"O Salazar, a mim, nunca me fez mal nenhum!" , anunciou em tons de autoridade para justificar o seu descontentamento com o actual estado da nação.
Pois não, pensei. A ti não te fez mal algum, mas fê-lo a muitos outros que por cá andavam. Destruiu muitas vidas e reduziu a existência de milhões a um dia-a-dia de trabalho, pobreza, medo, temor reverencial e subserviência. Mas como tu eras dos que estava bem, estás a cagar-te para todos os demais. Apesar de pensar tudo isto, nem uma palavra disse. A viagem continuou e tive que gramar mais uns minutos de ideias feitas, disparates, parvoíces fascistas e fascizóides que velho continuou a partilhar em voz alta para que o outro velho que o acompanhava no autocarro pudesse ouvir, entender, e acenar com a cabeça dando a sua concordância a tamanhos dislates.
Porém, a dado passo, o autocarro encostou a uma paragem sem que alguém tivesse premido o sinal para tal efeito ou alguém pedisse para entrar. A porta de trás abriu-se com um sonoro suspiro pneumático e o condutor levantou-se avançando pelo corredor. puxando pelo braço do velho exclamou: "Faça favor de sair do veículo!".
"Mas..."- hesitou o velho - "Eu quero continuar até Moscavide."
"Queria, não queria?" - o tom de voz do condutor era severo e inflexível - "Mas vai ficar aqui, que eu não o quero a bordo."
"Mas com que direito...?"
"Com o meu direito. E se quiser, vá queixar-se ao Salazar"
1 comentário:
é um bom conselho final. Contudo, suspeito, para o guichet Salazar já se esgotaram as senhas há muito.
Bjs
Enviar um comentário