29.11.04

Espectáculo Diário

Nos EUA viveu-se um período de grande esperança para uma grande minoria que alastrou para a Europa e muito do resto do mundo, sonhando com a derrota de George W. Bush.
Sabemos hoje que tal esperança foi vã, e no dia 2 de Novembro de 2004 uma maioria amedrontada, preferiu continuar com aquele Presidente, provavelmente só para não viver a incerteza sobre o estilo de governação do candidato democrata.
Por isso, é com um amargo de boca que vejo o meu programa favorito de informação (e que passa na SIC Radical com cerca de um mês de atraso) por onde passam figuras da política, e não só, norte-americana ainda cheias de esperança por uma vitória que nem por perto andou.
Falo do DAILY SHOW, with Jon Stewart.
Apresentado por um tipo com muita piada, inteligente, bem informado e com uma ironia corrosiva a equipa do Daily Show transforma informação, e factos verídicos, em comédia, e inventa o que for necessário para fazer mais comédia.




Porém, não se desvia assim tanto da realidade, pelo que nos permite aperceber de certas e pequenas coisas que ocorrem e que são irritantemente deploráveis.
Os seus "repórteres" são melhores que bons. São excelentes, e até parece que estão nos locais a relatar. É impressionante como, quando efectivamente saiem do estúdio, conseguem as entervistas mais irónicas quer com desconhecidos como também com figuras públicas. Com eles nada é sagrado, e todos têm um lado cómico e ficam desarmados perante as perguntas mirabolantes que inventam.
São eles



Ed Helms



Stephen Colbert



Rob Corddry



Samantha Bee



Steve Carell

E o comentador residente, que põe a um canto qualquer Professor Marcelo, o irado



Lewis Black.

Vejam, que não se arrependem. É na SIC Radical, às 21.00 horas de 2ª a 5ª, repetindo à hora de almoço de Sábado ou Domingo (não tenho a certeza).


Ultrajado

Não tenham dúvidas: este é o rosto de quem nos vai tramando a cada dia que passa.



O discurso oco, plástico e falso, não consegue, sequer, manter agregados os seus sicários. Se foi para esta estabilidade que o Sr. Presidente da República aceitou o governo liderado por PSL, então o melhor é respirar fundo, pois neste momento deve ter uma grande espinha enfiada na garganta.
Ainda vai a tempo para emendar a mão, senhor PR. Dissolva esta trampa de Governo que não governa e gasta muito dinheiro (em quanto orça cada remodelação) e é formada por gente que está mais preocupada em olhar para as costas com medo de ter uma faca enterrada nas omoplatas, sem qualidade para guiar o barco. Assim como assim, Dr. Jorge Sampaio, tem medo de quê? de Ficar impopular? Deixe lá, que constitucionalmente já não se pode recandidatar e, depois de PR apenas sobra a reforma.

A cada dia que passa sinto o ultraje de um Governo não eleito, incompetente e instável, a atrasar irremediavelmente o país, com operações de charme e cosmética sem fundamento estrutural.

26.11.04

Não é dificil fazer previsões, pois não?

A histeria que rodeou o início do julgamento do processo Casa Pia mostrou o verdadeiro nível dos nossos meios de comunicação social. Sem regras, educação ou qualidade, capazes de esticar o directo sem factos, e de comentar as suposições, conseguem irritar-me tanto como os básicos "populares" que injuriam ou apoiam os arguidos, de preferência quando a câmera aponta.
Irra!, que não há paciência.
Como diria um anarquista sem outras soluções plausíveis: "Isto só à bomba!"

