30.7.04

O Rei vai nú

Fui ver o Farenheit 9/11 no dia da estreia. Por mero acaso. Tinha tempo livre, e proporcionou-se a ida ao cinema. Surpreendeu-me a reacção de uma grande maioria dos espectadores da sala 1 do Monumental (quase esgotada), que no fim do filme sentiram a necessidade de aplaudir. Sim. Aplauso. Palmas.
Vejo tal acto como catarse, depois de terem visto na pantalha a outra opinião americana, a de esquerda, a de um radical. Tipo Bloco de Esquerda, quando começa a apontar o dedo e a falar mais alto ou com mais sentido do que é esperado daquela franja do espectro político.
Michael Moore começa por onde navegou no seu livro Stupid White Men and Other Sorry Excuses for the State of the Nation. Porém, o livro foi editado antes do 11 de Setembro, e muito se passou desde então. É a partir daí que o filme toca em questões que evidenciam o contrasenso dos americanos e, em particular, da actual Administração que, por tão evidente, cai no ridículo e denuncia a sua perversidade.
Avaliando a preponderância dos EUA nos últimos cem anos no desenrolar da História mundial, creio que a maioria das suas opções políticas nas relações externas foram problemáticas. Os envolvimentos bélicos (cada Presidente tem que ter o seu), as intervenções e manipulações em países soberanos, questionando essa mesma soberania, (particularmente na altura em que URSS e EUA brincavam aos Senhores do Mundo e os outros que se lixassem), as políticas e sanções económicas que visaram derrubar ou sustentar governos criaram bolas de neve que desde então descem a montanha. E, paulatinamente, tais avalanches acabam por atingir alguém, nomeadamente quem lhes deu origem.
Por isso, é bom que surjam vozes como a de Michael Moore para apontar que o rei vai nú. Porém, por natureza, tais vozes não são suficientemente fortes para arranjar soluções. Ficam-se por denunciar as cabalas, as contradições e irregularidades do poder instituído e, como um polícia vigilante, minimizar as probabilidades de se repetirem os comportamentos desviantes dos governantes.
Veja-se, mais uma vez, o Bloco de Esquerda. Está aí, com representação parlamentar e cada vez mais eleitores. Volta e meia é a voz dissonante que melhor oposição faz, pois o PS e o PSD, quando oposição, visam o poder e sabem que o podem alcançar, pelo que agem comprometidos. O PCP está atolado no passado, em ideias e discursos desfasados no tempo. O CDS, só tem um discurso vazio e populista. Mas, conseguem imaginar o que seria um governo liderado pelo BE? Ou que nele tivesse lugar?
Vozes como a de Michael Moore ou o BE são essenciais porque não surgem comprometidas com o facto de terem sido governo ou poderem vir a sê-lo a qualquer momento. Porém, devem ser ouvidas com a necessária dose de cuidado, e através do filtro crítico e esclarecido de cada um. Porque, se nem tudo o que Farenheit 9/11 expõe será assim tão linear, muito denuncia, e deixa antever que estamos todos nas mãos de uma cambada de energúmenos sem sentido de dever e responsabilidade, mas apenas movidos por interesses imorais.
Vale a pena ver o filme. Mas atenção! Não é um documentário como o Bowling for Columbine, que o realizador/autor expôs factos e desenvolveu a sua tese, os seus pensamentos sobre a matéria das armas e da violência a elas associado. Este filme é um panfleto, um manifesto de oposição que visa acicatar o espectador, de forma a fazê-lo pensar e agir.
Contra Bush.

Será que daqui a dois anos, antes das próximas eleições legislativas, teremos um filme manifesto anti-Santana Lopes?

28.7.04

Mais férias

 
O sol abrasador vai tornando os dias de férias verdadeiramente veraneantes. A praia é um escape agradável. Graças ao ar condicionado, exposições, museus e cinemas também convidam.

