propósito. No meu último post falava do fim do Verão e da próxima meta temporal que é o Natal e no Público de sexta-feira passada vinha a notícia irreal: ainda durante o mês de Agosto começaram a pendurar, em Lisboa, a iluminação de Natal!!!!!
Banalizar mais o acontecimento só mesmo deixando ficar penduradas todas as luzes de um ano para o outro.
É a loucura.

Entretanto, uma Juíza resolveu deixar ficar mal a classe. Não ponho em causa a fundamentação da sua decisão. Parto do princípio que, tecnicamente, a magistrada está apta a exercer as suas funções, caso contrário seria notada com um medíocre e suspensa do exercício de funções. Agora, não posso admitir é que depois, se aproveite de uma decisão para saltar para a televisão e os jornais. Porque, hoje, me sinto legitimado para pensar e concluir que a sua motivação não foi jurídica e consciente do ponto de vista do exercício das funções, mas sim uma forma de “dar nas vistas”, de procurar o destaque de outra forma lhe estaria vedado.
Bela coisa fez. Certamente será, neste momento, adorada pelos colegas cuja imagem fica colada a alguém que dispara impertinências e leviandades.
É a loucura.

O “barco do aborto” ameaça transformar-se em telenovela. Pela duração e pela falta de qualidade no argumento. Perde Portugal. Fica no estrangeiro com uma imagem de intolerância e prepotência. Por cá aumenta-se a desinformação.
É a loucura.

Os professores gostavam de ter o direito de dar aulas e exercer a sua profissão. É certo que a sua situação incómoda de ter que concorrer todos os anos, sem conseguir ficar na mesma escola (com todos os inconvenientes para os alunos) aos próprios se deve. Com medo de se verem ultrapassados os professores mais antigos apoiaram a actual situação. Claro que quem se lixa é a malta nova.
Porém, a “macacada” criada pelo Ministério da Educação já chateia. É assim tão difícil graduar os professores e distribuí-los pelas escolas? Que raio de programas informáticos têm? E, se querem que tudo seja feito pela internet, não deviam, primeiro, arranjar um servidor decente para responder ao acesso de quarenta e tal mil professores?
É a loucura.

Na Rússia crianças morrem às centenas, metralhadas ou explodidas por terroristas. Isto é verdadeiro terrorismo. Não merece qualquer misericórdia ou compreensão como poderá eventualmente receber a resistência a um invasor ou a luta pela auto-determinação. Quem se propõe tomar como reféns os alunos de uma escola deverá ser esmagado, como é apanágio russo.
Nestes casos posso ser intolerante.
É a loucura.

As férias estão, finalmente, a terminar.
É a triste loucura.