25.11.04

Por estes dias

Começa hoje, ou antes, está agendada para hoje a primeira sessão de julgamento do processo dito "Casa Pia". Sequiosos, os elementos da comunicação social preparam o festim. Têm razão em fazê-lo. Porque o cidadão comum com quem me cruzo na rua quer saber tudo.
Tudo o que não interessa. Oiço discutir o historial biográfico dos juízes, os boatos e rumores sobre os factos e os arguidos, e vejo convicções na praça pública a julgar aquilo que apenas aos Tribunais cumpre julgar.
O processo é uma autêntica pérola reveladora do que é o nosso processo penal. Trata-se de forma idêntica o que é diferente e complica-se o apuramento da verdade com um excesso de formalismo burocrático.
Por muitos factos que tenha a acusação, deduzida contra muitos arguidos; por muito vastas que sejam as contestações; por muitos que sejam os documentos juntos para prova, não posso aceitar que um processo atinja, fisicamente, os noventa volumes. Cada volume tem 200 páginas. 18.000 folhas de processado! Estamos a falar de um processo que, por si, tem tanto papel como 100 processos de tamanho médio.
É uma tarefa hercúlea, julgar algo assim, e desde já aproveito para deixar publicamente expressos os meus votos de bom desempenho das suas funções às duas Juízes do colectivo, porque as conheço pessoalmente e julgo que merecem tudo de melhor.
Temo, contudo, que o trabalho da primeira instância, venha a ser inglório.
O estilo utilizado por algumas das defesas permite antever uma autêntica batalha sem tréguas, onde vai ser mostrada toda a panóplia de expedientes que podem enrolar a meada enchendo-a de nós e não permitindo que se tricote o que quer que seja.
A montanha irá parir um rato. E em vez de se procurar extrair preciosas informações para compreender as falhas do sistema, corrigindo-o, aperfeiçoando-o e evoluindo, bodes expiatórios serão encontrados, "queimados", alterações legais fúteis e desenquadradas serão realizadas e ficará tudo na mesma ou pior até ao "escândalo" seguinte.

O timming não poderia ser melhor. Entretidos com o Casa Pia, com o FC Porto a discutir a liga dos campeões, poucos escutam, sequer, a notícia da remodelação governamental.
Alto!, dirá PSL, não é uma remodelação, é um ajuste, um acerto na distribuição das pastas.
UMA TRETA!!! O Governo actual é a maior nódoa que já passou por São Bento, e faz-me ter impensáveis saudades do prepotente Cavaco da segunda maioria absoluta, ou do incapaz Guterres do segundo mandato. Este Governo transpira lodo, respira pântano, e contamina tudo aquilo em que mexe, pouco fazendo, mas muito estragando. E, como os meninos estão importunados com as queixinhas que deles fazem, mudam-se as cadeiras e diz-se ter resolvido o problema.
Nunca foi tão verdadeira a frase "as moscas mudam mas a merda é a mesma".

Aparentemente o STA revogou as decisões de 1ª e 2ª instância e decidiu que o Tunel do Marquês pode continuar. Esperemos não arranjar outro buraco como o de Campolide ou o do metro no Terreiro do Paço (há quantos anos estão em obras a tentar recuperar este túnel?). A casa que vou comprar está, espero, suficientemente longe da Rotunda do Marquês para não sofrer quando se der o afundamento.
Espero igualmente, muito sinceramente, que durante esta paragem se tenha estudado melhor a obra, e que não se cometam erros já muito habituais nas nossas obras públicas. Contudo, sou capaz de apostar que o túnel só estará pronto... lá para finais de 2008. Alguém quer apontar outra data?