 

Fui ver o “Má Educação” do Almodovar. Excelente condução de uma história que se desenrola entre o presente e o passado, a realidade e a ficção. Interpretações seguríssimas, excessivas quanto baste. Reconstituição de época para os anos oitenta, década que começa a sair do buraco para onde foi remetida com vergonha.
Eu cresci nos anos oitenta, aí vivendo a adolescência. É, pois, com muito agrado e saudade que vejo um crescente número de obras a revisitar aqueles anos, de ressaca dos setenta, mas longe da massificação, da globalização plastificada que tomou conta dos anos noventa e deste novo século.
Voltando ao filme, e para concluir: cinco estrelas.

No domingo fui ver o Buddy Guy. Há muitos anos li num jornal alguém descrevê-lo como “o mais irados dos bluesman”. Sempre concordei com a imagem. E vi-a confirmada, não obstante, em palco, ter assumido uma atitude ligeira, comediante, mostrou o seu virtuosismo na guitarra e a garra da sua voz rouca e rasgada.
Continuo é a não perceber porque razão os concertos se ficam por noventa minutos de música. Sabe mesmo a pouco.

Portugal continua a arder. Ano após ano vejo que nada se aprende em Portugal. Ano após ano salta à evidência que os incêndios florestais dependem dos meios aéreos para ser combatidos. Estou em crer que Portugal só os irá adquirir quando não houver mais floresta para arder.

23.7.04

Adeus, Mestre


 
Há muito que o homem era uma sombra de si, amputada que lhe foi a guitarra dos seu braços. O génio calou-se e sofria ao ouvir-se, eternizado nas gravações de outrora. A guitarra portuguesa teve de abandonar o quarto onde o Mestre passou os últimos anos, nada verdes. Porque não podia vê-la e sentir a impotência de a acariciar convenientemente, para que libertasse os poemas presos às suas cordas. Não podia ouvir-se pois sabia que não fora perfeito, e que se o corpo o deixasse, ainda se aproximaria mais da utópica perfeição.
 
Hoje faleceu Carlos Paredes. O corpo. O espírito.
O músico falecera havia doze anos.
A música ficará para sempre. O Homem e a sua memória também.

Pólvora Seca

Apesar de adorar os discos dos Mão Morta, nunca os vi ao vivo. Até há bem pouco tempo, os seus concertos em Lisboa aconteciam sempre durante a semana de trabalho, e eu estava deslocado sem possibilidade de os ver. Para onde me encontrava não ia o grupo actuar.
Era, pois, com grande ansiedade que esperava pelo concerto agendado para quarta-feira passada, dia 21.
Por estar de férias, e muito despreocupado, não tenho ouvido rádio, leio poucos jornais, não vejo televisão... em resumo, estou desinformado. Só isso pode justificar que na quarta-feira tenha saído de casa à noite, entusiasmado com a perspectiva do concerto dos Mão Morta. E ao chegar ao Fórum Lisboa, meia hora antes do concerto, deparar com a sala fechada, escura, fria, e um total ausência de gente.
Um segurança informou o que uma folha A4 confirmava, perdida entre os cartazes propagandísticos das iniciativas da Câmara Municipal de Lisboa: o concerto foi cancelado. CANCELADO!!! Como todos os daquela iniciativa da CML.
A frustração invadiu-me. Foi com tristeza que abandonei o local. Triste por não ter sido desta que consegui ver os Mão Morta ao vivo. Por me ter sido furtado um concerto para o qual tinha bilhetes havia sete semanas e pelo qual ansiava. Acabei com uns amigos num bar a ouvir jazz esperando que volte a ser agendado um concerto da banda.
Curiosamente, foi nesse mesmo dia 21 que vieram a lume as notícias sobre a calamitosa dívida que PSL deixou na CML. Porventura, isso estará na origem do cancelamento dos concertos que a câmara organizara. Não sei.
Como diz um amigo meu, para a CML não importa fazer, desde que se anuncie. Anuncia-se um concerto, uma obra, um casino, a reconversão de Monsanto ou o destino da Feira Popular, um túnel e já se tem a recompensa desejada: a publicidade. Se depois nada se concretiza isso já não importa.
Palhaços.

