2.11.04

Em dia de Eleições Norte-Americanas



Em dia de eleições nos EUA, um olhar sobre o último filme de Wim Wenders, "Land of Plenty" - Terra da Abundância, não poderia ser o mais adequado.
Há já muito tempo que o realizador nos habituou ao seu olhar pacífico e bem medido para as paisagens, as pessoas, os lugares, pelo que esteticamente este filme não foge à regra e é de uma beleza atroz.
E, com o manto da ficção sobre o reencontro entre sobrinha e tio, duas pessoas tão diferentes na forma como fazem a leitura do mundo que as rodeia, Wim Wenders entra na América actual, interior, pobre. A américa que Hollywood não mostra. Porque normalmente, nos filmes, até os pobres são "cool".
Em entrevista que li no "Y" de sexta-feira (n' O Publico), o realizador diz que vive nos EUA há oito anos e que detestaria que certas pessoas que agora estão próximas dos corredores do poder, com as suas ideias de extrema-direita, pudessem pôr em causa aquilo que o fez escolher aquele país. Creio que fez por isso, que deu o seu contributo, válido e eficaz, na luta por uma mudança. Na luta contra a ignorância.
Porque, nos EUA, cada vez menos pessoas sabem mais sobre a realidade. O resto, é intoxicação, propaganda, desconhecimento, ignorância, falta de interesse...



Os actores estão fabulosos na abordagem dos seus personagens. Uma jovem, filha de missionários, que regressa ao país ao fim de dez anos, vinda de Israel e Palestina, teno passado pela África profunda. Educada na tolerância, na caridade, na Fé.



Ele, ex-combatente da Guerra do Vietnam, com sequelas da guerra, e sempre alerta, despertado pelo 11 de Setembro, fazendo as vezes de vigilante para ajudar o país. Cada árabe é um inimigo. Cada pacote na rua uma bomba.

Juntos vão assumir os fantasmas que o 11 de Setembro despoletou em cada um. Medos diferentes. Assim como eles. Tão diferentes, e com tanto a aprender um com o outro.

Tudo pelo olhar de Wim Wenders. Ao seu melhor.
Imperdível, é como qualifico este filme.

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