24.11.04

Ânimos exaltados

Por vezes penso se não estarei a tornar-me intolerante, ou fascista (cruzes canhoto, lagarto, lagarto, lagarto). Mas ontem passei-me enquanto via na televisão as imagens da intervenção policial da GNR em Canas de Senhorim e ouvia as queixas dos populares.
Ouvi falar em "violência", em "desproporcionalidade", em "abusos" e "prepotência das autoridades".
Está tudo parvo?
Não ponho em causa a luta de Canas a Concelho, apesar de não me interessar minimamente, de desconhecer os argumentos, e achar que anda muita gente a pôr-se em bicos dos pés para ser concelho só porque tem rivalidades com os vizinhos que efectivamente são concelho. Num interior cada vez mais despovoado, custa-me compreender, por vezes, as teorias da divisão para governar melhor (?).
Mas, adiante. Um grupo, muito reduzido, de cidadãos sentou-se na estrada, uns agarrados aos outros, interrompendo o trânsito. Técnica de manifestação que um governo de Cavaco criminalizou após os incidentes na ponte 25 de Abril, impõe a intervenção policial para que lhe seja posto fim. São as regras do jogo. A polícia tem que intervir, o manifestante tem que resistir, mas há limites que convém não ultrapassar, como seja o da violência. Quem o fizer, rapidamente perde a razão.
As forças policiais foram aprendendo isso (viu-se com os ingleses no Algarve, durante o Euro) e ontem demonstraram mais uma vez o quanto têm evoluído. Sem violência, repito, sem correrem com os manifestantes à bastonada, fizeram um cordão que não permitiam que fosse ultrapassado, apenas reagindo com empurrões às investidas desenfreadas dos populares que estavam do lado de fora, e com a força dos braços pegavam nos manifestantes que estavam na estrada e depositavam-nos fora do perímetro definido.
Os manifestantes contorciam-se, gesticulavam, abanavam-se e os agentes da GNR não usavam mais força que a necessária. Não vi ninguém ser batido (excepto um GNR que creio ter levado um tabefe no meio de uma confusão), lançado ao solo e dominado com agentes em cima de si, não vi a apregoada violência.
Caramba, quando à dez anos o Corpo de Intervenção espancou (é este o termo) a torto e a direito os estudantes que se perfilavam em frente à Assembleia da República, ou os trabalhadores da TAP que estavam em greve, ou os trabalhadores na Marinha Grande, que foram perseguidos de bastão em punho, desferindo pancada mesmo naqueles que se refugiavam em casas, aí sim, havia manifesto excesso nas intervenções. A polícia agia com muita violência e era legítimo protestar.
Mas ontem?
Meus amigos, qualquer manifestação corre o risco de ser desmobilizada pela polícia. Se queriam ter mais sucesso, em vez das quatro ou cinco dezenas de manifestantes tinham que juntar quatro ou cinco milhares. Então, talvez lhes fosse dada voz. Mas, seguindo o princípio da proporcionalidade, creio que o Presidente da República tem razão quando diz que aquela exigência e forma de actuação é, actualmente, uma afronta à democracia em que vivemos.
E a polícia, pois bem, a mesma tem as suas funções e temos que respeitar o exercício correcto das mesmas. Sem tolerar desmandos ou excessos, há que aceitar aquilo que ontem vi.
Sob pena, então, de vivermos uma anarquia.

23.11.04

Anos '80 - 80 memórias (19)

BD em brasileiro

Nos anos 80 iniciou-se o processo que pôs fim às BD's traduzidas em brasileiro. Eu era grande consumidor de livros aos quadrinhos, fossem eles da disney ou de cowboys, ou policiais ou de guerra. Tinha parentes e amigos com muitos, muitos livros, e emprestávamos uns aos outros os mesmos exemplares vezes sem conta. Líamos e relíamos as mesmas histórias e por vezes discutíamo-las, como se de um clube de leitura se tratasse.

Quanto à língua brasileira, tenho a certeza que é preferível ter os livros em português de Portugal. Porém, seja pela idade seja porque objectivamente assim passou a ser, a partir do final dos anos 80 comecei a achar que as histórias dos livros da Disney se tornaram aborrecidas, demasiado "politicamente correctas" e até mesmo irritantes. E sempre associei essa mudança à mudança do idioma da tradução.

Quem não cresceu com as aventuras de Pateta, Donald, Mickey e os Metralhas, Mancha Negra e Bafo de Onça, Patinhas e Maga Patológica, Peninha (e o Pena das Selvas), Super-Pateta, Super-Pato, Vóvó Donalda, Zézinho, Huguinho e Luisinho, Margarida e Clarabela, Horácio e o Gastão, Patacôncio e tantos, tantos mais.

Quem não recorda a turma da Mónica, com o Cebolinha, a Magali das melancias, o Pélézinho e o desgraçado do coelhinho a levar nós nas orelhas...

E depois aqueles mais antigos que adorava, que eram os livros da colecção Condor, e da colecção FBI, onde havia histórias do Major Alvega (Jaime Eduardo de Cook e Alvega, o luso-britânico piloto da RAF que combatia os malvados alemães), policiais e "cobóiadas". O meu favorito: Tex, cujas histórias tinham acção e boa-disposição.

O meu gosto pela BD vem desses livros e manteve-se no tempo, evoluindo, contudo. Por isso, quando hoje vou, por exemplo, à FNAC, a secção da Banda Desenhada esmaga-me, pela vontade de tudo comprar. O preço, porém, proíbe tais desvarios, pelo que muitas das vezes pego num livro, sento-me e leio-o ali. Hoje, tudo em português, ou na versão original. O "brasileiro", ou português do Brasil, evaporou-se.