Devolvi os bilhetes e reinvesti o dinheiro. Domingo à noite, em Cascais, vou ver o Buddy Guy.

Aproveito ainda para botar umas palavritas sobre a World Press Photo, no CCB. Visito-a todos os anos, e todos os anos sou surpreendido com fotografias de elevada qualidade. O prémio português de fotojornalismo da Visão, este ano, está muito bem composto, com fotografias fantásticas, de beleza, técnica, e oportunidade.
Para quem gosta de fotografia, não se pode perder. Porém, é de chorar que o preço do bilhete já seja de € 3,50. Quase justifica ir passear e vê-la a Portimão (onde este ano já esteve), pois aí a entrada é livre.

O novo governo, aquele que ia ser mais pequeno e eficaz, já está em funções, após algumas trapalhadas, coboiadas, novelas e circo.
Salve-se quem puder.

20.7.04

A banhos de cultura

Mais uns dias de férias, e mais uns momentos de lazer.
Em três dias li “Forrest Gump” de Winston Groom. Nunca vi o filme, com o Tom Hanks pelo que a história foi lida como uma novidade. Literariamente, não é grande coisa. Como entretenimento, ajuda a passar o tempo.
 
Voltei a ir ao cinema. Desta feita ver o “Wilbur quer matar-se”, de Lone Scherfig. 
  

 

A realizadora já é conhecida de um filme ligeiro que em tempos por cá passou, o “Italiano para principiantes”. Sinceramente, não obstante ter bons momentos, é mais um daqueles filmes que se vê sem esforço, agradéveis no momento, mas que não deixam nada mais no espírito. Cedo será esquecido.
Também  ajuda a passar o tempo, mas fica-se pelas duas estrelas.
 
 
Agora, cinco estrelas foi o concerto de ontem de Ute Lemper. Só teve um defeito... foi curto. Muito curto. Apenas cerca de hora e meia, com encore incluído, é pouco para um bilhete de € 35,00.
Porém, Ute Lemper enche o palco com a sua voz, com a sua movimentação, passos e trejeitos, e uma conversa de cabaret em inglês, francês e alemão, línguas pelas quais vai saltitando, como foi saltitando na sua vida.
Pelo meio elogiou Fátima Lopes, estilista da qual envergava um vestido, elogiou o nosso vinho, dizendo que não o encontra à venda no estrangeiro “You don’t export enough” disse, e não disse adeus, mas sim até breve.
Excelente.
 


De Ute Lemper o disco que mais gosto é mesmo o “Punishing Kiss”, mas ouvi-la nos temas dos musicais da Broadway, ou de Kurt Weil, ou em francês é uma experiência adorável. Para quem não conhece, recomendo que experimente ouvir. 
 
Não posso deixar de comentar é a figura triste de alguns espectadores. Com a conivência dos arrumadores, que não fecharam a sala depois de iniciado o espectáculo, tivemos gente a entrar para a plateia, incomodando quem ali chegou a horas, até à terceira (!) canção.
Não contentes com a façanha, um casal de velhos, sim, velhos, que se sentou duas filas à minha frente durante a terceira (!) canção, não desligou o telemóvel que começou a tocar insistentemente sem que o conseguissem desligar, interrompendo, repito, interrompendo, uma canção, pois a Ute não conseguiu ignorar o ruído, assim como o não conseguiram as outras centenas de espectadores.
Vergonha.
 
Amanhã, dia 21, será a vez dos Mão Morta, no Fórum Lisboa.

18.7.04

Shrek 2

Mudanças no Blogger: agora tem um verdadeiro processador de texto!
 
Adiante, que não foi por isto que aqui vim. Agora que há tempo livre, retornei ao cinema. Havia já algum tempo que não via uma película pelo que decidijogar pelo seguro e começar por um campeão, merecido de bilheteiras.
 

