6.2.06

Orfão

Numa cidade de Lisboa orfã do inesquecível Ballet Gulbenkian impõe-se ver que ofertas existem no ballet contemporâneo. O espaço deixado pelo BG está avidamente à espera de ser ocupado. Mas não será tarefa fácil.
Este fim de semana fui ver o espectáculo do Lisboa Ballet Contemporâneo, exibido no Teatro Camões.
Foi bom, e não foi.
Habituado à oleada máquina do BG deparei-me com um espectáculo espartilhado na evidente falta de meios para suportar maior criatividade. Nomeadamente ao nível da iluminação, um dos pontos que mais me impressionava nas coreografias do BG.
Por outro lado a companhia de bailado é composta por bailarinos muito novos e, por isso, com notórias imprecisões e inseguranças. Nada que o tempo não colmate, tanto mais que foi evidente a qualidade existente. Ainda assim, num elenco de nove bailarinos apenas, notam-se algumas disparidades em termos de performance.
Quanto aos bailados exibidos, e sem pretensões de crítica, porque nada percebo disto, limitando-me a ser sentencioso com base no meu gosto, tivemos quatro coreografias: de Gagik Ismailian ("Ela... Veronika!", em estreia mundial), de Benvindo Fonseca ("Renacê" e "Castañeda") e de Barbara Griggi ("Dreamland"). Tudo gente que esteve ligada ao BG.
O meu favorito foi mesmo o Dreamland, com música de Tom Waits e dançado por um par.
Ao mesmo nível o Renacê, dancado pelo Benvindo Fonseca, bailarino cujos 41 anos determinam um rigor, uma qualidade e uma expressividade extraordinários. E que canta...
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Ela... Verónica é uma boa coreografia (tirando uma parte, falada, que me incomodou), mas que exige muito mais trabalho, rodagem, para olear as tais imprecisões muito visíveis.
Castañeda foi, para mim, o mais fraco, apenas porque me fez lembrar, do princípio ao fim, aqueles bailados RTP, sabem, dos programas infindáveis, chatos e sem sal.
Precisa-se mais bailado contemporâneo. E criatividade para superar as dificuldades económicas das pequenas companhias, por contraste ao saudoso BG.

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