Dificuldades no Blogger

Nos últimos dias tenho tido alguns desentendimentos com o blogger. Quando pretendo entrar na página do editor, vou dar às paginas de edição de outros blogues (?!!). Felizmente, não consigo editá-los, ou seja, criar textos e inseri-los nos blogues de outra pessoa, o que me faz pensar que mesmo que alguém entre na minha página não poderá intrometer-se no meu blog.
Infelizmente o acesso bloqueia ali, pois nem consigo sair daquelas páginas, nem entrar na minha.
Esperemos que seja um desvario passageiro do serviço...

19.11.04

Em português, por favor.

"Concorda com a Carta de Direitos Fundamentais, a regra das votações por maioria qualificada e o novo quadro institucional da União Europeia, nos termos constantes da Constituição para a Europa?"

O que é isto?
O que é que estão a perguntar?
Sei lá.
Isso é só para dar mais dinheiro aos políticos.
Acho que nem vale a pena lá ir, se não conta para mudar o governo.

Estes serão os comentário mais ouvidos relativamente ao referendo que pretendem fazer...
São perguntas destas que nos fazem perceber que, não importa quem esteja no poder, os partidos portugueses que acedem ao poder executivo e legislativo são demasiado parecidos para nos deixar seguros que, com alternância, se manterá o comboio nos carris.

E que história mais absurda foi aquela do Velho Dinossauro Mário Soares dizer que, se não estivéssemos na União Europeia, por esta altura, já teria havido um golpe militar? Que o homem diz disparates, já eu sabia... mas que está tonto de vez é que ainda não me apercebera.

Bom fim-de-semana.

17.11.04

À queima-roupa

Por alguma razão, uma guerra não é vista como algo bom. Nas guerras mata-se e morre-se, os exércitos destroem, destroem-se a acabam sempre por atingir os civis. E aos soldados é exigida uma actuação que ultrapassa a compreensão humana.
Falo, obviamente, de cor, mas os casos de stress pós-traumático, e tudo aquilo que li, escrito por quem foi, de facto, combatente, permitem-me dizer que uma guerra muda o homem vestido de soldado.
Ao soldado pede-se que obedeça, que não pense para além das ordens que lhe são dadas, permitindo-lhe apenas escolher entre fazer aquilo que lhe é ordenado de uma forma ou de outra, se porventura o seu superior lhe der oportunidade de escolha.
Ao soldado pede-se que mate. Ao longe, mais perto, no corpo-a-corpo.
Ao soldado pede-se que morra, e que não questione o momento da sua morte, decidido no calor da batalha enquanto a sua identidade se perde na frieza de um exército e nos números das baixas mais tarde reveladas.
Ao soldado pede-se que não seja uma pessoa, um homem. Ao soldado exige-se o maquinismo frio de um aparato de guerra.

Ontem, grande celeuma se levantou com as imagens captadas por uma câmera da CBS que acompanhava uma companhia em Falujah, respeitante à execução de um combatente iraquiano. São, sem dúvida, imagens chocantes.
A companhia entra numa construção, um espaço amplo com janelas, pejado de corpos de iraquianos. São os mortos e os feridos ali abandonados pelos seus companheiros e, ao que consta, há mais de 24 horas sem assistência. Os militares norte-americanos invadem o espaço assumindo rotinas de segurança, e começando a abordar os corpos deitados, distinguindo entre mortos e feridos, avaliando os perigos que possam existir. É então que um dos soldados começa a vociferar contra um dos iraquianos, dizendo que o indivíduo estava a fingir-se morto quando estava apenas ferido.
Berros, palavrões, diria mesmo um diálogo alucinado que termina com o acto de, a dois ou três metros do corpo estendido, o erguer da arma ao ombro e um disparo à queima-roupa.
"Agora sim, estás morto", foram as palavras (cito de memória) do soldado. Segundo o repórter da CBS o tiro acertou na cabeça do iraquiano.

A conduta do soldado é condenável, sem dúvida, pois nas guerras também há regras, e esta actuação está para além do permitido. Porém, quando se colocam milhares de homens naquelas condições, pesadamente armados e com ordens para matar o inimigo, é natural que ocorram tais eventos. Ao que parece o soldado teria até sido ferido na véspera.
A única diferença entre esta e as outras vezes foi a câmera ali ao lado que divulgou as imagens pelo mundo. Porque não tenho dúvida que, em qualquer guerra, esta cena se repetiu e repete vezes e vezes sem conta. A ficção castrense está pejada de exemplos, e não acredito que os autores inventassem todos o mesmo tipo de comportamento. Quem viveu guerras certamente terá conhecimento de atrocidades praticadas contra ou pelos seus irmãos de armas.