 
Shrek 2 é um filme delicioso, bem disposto, inteligente e com uma qualidade de imagem, de animação, surpreendente. Quem gostou do primeiro não pode perder o segundo. Quem gosta de gatos, quem tem um gato em casa, não pode perder este filme. Por causa do Puss in Boots
 

 
verdadeira delícia animada.
Dentro do seu género, 5 estrelas. Ideal  para toda a família, recomendando-se, obviamente, a versão original onde António Banderas é um gato inesquecível, e John Cleese um rei... que só vendo. Para juntar aos originais Mike Myers, Cammeron Diaz, e Eddie Murphy, ainda temos uma recuperada Julie Andrews.
 
Fui ver o filme, pela primeira vez, ao Alvaláxia, aos Cinemas Millenium. Grande qualidade da sala, do espaço e conforto ao som e projecção. O melhor cinema... de pipocas. Para quem evita o acessório ruminante é de fugir. Para quem o tolera, é de ir experimentar.
Grande sala.
 
 
 
 

15.7.04

SOPAS E DESCANSO

Hoje, oficialmente, é o meu último dia de trabalho antes de férias.
Oficialmente, e de facto. Ao contrário do sucedido, por exemplo, o ano passado, não tenho que fazer nas férias aquilo que não fiz durante o resto do ano. Estou despachado, está tudo despachado.
E vou mudar de poiso.

As férias são sempre bem vindas. Mas não pelo ócio. Antes pela falta de compromisso.
É por isso que não partilho da ânsia lusa de rumar ao Algarve ou qualquer outra praia, pois vejo aí um continuar da rotina laboral que me recuso a seguir em tempo de férias. Vivi dois anos em Silves e, no Verão, via magotes de gente, que durante o ano vocifera contra os horários do patronato e os engarrafamentos de casa para o trabalho e volta, viverem exactamente da mesma forma.
Escrupulosamente cumpriam o horário de praia e para isso entravam na fila de trânsito que qual tartaruga evoluia até ao areal. Saíam em fila para os restaurantes onde eram mal servidos e esperavam, esperavam. Novamente a fila para a praia e a fila de regresso a casa. À noite, o passeio e/ou a discoteca. Dia após dias, continuavam o stress que traziam do resto do ano. Não sei como conseguiam. Como conseguem.
E aproxima-se nova vaga.

Mesmo assim, vou a banhos.



Entrando em férias, vou reduzir a intervenção neste blog. Porque sou daqueles que acede à internet no trabalho, onde a rede proporciona velocidades escandalosas, e já não tenho paciência para a ligação dial-up lá de casa, lenta e que exige o trabalho de ligar, e esperar, e esperar.
Porém, blogar tornou-se um vício, pelo que terei que vir cá, de vez em quando, nem que seja para pôr uma fotografia, ou juntar uma ficção.
Ensina-nos a experiência que o Verão é mesmo uma silly season. Vai tudo a banhos, os jornais começam com os inquéritos de Verão, as televisões com as reposições e os cinemas com as comédias parvas. Na política haverá sempre tema, nomeadamente com o actual PM “indigitado”. Contudo, decidi não falar dele por uns tempos. Como li no Gato Fedorento, meu Deus, com Pedro Santana Lopes como Primeiro-Ministro os posts escrevem-se sozinhos.

Está calor e o país arde. Tal como no ano passado.
A este ritmo rapidamente acabarão os incêndios florestais de Verão. Acaba-se o combustível.

De férias, vemos os que cá vivem ir ao estrangeiro. Vemos os que no estrangeiro vivem, deslocados, emigrados, voltar. Vemos as terras de interior com as suas festas, iguais todos os anos. As mesmas bandeiras, flores, vendedor de farturas, palco... muda o artista mas a música é a mesma. O povo bate palmas, conversa, revê caras, embebeda espíritos e corpos.
E nós vemos, igualmente, os automóveis desfeitos, retorcidos, dilacerados a tirarem vidas na estrada. Porque sempre alguém tem pressa, é impaciente. Porque sempre alguém que já bebeu demais pensa “estou bem, é só uma viagem pequena”.

