14.10.08

Máfia sem brilho

Durante muitos anos fomos inundados por imagens idílicas da máfia, difundidas pela máquida de sonhos de Hollywood. Crescemos com os violentos senhores do submundo americano de origem italiana, vestidos com esmero e vivendo os luxos do lucro ilícito. Acompanhámos religiosamente e durante sete anos as peripécias da família Soprano, simpatizando com aqueles carniceiros à margem da lei.
Talvez na América seja assim. Talvez. Na Europa, a realidade está mais distante dessa visão. À parte os topos dos topos, que naturalmente serão podres de ricos e se deslocarão mais ao nível do tráfico de influências e gestão de empresas que manipulam o meio económico-financeiro, existe uma larga e pobre realidade (pobre em dinheiro, inteligência, valores, auto-estima) que dá corpo à estrutura mafiosa. É nela que pega Gomorra.
Este filme de Matteo Garrone exibe a crueldade e inslaubridade de um negócio: o da droga. Apesar de incluídos na designação de Máfia, ali não há lugar a brilhos e luzes: tudo é negro. A vida pouco vale, e toda a gente vive o comércio da droga, seja por dele fazer parte, por dele receber, ou por o ter à sua porta. E, quando as hordas se dividem e envolvem numa luta fraticida, tudo vale.
São cinco as histórias que se cruzam, interpretadas ao sabor de um sotaque cerrado e quase incompreensível.
Numa delas dois jovens vivem o sonho dos bandidos cinematográficos americanos. Tão desaprorpiadas são as suas condutas que desde o início adivinhamos o fim que os espera. Noutra, um miúdo deseja entrar no mundo do comércio da droga, iniciar-se na máfia para ser integrado naquilo que sempre se desenrolou à sua volta. Temos ainda o distribuidor de dinheiro, já com alguma idade, e que vê com preocupação a violência à sua volta. É-nos igualmente apresentado o mestre costureiro que alimenta a indústria da fabricação de vestidos de alta-costura e que, pelo pouco que ganha e muito que trabalha, se sente tentado com a oferta chinesa que avança para o mercado como temível concorrência. E, finalmente, resta a história de como os resíduos tóxicos podem dar muito dinheiro, tudo valendo para os fazer desaparecer.
O filme é duro, violento, mas muito realista. Merece nota quatro, sem margem para dúvidas.

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