Este soldado ficou marcado. Pelo menos conseguiu um dos seus desejos mais que certos: deixou a frente de combate. Foi suspenso das actividades bélicas e aguarda o desenrolar do inquérito. Creio que os EUA arranjaram mais um bode expiatório para se mostrarem exemplares e implacáveis. Porque no teatro das operações, apenas mostram a ineficiência natural de uma operação mal iniciada.

16.11.04

Comunicação Social e memória

Desde dia 9, com a alteração da grelha da TV Cabo, passei a ter disponível o canal RTP Memória. Ontem, enquanto "zapava" à procura de algo, deparei-me com o célebre debate do Verão quente entre Soares e Cunhal. Só vi um pedaço da peça, para atentar nos argumentos que se expunham sobre o tema então em debate. Naquele particular segmento do debate discutia-se o controlo dos orgão de comunicação social, o DN, o caso República, a RTP e a Rádio Renascença...
Trinta anos depois é curioso como se conseguem manter actuais algumas das considerações. É certo que a maioria dos argumentos são datados e eivados de uma ideologia e de um espírito "revolucionário" que hoje não têm paralelo. Mas os perigos são os mesmos.
A diferença é que naquela altura, animados pela sede de liberdade, pelo excesso da revolução, pela inconsciência da provocação que poderia descambar em guerra civil, a diferença, dizia eu, está na mobilização popular. Assim como foram destruídas sedes do PCP e de outros partidos da extrema esquerda, foram tomadas as direcções dos jornais, televisão e rádios. Da esquerda à direita a massa, quantas vezes manipulada e desinformada, reagia e obrigava a intervir para retomar o caminho a direito.

Hoje, vêem-se manobras de bastidores, golpes de "administração", danças das cadeiras nos lugares chave, e uma vergonhosa manipulação da comunicação social aos interesses "do capital e do governo de direita".

E chegamos a um ponto que há quinze anos julgava impensável. Numa altura em que o jornalismo ainda tinha credibilidade...

15.11.04

Coisa estranha...

Estava eu a mudar as pedras do meu gato, tarefa na qual emprego jornais para forrara a sua caixa e servir de base a esta, no chão, quando abri o "Público" de sexta-feira, 5 de Novembro, na página dos classificados. Então não é que ali, junto das mensagens do privado, ou íntimo, ou lá como eles classificam neste jornal, não está um surpreendente anúncio em destaque?
As minhas capacidades digitalizadoras não foram brilhantes e não consegui digitalizar o anúncio num formato que o Photobucket aceitasse. Por isso, enquanto o não fotografo e, depois, junto a imagem, cá fica o teor do dito anúncio:
DEPUTADO, em bold e sublinhado, era o título. Talvez por isso me chamasse a atenção quando o seu destino era já o da reciclagem via wc felino.
Por baixo, estendia-se o texto que segue.
"Ex-militante do PSD ofereço-me para qualquer partido de esquerda. Não sou como o Tino de Rans, sei falar e atacar. Cansado deste maldito desgoverno de 2 anos e meio. Aos jornalistas pergunto: Vamos reeditar o Jornal do Medo, Actualidades, Barricada do qual fui colaborador no tempo de Salazar? Estou pronto mesmo sujeito à A.A.C.S., PIDE, censura ou outros. Porquê ninguém respondeu? Já sei, podem telefonar para 966 803 594."

Estranho, não é?
Aceitam-se opiniões sobre o que raio foi este anúncio.
Logo que o tiver fotografado, ponho-o no blog só para o mostrar...

11.11.04

Anos '80 - 80 memórias (18)



Quem não se lembra deles? A melhor série de desenhos animados dos anos oitenta (bastante imparcial, não sou?) e que, ainda hoje, é espectacular.
Recordo-me de ter uma camisola de alças, com aquela cor castanha-esverdeada, que a minha mãe queria fazer desaparecer, mas que tinha a minha resistência por causa do Conan. Era um ídolo. As suas emocionantes aventuras enchiam as brincadeiras nas tardes solharengas e ainda hoje são inesquecíveis.
O arpão. O mergulho durante uma eternidade, tal a sua capacidade de suster a respiração. As quedas gigantes. Segurar-se apenas com os dedinhos dos pés. Os gritos: "LANAAAA!!!", "CONAAAAAAN!!!", "JIMSYYYYY!!!", "OGI-SAAAAAN!!!"