No Verão temos o auge da adolescência. Em que tudo vale, e cedo acaba. Temos os reencontros e as saudades para matar. Temos o patrão, o professor ou o chefe longe. O telefone toca e sugere-se um momento de lazer, em vez de se fixar um prazo.
Goza-se o sol, o campo, a praia, a cidade vazia, os museus e espectáculos, bebe-se com prazer e comem-se iguarias que durante o ano parecem mais caras. Viaja-se e conhecem-se novas paragens.

O Urso Polar vai de férias. Vai dormir.



Só pode desejar igual sorte a quem o costuma ler.
Boas férias, meus caros.
Boas férias.

13.7.04

Há dias que parecem prisões


(fotografia de Urso Polar)

Em que a hora de sair do trabalho está cansada, e o caminho para casa nos arrasta.
Felizmente, depois de amanhã será o último antes das desejadas férias


(fotografia de Urso Polar)

12.7.04

Começa a Palhaçada

Obviamente que não vi a entrevista de PSL à SIC. Não sou masoquista.
Porém, em segunda mão, ouvi hoje nas rádios uma das ideias fortes que o senhor terá transmitido: deslocar ministérios ou secretarias de Estado, para o Porto, Santarém ou Faro (Ministério da Economia, Ministério da Agricultura e Sec. Estado do Turismo, respectivamente), ainda que isso implique "incentivos" para os funcionários públicos.

Sem qualquer razão de ciência que fundamente a decisão, apenas invocando uma maior proximidade (só há economia, agricultura ou turismo à volta daquelas cidades?)propõe-se enveredar por uma inútil política de elevados encargos.
Quem conhece a administração pública lê nestas declarações um conjunto incomportável de custos e problemas.
Vão os trabalhadores ser obrigados a abandonar Lisboa?
Ou serão substituídos?
Reconvertidos?
A serem deslocados, quanto lhes será pago?
Onde serão os serviços instalados?
Comprarão imóveis? Ou arrendarão?
E quanto custará equipar os espaços? E transferir todos os elementos de trabalho (das canetas ao arquivo)?
Com a mudança, quanto tempo estarão inactivos os serviços?
E se for necessário por funcionários públicos novos, ou reconvertidos, quanto tempo demorarão a conhecer o seu serviço?

É tão fácil dizer que se deslocaliza um ministério, não é? Tão fácil como dizer que dentro de um ano, um ano e meio o Parque Mayer estará revitalizado (promessa de campanha do Outono de 2001).

Começamos bem...

10.7.04

Sem Ferrugem

O PS livrou-se de enferrujar.
Esperemos que optem por uma opção vitoriniosa.

Grande Abertura

Vai abrir em Lisboa uma nova discoteca, de nome Conselho de Ministros.
A gerência promete bebidas baratas e consumos mínimos irrisórios.
Party all night, e esqueçam as obrigações do dia.

À Porta, dois marinheiros farão a segurança, garantindo que ninguém passa Portas sem autorização.

Como podes ter razão?



Tirei a bandeira da varanda.
Fiquei triste e desapontado.
Como podes ter razão, Sampaio?

Durante dois anos vou aturar PSL, como PM, a falar do PPD/PSD. Vou ver a desconfiança, a contestação e a risibilidade da sua política. Será que tem política?

Nem compreendo como o PSD prefere esta solução. Porque, aqui entre nós, não me parece que fosse assim tão linear que o PS ganhasse as eleições, ou que conseguisse governar. A haver aelições antecipadas, o PSD teria tempo para, em congresso, eleger um líder crível, capaz de enfrentar Ferro Rodrigues. Esta, por mais que o quisessem beneficiar, não era um líder capaz de governar, e estava acessível.

