24.11.04

Ânimos exaltados

Por vezes penso se não estarei a tornar-me intolerante, ou fascista (cruzes canhoto, lagarto, lagarto, lagarto). Mas ontem passei-me enquanto via na televisão as imagens da intervenção policial da GNR em Canas de Senhorim e ouvia as queixas dos populares.
Ouvi falar em "violência", em "desproporcionalidade", em "abusos" e "prepotência das autoridades".
Está tudo parvo?
Não ponho em causa a luta de Canas a Concelho, apesar de não me interessar minimamente, de desconhecer os argumentos, e achar que anda muita gente a pôr-se em bicos dos pés para ser concelho só porque tem rivalidades com os vizinhos que efectivamente são concelho. Num interior cada vez mais despovoado, custa-me compreender, por vezes, as teorias da divisão para governar melhor (?).
Mas, adiante. Um grupo, muito reduzido, de cidadãos sentou-se na estrada, uns agarrados aos outros, interrompendo o trânsito. Técnica de manifestação que um governo de Cavaco criminalizou após os incidentes na ponte 25 de Abril, impõe a intervenção policial para que lhe seja posto fim. São as regras do jogo. A polícia tem que intervir, o manifestante tem que resistir, mas há limites que convém não ultrapassar, como seja o da violência. Quem o fizer, rapidamente perde a razão.
As forças policiais foram aprendendo isso (viu-se com os ingleses no Algarve, durante o Euro) e ontem demonstraram mais uma vez o quanto têm evoluído. Sem violência, repito, sem correrem com os manifestantes à bastonada, fizeram um cordão que não permitiam que fosse ultrapassado, apenas reagindo com empurrões às investidas desenfreadas dos populares que estavam do lado de fora, e com a força dos braços pegavam nos manifestantes que estavam na estrada e depositavam-nos fora do perímetro definido.
Os manifestantes contorciam-se, gesticulavam, abanavam-se e os agentes da GNR não usavam mais força que a necessária. Não vi ninguém ser batido (excepto um GNR que creio ter levado um tabefe no meio de uma confusão), lançado ao solo e dominado com agentes em cima de si, não vi a apregoada violência.
Caramba, quando à dez anos o Corpo de Intervenção espancou (é este o termo) a torto e a direito os estudantes que se perfilavam em frente à Assembleia da República, ou os trabalhadores da TAP que estavam em greve, ou os trabalhadores na Marinha Grande, que foram perseguidos de bastão em punho, desferindo pancada mesmo naqueles que se refugiavam em casas, aí sim, havia manifesto excesso nas intervenções. A polícia agia com muita violência e era legítimo protestar.
Mas ontem?
Meus amigos, qualquer manifestação corre o risco de ser desmobilizada pela polícia. Se queriam ter mais sucesso, em vez das quatro ou cinco dezenas de manifestantes tinham que juntar quatro ou cinco milhares. Então, talvez lhes fosse dada voz. Mas, seguindo o princípio da proporcionalidade, creio que o Presidente da República tem razão quando diz que aquela exigência e forma de actuação é, actualmente, uma afronta à democracia em que vivemos.
E a polícia, pois bem, a mesma tem as suas funções e temos que respeitar o exercício correcto das mesmas. Sem tolerar desmandos ou excessos, há que aceitar aquilo que ontem vi.
Sob pena, então, de vivermos uma anarquia.

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