Em Julho de 2008 deu-se a III Guerra Mundial. A utilização de armas magnéticas colocou a Humanidade à beira da extinção. Metade do Mundo desapareceu pois a crosta terrestre partiu-se, a Terra foi desviada do seu eixo, e os continentes foram divididos e quase integralmente afundados nas profundezas do mar...
Um grupo de pessoas tentou fugir para o espaço mas a nave caíu, despenhou-se numa pequena ilha e assim sobreviveu miraculosamente à devastação.
Conan nasceu e cresceu na ilha. Foi a primeira vida pós-holocausto para aquele grupo e uma centelha de esperança. Anos depois, só Conan e o seu avó adoptivo estão vivos, isolados na ilha. Conan tem capacidades físicas incríveis e uma impulsividade, ingenuidade e bondade modelo.
Contudo, com o aparecimento de Lana na ilha tudo se altera. Conan é exposto à vida que existe para lá do oceano, em Indústria, onde ainda há tecnologia, armas e um desejo de reactivar as fontes de energia que alimentaram as armas que um dia destruíram o mundo.

Conan, O Rapaz do Futuro é uma mítica série criada em 1978 por Hayao Miyazaki, o realizador da hoje badalada "A Viagem de Chihiro" e acompanhou o fim da infância no início dos anos 80.

Recentemente lançado em DVD



de imediato comprei a primeira caixa. Já saíu a segunda caixa, com o resto da série, e já a tenho na prateleira, à espera de oportunidade para a começar a ver.

Os primeiros treze episódios foram revistos, estes anos depois, com um prazer incrível. Hoje sou incapaz de ver apenas um episódio de cada vez, pelo que fico a pensar como aguentava, naqueles tempos, durante uma semana para saber o que se iria passar no episódio seguinte.
Mas também me apercebo de motivos para as actuais mentes decisoras optarem por não repor a série. Conan sofre agressões brutais para um míudo, por vezes gratuitas. Jimsy bebe e fuma. Lana, de apenas 11 anos, é cobiçada pelo comandante de um navio que por ela está apaixonado... Hoje em dia tais abordagens não ficam bem na programação.

Mas ficam bem no DVD. Rever os episódios e admirar a qualidade da animação e a emoção das aventuras. Recuperar uma memória que, volta e meia, aparecia nas conversas. Quem, ao falar dos desenhos animados dos anos oitenta, deixou de fora o Conan? Só alguém muito distraído.

Um dia destes vou buscar outras animações. Há, pelo menos, mais uma tão inesquecível como esta. Quem adivinha?

9.11.04

Anos '80 - 80 memórias (17)

Beta e VHS

Apareceram em força nos anos oitenta e vieram mudar os nossos hábitos de vida. Primeiro os Beta e depois os VHS, e durante algum tempo discutiu-se qual seria o formato melhor. Discussão fútil pois o Beta foi completamente obliterado e quem gastou dinheiro num desses aparelhos ficou agarrado a um inútil monte de tecnologia.
Pensando bem, apesar de me lembrar das cassetes beta, mais pequenas, não me recordo de qualquer leitor deste formato.
Mas ficou o VHS. A cassete que nos dava filmes a ver, por preços irrisórios, em comunhão com os amigos.

O primeiro filme de vídeo que vi, em casa do meu colega de carteira da escola, foi o "Desaparecido em Combate", com o Chuck Norris. Meia dúzia de putos no 8º ano a ver um filme de porrada e violência gratuita.
Com o aparecimento dos vídeo-clubes, aos poucos a ida ao cinema em grupo começou a ser substituída pela ida a casa de fulano para ver um filme. Dividia-se o aluguer da cassete, ou das cassetes, e passávamos horas a ver filmes.
Graças ao vídeo, vi os primeiros filmes porno, aos quais alguém sempre conseguia deitar a mão. Mas também filmes decentes, e variados, de Bruce Lee aos clássicos. Alguns anos mais tarde, as sessões tornavam-se nocturnas e prolongavam-se pela madrugada, o que chegou a dar-me problemas por chegar a casa tarde, sem avisar, apenas porque me deixei ficar a ver mais um filme...

