20.2.06

Dose dupla

Fazendo render o KingKard este fim de semana fui ver dois filmes (e só não fui ver o Münich porque me faltou tempo para aquelas três horas de filme).
Assim, na sexta-feira entrei na sala de cinema sem grandes expectativas no filme, apenas interessado em ocupar o fim da tarde com as coloridas imagens projectadas na tela, com acção q.b. e sem que me fosse exigido pensar muito.
Não só consegui isso como acabei surpreendido com este filme
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Walk the Line, do realizador James Mangold, cujo nome ouvi pela primeira vez.
Não sendo apreciador da música de Johnny Cash, nem sequer conhecendo pormenores da sua biografia, encarei o filme com a surpresa de não saber qual o seu fim, tanto mais que àquela hora ainda fora poupado pelas críticas dos jornais, cada vez mais reveladoras da emoção do desconhecido que se esconde em cada película.
A surpresa foi, por isso, agradável. A construção do filme, não linear cronologicamente, recorrendo a diversas analepses é fácil de seguir mas confere à obra uma consistência admirável. Como admiráveis são as interpretações de Joaquin Phoenix e Reese Witherspoon, a brilhar num elenco seguro capaz de recriar a época louca da génese da música rock.
Não é um filme extraordinário. Mas está suficientemente acima da média para justificar a ida ao cinema. Depois de ter visto os outros filmes, aqueles de visionamento obrigatório.
E se conseguirem sair da sala sem vir a entoar uns versos como "it burns, burns, burns, the ring of fire", ou o "I shot a man in Reno, just to see him die" é porque, efectivamente, não gostara do espectáculo.
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Diferente foi a aposta de sábado. Agora navegamos em águas mais complicadas. Estamos perante a conspiração, os duplos sentidos, as duplas faces dos protagonistas, os que usam e os que são usados, as vítimas e os predadores, tudo com um móbil: o dinheiro. E como este não aparece do nada a sua fonte é o ouro negro em vias de extinção. Falo de Syriana.
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Obra de cariz marcadamente político, realizada pelo argumentista de "Trafic", Stephen Gaghan que repete o estilo da escrita na exposição do "tráfico" de influências que está por trás do mundo do petróleo. A história exige atenção do princípio ao fim, a fazer lembrar os filmes de espionagem britânicos, e está filmada com uma mão segura e um olhar que busca a beleza sem perder a crueza da realidade.
George Clooney mostra todos os seus dotes de grande actor, bem acompanhado que está por um elenco experiente que passeia por locais de filmagem soberbamente escolhidos.
A história não deixa perguntas por responder, não questiona a realidade. Exibe-a, escudada na ficção. No fundo sabemos que é assim que as coisas acontecem. Só que evitamos pensar nisso.
Este filme espelha bem o relevo que o cinema pode ter, sem alarmismos e sem se quedar pelo fantástico da imaginação. Recomendo-o vivamente. E, se não puderem ir vê-lo ao cinema, não deixem de o ver logo que o apanhem no cada vez mais rápido mercado do DVD.

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