Sem querer fazer futurologia, penso que não estarei longe da verdade quando penso que daqui a 2 anos, depois deste fantástico governo, o PS terá tudo para obter uma maioria absoluta. Especialmente se, agora que Ferro se demitiu, que Vitorino regressou, escolherem bem o seu novo líder. Porque, se o PS eleger um Sócrates ou um João Soares... então nada nos salvará deste poço putrefacto.

Sampaio, sempre esperei mais de ti.
Como podes ter razão?

9.7.04

A vida por um canudo


(fotografia de Urso Polar)

Uma amostra do trabalho de PSL

PSL é tão frutífero e coerente que em Lisboa, ao assumir a presidência da Câmara, mudou o logotipo. Uma vez que o antigo logotipo era uma imagem que estava muito ligada à coligação PS/CDU que o precedera, ainda se admite.
Mas sabem que mais? Passados dois anos, está a mudar o logotipo outra vez. Mudar uma imagem institucional custa dinheiro. Aliás, custa muito dinheiro. Mas isso não interessa Pedro Santana Lopes, se implica uma campanha de lançamento (cara) em que ele apareça e em que se dê a ilusão de dinâmica.A juntar aos anúncios gigantes que proliferam por Lisboa, numa campanha auto-promocional que até enjoa, vamos ter agora que mudar os símbolos todos da CML.
Já repararam que quando um Banco muda a imagem, há um grande investimento, e razões de fundo ponderosas para o fazer, após o adequado estudo económico?
Qual é a necessidade, dois anos depois, de alterar o logotipo da CML, para lhe juntar a barca de S. Vicente e os Corvos. Quais os ganhos de tal medida? Quais os encargos?

Portugal, com PSL a PM, será um mar de políticas fúteis, de show off e medidas e eleitoralistas.


O governo minoritário de Cavaco caíu após a dissolução da AR devido a uma moção de censura. Numas coisas para bem, noutras para mal, tivemos que aturar Cavaco em duas maiorias absolutas consecutivas.
Hoje, julgo que não há condições para, com este desenho parlamentar, sustentar PSL no Governo.
Vote-se. Se PSL é assim tão bom, ganhará as eleições como o fez Cavaco. Se o PS é assim tão mal certamente perderá as eleições.
Entre um e outro, que venha o povo e decida: para uma verdadeira e completa legislatura com um chefe de governo que se exponha e sujeite ao eleitorado. Não se ponha como PM quem nunca se sujeitou a votação, sequer, no próprio partido, com vista a tal cargo.

Não há dúvida que qualquer que seja a decisão de Sampaio, a mesma será contestada, e uma larga fatia do eleitorado ficará descontente. Mas, numa, o descontentamento arrastar-se-á por dois anos. Na outra, tal descontentamento perde razão logo após as eleições nas quais ficará legitimado o próximo governo.

O dia de hoje afigura-se importante. Muito mais que qualquer final do Campeonato Europeu de Futebol.

7.7.04

Estacionamento

Que tal são as vossas capacidades para estacionar?
Avaliem aqui.

6.7.04

Comentários

Não sei o que se passa com o serviço de comentários. Consigo aceder-lhes através do servidor, mas não na página do blog. Se também não conseguem abrir os comentários, peço-vos paciência. Se conseguem, digam qualquer coisa para que eu saiba que o problema é daqui.

Lucidez

Depois do muito que se falou, acabei finalmente de ler o Ensaio sobre a Lucidez, do Saramago.



Agora, tenho quase a certeza de que muitos dos que falaram sobre o livro, quanto muito, leram apenas as primeiras 50 páginas.