Como de costume com as novas tecnologas, foi já tarde que o meu pai comprou o vídeogravador (aliás, hoje tem um leitor de DVD porque eu e a minha irmã lho oferecemos o ano passado). Com o aparelho, passei a poder gravar os programas "bons" da televisão e que, em regra passavam fora de horas e sujeitos a intervalos que chegavam a ter vinte minutos. Mas, então, já estávamos entrados nos anos '90 pelo que é uma memória de outra década.

Ainda hoje não dispenso o VHS, para gravar aquele programa que quero ver e não posso. Normalmente séries que estou a acompanhar. Pouco mais. Os filmes foram definitivamente adoptados pelo formato DVD e vê-los em VHS, sem aquele som que o digital proporciona já não é compensador. Pressinto que, brevemente, o formato de gravação em disco rígido será a solução generalizada para gravar o tal programa que não queremos perder.

Ainda assim, como podem ver pelo que vou escrevendo, não prescindo de ir ao cinema. Ainda que hoje, ver um filme em casa esteja muito longe daquele "Desparecido em Combate". Mas nada oblitera a memória daqueles aprelhos que apareceram com cassetes muito grandes e nos proporcionaram uma alternativa de hábitos.

8.11.04

Serviços Secretos

Querem ver um filme de acção em que as coisas não parecem impossíveis, estapafúrdias ou protagonizadas por super-heróis?
Querem ver um filme em que os agentes secretos têm forças e fraquezas, são personagens com conteúdo e sofrem porque, sendo peças do xadrez da espionagem, não dominam tudo o que se passa?
Querem agentes secretos que têm equipamento sofisticado, que realmente existe?
Querem acção condimentada com um enredo que exige concentração para acompanhar o desenrolar da história?
Então, vejam o filme "Agentes Secretos" de Frederic Shoendoerffer



Não sendo um filme deslumbrante é, certamente, uma proposta muito interessante pela abordagem "realista" do temo. Não só tem uma intriga a lembrar enredos dos filmes de espionagem na tradição britânica, como tem acção empolgante a condimentar o prato.

E tem Monica Bellucci, o que já é um incentivo para quem a aprecia... como actriz, obviamente.



Acompanhada por Vincent Cassel são uma dupla de agentes secretos franceses que vão intervir no campo do tráfico de armas do Leste da Europa para uma Angola onde recomeçou a guerra civil. Os interesses envolvidos nem sempre são claros e os agentes são manipulados ao sabor dos interesses da "Casa".
Não consegui deixar de pensar no Rainbow Warrior quando vi esta equipa de agentes a minar um navio. E mais uma vez fiquei convencido que, por mais efeitos especiais e dinheiro que os americanos usem nas suas perseguições automóveis de Hollywood, os filmes europeus de acção têm as melhores e mais realistas perseguições já feitas.



Por achar que está bem feito, bem interpretado e filmado, recomendo. Vale bem a pena o dinheiro do bilhete.

Já agora, os tipos não se cansam de aumentar as entradas para o cinema?

5.11.04

Anos '80 - 80 memórias

Quando andava na escola preparatória (era assim que se chamava), no 1º e 2º ano do ciclo preparatório (e não 5º e 6º ano, como agora se chamam), havia duas disciplinas que chegavam à centésima lição: Português e Matemática.
Fazia-se então a festa da 100ª lição, na escola, na sala de aulas, com direito a comida, refrigerantes e música. Era uma hora diferente.
Acumulavam-se bolos e doces, coca-cola e sumol e alguém levava um gira-discos, daqueles em forma de mala. Não se usavam rádios ou leitores de cassetes. Era um gira-discos no qual se punham LP's e singles, com Fisher-Z, UHF, Roling Stones, o "Chico Fininho", o "Patchouli" e o "Chamem a Polícia", e muitas, muitas vezes, aquela música cujo interprete não recordo, que se chamava "Enola Gay"
As raparigas ficavam de um lado, os rapazes de outro, e aqueles que fossem dançar juntos eram olhados com inveja, mas alvo de gozo repetido. A timidez imperava, e quer eles, quer elas, temiam que a pessoa errada os convidasse para dançar um "slow". Quando muito, nas músicas mais mexidas e conhecidas, saltava tudo para o meio da sala e pulava desenfreadamente dizendo que dançava.
Tinha piada.
Começava com antecedência o planeamento, vendo o que é que cada um levava. No dia, durante o intervalo, desviavam-se as mesas para os lados, instalava-se a comida e o gira-discos e durante uma hora fazia-se uma grande festa sob o olhar da "stôra" que apenas intervia em casos de manifesta necessidade deixando-nos descobrir os caminhos mágicos do convívio.