Já li muitos dos livros escritos por Saramago, e os meus favoritos são, sem dúvida, o Ensaio sobre a Cegueira, e a Jangada de Pedra. E, tenho que o dizer, esperava mais deste último Ensaio, especialmente porque ia beber na fonte do Ensaio sobre a Cegueira. Mas acho que ficou aquém daquilo que seria de esperar de Saramago. Tirando o final, que me surpreendeu e valeu pelo livro, tirando uma ou outra ideia verdadeiramente criativa, o livro arrasta-se nos lugares comuns que têm vindo a povoar as últimas obras de Saramago. Como já acontecera, por exemplo, em Todos os Nomes.
Contudo, não poderia não ler este livro. Demorou a fazê-lo, porque, infelizmente, longe vão os tempos em que pegava num livro e o lia de um fôlego. Tenho saudades dessa disponibilidade mental e de tempo.


A leitura deste livro também teve um episódio curioso. Com três quartos do livro lido deparo-me com 16 páginas em branco. Um erro de impressão evidente e verdadeiramente incomodativo.Tive que pedir emprestado outro exemplar ao meu pai para poder acabar o livro.
Por e-mail contactei a Caminho, e pouco depois (horas depois) recebi a resposta, informando-me sobre onde poderia fazer a troca do livro defeituoso, e com pedidos de desculpa. Optei pelo envio por correio porque os locais de troca não me ficavam em caminho. Enviei-o no dia 25.06. Ainda estou à espera do livro novo.
Quando chegar aviso.

5.7.04

Rota da Seda

Ultimamente tenho ouvido muito um disco que só recentemente me chegou às mãos e é fabuloso.


(Silk Road Journeys - When Strangers Meet, interpretado por Yo-Yo Ma & The Silk Road Ensemble)


Podem espreitá-lo aqui, mas garanto-vos que o ideal é irem a uma loja comprá-lo, e ler com atenção o livro da capa, ver os instrumentos usados, tudo enquanto são evolvidos pelos sons da China e da Ásia Central até chegar à Itália, numa recriação emocionante. Como bónus, levam um breve trecho do tema do filme Crouching Tiger, Hidden Dragon.

Este 'post' é especialmente para o Vasco. Este foi o disco de que te falei no sábado.

Grande bebedeira

Deslocando o rato para a esquerda ou para a direita, tentem manter o bêbado em pé.
São uns minutos de diversão. Depois chateia.

Vejam aqui.

Serviço de qualidade?

A semana passada a IGAE investigou dez taxistas que recolhem passageiros nas Chegadas do Aeroporto da Portela. Prendeu sete. Sim, sete.
Sete em dez taxistas especularam nos preços, quiseram enganar os clientes. 70% de aldrabões. É brilhante e revelador.
O presidente da associação dessa corja pretendeu justificar a conduta dos taxistas dizendo que eles têm que fazer render a espera de uma hora na fila, tanto mais que prestam um serviço de qualidade.
Serviço de qualidade? Onde? Que mais faz um taxista das chegadas do aeroporto que um taxista do Cais do Sodré? E desde quando isso pode ser argumento para praticar um crime?
Das poucas vezes que tenho precisado de taxi a partir do aeroporto, ando um pouco mais e vou aos taxistas das partidas. Ao que parece não fazem parte da máfia taxista da Portela. Até hoje não tive queixas.
Quantos visitantes do Euro terão sido chulados logo à chegada? Sim, porque muitos vão para hotéis de Lisboa, em viagens que são uma ofensa para aqueles tipos dos táxis que só querem é passeios até Cascais, ou Sintra.
Serviço de qualidade?
Palhaços...

Adeus

Sophia e Brando abandonaram a existência terrena. Viveram longas vidas. Eternizaram-se e serão lembrados por muito, muito tempo.
Adeus.

A selecção nacional perdeu a final. O Euro 2004 acabou. Esgotou-se a euforia da bola. É altura de descer à terra e olhar à volta. Há muita coisa que precisa da mesma energia.
Adeus.

A bandeira continua na minha varanda. Se Sampaio convocar eleições antecipadas, ficará lá mais uma semana. Senão...
Adeus.