Ainda haverá festas destas? Duvido... não me parece que sejam aceites como o eram antigamente. Aliás, ainda chegarão os miúdos a ter 100 lições de matemática ou português num ano?
Nos anos oitenta, ou pelo menos ali mesmo no início da década, era assim.

4.11.04

Mais do mesmo

Os americanos entregaram a George W. Bush a maior votação alguma vez expressa para eleger um Presidente.
Agora não há dúvidas: os Americanos têm o presidente que merecem. Preferiram o acossado ao ponderado.
O problema é que a escolha do Presidente dos E.U.A. é igualmente uma escolha para o resto do mundo. Porque os tipos nunca se confinam às suas fronteiras.
Pelos vistos os americanos cederam ao medo. é a explicação que mais se ouve no mundo dos comentadores, e é aquela que se afigura mais lógica. Michael Moore falou desse "medo" no "Bowling for Columbine" e cada vez mais acredito que os "todo-poderosos" E.U.A. agem motivados pelo medo. E como qualquer animal selvagem, acossados, reagem da pior maneira, agredindo.
Vamos ter mais quatro anos do mesmo. Guerra. Especulação no mercado petrolífero, com altas desproporcionadas do preço do petróleo. Instabilidade acrescida no Médio Oriente. Terrorismo globalizado e sempre inesperado. Favorecimento de certos grupos económicos. Desrespeito pela Natureza, e continuação da agressão ecológica. Medo. Os americanos ficarão ainda com um déficit em crescendo, com o desemprego e pobreza alargados, com a falta de segurança, um Estado securitário... e o sentimento de serem os maiores... porque é isso que continuam a dizer os filmes e os media que consomem.

E nós não os podemos ignorar...
Palhaços.

2.11.04

Em dia de Eleições Norte-Americanas



Em dia de eleições nos EUA, um olhar sobre o último filme de Wim Wenders, "Land of Plenty" - Terra da Abundância, não poderia ser o mais adequado.
Há já muito tempo que o realizador nos habituou ao seu olhar pacífico e bem medido para as paisagens, as pessoas, os lugares, pelo que esteticamente este filme não foge à regra e é de uma beleza atroz.
E, com o manto da ficção sobre o reencontro entre sobrinha e tio, duas pessoas tão diferentes na forma como fazem a leitura do mundo que as rodeia, Wim Wenders entra na América actual, interior, pobre. A américa que Hollywood não mostra. Porque normalmente, nos filmes, até os pobres são "cool".
Em entrevista que li no "Y" de sexta-feira (n' O Publico), o realizador diz que vive nos EUA há oito anos e que detestaria que certas pessoas que agora estão próximas dos corredores do poder, com as suas ideias de extrema-direita, pudessem pôr em causa aquilo que o fez escolher aquele país. Creio que fez por isso, que deu o seu contributo, válido e eficaz, na luta por uma mudança. Na luta contra a ignorância.
Porque, nos EUA, cada vez menos pessoas sabem mais sobre a realidade. O resto, é intoxicação, propaganda, desconhecimento, ignorância, falta de interesse...



Os actores estão fabulosos na abordagem dos seus personagens. Uma jovem, filha de missionários, que regressa ao país ao fim de dez anos, vinda de Israel e Palestina, teno passado pela África profunda. Educada na tolerância, na caridade, na Fé.



Ele, ex-combatente da Guerra do Vietnam, com sequelas da guerra, e sempre alerta, despertado pelo 11 de Setembro, fazendo as vezes de vigilante para ajudar o país. Cada árabe é um inimigo. Cada pacote na rua uma bomba.

Juntos vão assumir os fantasmas que o 11 de Setembro despoletou em cada um. Medos diferentes. Assim como eles. Tão diferentes, e com tanto a aprender um com o outro.

Tudo pelo olhar de Wim Wenders. Ao seu melhor.
Imperdível, é como qualifico este filme.