Parece que hoje Barroso irá demitir-se, depois de ter assegurado que estaria com a sua gravata horrorosa na final da bola.
Este Governo está de partida. Não deixa saudades.
Adeus

2.7.04

Olhar


(fotografia de Urso Polar)

Só para partilhar a cor, e aliviar o stress.

Não quero acreditar que o facto está consumado

PSL foi eleito presidente do PSD num orgão da estrutura partidária, que nem sei bem qual é, mas no qual apenas três de cem votos foram contra tal ensejo. O discurso das hostes laranjas (não, não é da Holanda) defendem hoje que não pode haver dissolução do Parlamento e que este senhor é o ideal para nos governar nos próximos dois anos.
As suas contradições são tão manifestas, entre o que hoje dizem mas há dois anos defendiam depois de Guterres se demitir; na forma como sempre se opuseram a Santana Lopes e hoje o bajulam; na forma como se agarram ao poder de forma desalmada, imoral e incompetente, como uma lapa contaminada com crude.
Pacheco Pereira foi, ontem, extremamente claro e perspicaz, como nos tem habituado. Vejam aqui o que escreveu, não obstante só ter encontrado o link no Abrupto, pois, vá lá saber-se porquê, no Público On-line não havia maneira de aceder ao texto.
Diz um amigo meu, e cada vez mais tenho que concordar com ele, que só é pena o Pacheco Pereira ser de direita, porque a forma como vê as coisas é tão clara que até chateia que esteja tão certo.

Recuso-me a aceitar que PSL será PM, e o facto já está consumado. Ainda tenho fé que o PR assuma que a sua eleição para Presidente de todos os Portugueses dependeu do voto da esquerda e ponha fim a este embuste. Porque, se nem à direita, no eleitorado que pôs Barroso e Porta a governar, há consenso, se a esquerda está toda contra a solução, duvido que possa haver estabilidade política para pôr PSL a chefiar um Governo.

1.7.04

Motivação

O povo português está motivado. Motivado para ganhar o Campeonato Europeu de Futebol, carinhosamente conhecido por Euro, tal qual a moeda que todos os dias sai da carteira mais depressa do que entra.
Os rapazes da Selecção, ontem, estiveram bem. Cumpriram com o que se lhes exigia (depois da Inglaterra a Holanda parecia mais acessível)e até o Figo se fartou de correr. Se calhar fez-lhe bem ter sido substituído no último jogo.
Na Tribuna de Honra, a nossa Primeira Dama ofuscava tudo e todos com o seu patriótico visual. Aquela senhora tem um porte e uma presença fantásticos. Poucas pessoas com responsabilidades públicas se aventurariam a aparecer em público vestidas de bandeira, e ficar tão dignas quanto ela. Parabéns "Joselita".

Colado ao futebol, Durão Barroso entrega-se à Europa plagiando Scolari (ao falar do seu currículo e invocando a sorte imitou o selecionador na conferência de imprensa, depois do jogo com a Inglaterra, respondendo a uma provocadora questão de um jornalista inglês).
Pedro Santana Lopes sonha alto com a chefia do Governo de Portugal, não obstante pesos pesados do PSD o contestarem publicamente.
Quanto a isso, ouvi na rádio uma referência à crónica do Pacheco Pereira no Público. Porém, não consegui encontrá-la na net. Apesar de JPP aludir a tal crónica no seu blog. Tenho que esperar pelas 09h 00m para ir comprar o jornal (é quando abre a loja)pois estou curioso em ler o que diz.

Entretanto, quanto a matérias tão sensíveis como a sucessão política que se prepara, a mobilização é mais ténue. Mas existe. Assente nas novas tecnologias a palavra passa de boca em boca.
A favor, ou contra, sente-se vontade em agir. Mas, comparando com o futebol, é uma agulha no palheiro.
E o país começa a arder, só porque o calor voltou a apertar. A este ritmo, os incêndios irão diminuir. Por falta de combustível.

Sejamos optimistas.