15.10.04

Worried Life Blues



Há dias que carregam uma carga negativa que temos que, esforçadamente, afastar. Hoje, estou em crer, é um deles. Começou com uma saída descuidada da garagem e de uns riscos no carro, perfeitamente escusados, estúpidos. É o preço de sexta-feira. A semana vai longa, ando cansado porque durmo cerca de 5 horas por noite, e custa-me encontrar o lado positivo daquilo que me rodeia. Possivelmente, porque apenas me chegam ecos de coisas tristes...
Por aqui, pelo trabalho, é a rotina que se instala. Por mais que produza, aparece sempre mais que fazer. Pilhas de papel reproduzem-se como hamsters e todas carecem de atenção.
As pessoas com quem me cruzo e consigo escutar a conversa ocupam-se dos dois temas mais importantes do momento: o Benfica-Porto e o José Castelo Branco. Tudo o resto é ruído. Tudo o resto adensa as escuras nuvens que o Outono tem trazido nos últimos dias. Olho pela janela e vejo-as, compactas, plúmbeas ameaçando desaguar a todo o momento.




Olho pela outra janela, aquela onde agora corre este texto, e vejo nuvens ainda mais negras.
Estou, certamente, a passar por momentos de falta de optimismo, mas não consigo encontrá-lo quando as notícias veículam a desgraça dos governantes que temos, quer por cá, quer pelo resto do mundo.
Quando veículam o esmagador peso da economia nas nossas vidas e dizem que, porque especuladores começaram a ganhar dinheiro sem fim ao apelarem à ameaça que há mais de trinta anos está identificada (a finitude das reservas de combustíveis fósseis), a nossa vida é prejudicada diariamente com um brutal aumento dos combustíveis e tudo o que deles depende. Ou seja, tudo.

Quando o Estado Português já não consegue cumprir com as suas obrigações sociais e elementares, como se viu este ano com o início do ano escolar, mas os seus governantes apregoam obra feita. Como pode Santana Lopes alegar que "fez certas coisas" e dar como exemplo o "pacto da Justiça"? O que é isto? Quais as vantagens deste Pacto? Desconheço, e, na prática, nada vejo. Continuam a julgar-se hoje questões que vêm desde 1992 (?!) que no final darão sentenças muito bonitas para emoldurar. Porém, para o PM, está qase tudo garantido com tal pacto. Já agora: quem é que foi mesmo que pactuou? Quando o PM, Palhaço Mor fala de tudo e não diz nada, papagueia informação que não informa e demagogicamente pretende ser o governante exmplar.

Quando os portugueses estão convictos que a pobreza vai aumentar, e se vêem em dificuldades pois, quando as coisas estavam boas, ou alegadamente boas, desataram a endividar-se a a gastar tudo quanto tinham e não tinham.

Quando os ricos estão cada vez mais ricos e ostensivos. E não lhes vemos qualquer mais-valia para a sociedade que justifique tais ganhos. Não trabalham, não produzem, ... orientam-se. À custas dos outros, pois que a riqueza não produtiva vem sempre de uma transferência, com o prejuízo do próximo.

Quando às 07h30m a A5 está atafulhada de carros de pessoas que vão trabalhar e pagam € 0,45 para circularem numa auto-estrada a 80 km/h, sempre temendo que o tipo do lado ou de trás lhe bata e o deixe inválido ou a cargo com um prejuízo incontável, porque as seguradoras "estão em crise" e, apesar de cobrarem rios de dinheiro, não pagam o que devem sempre na esperança de vencer pelo cansaço e poupar alguns euros.

Quando oiço anúncios na rádio apelando ao recurso ao crédito pelos pais para preparar o início do ano escolar. Endividem-se se querem dar aos vossos filhos uma educação, ou seja, um direito fundamental garantido pela Constituição.

Quando Israel constrói um muro, depois de na Europa, no Mundo, se ter lutado durante 4 décadas para destruir um outro muro, o da vergonha.

Quando a guerra mina e corrói o planeta, tira vidas e, no final, está sempre motivada pela ganância de alguém, seja por dinheiro seja pelo poder que certamente pretende usar de forma egoísta.

Quando se constrói destruindo o ambiente, a cidade, a qualqidade de vida que deveríamos almejar e depois, ainda por cima, a construção é do piorio e cedo começa a ceder, a rachar, a partir a infiltrar.



Lamento, mas hoje o dia é negro. E vou ter que lutar hora após hora, minuto após minuto, para encontrar qualquer coisa de positivo que o justifique. Porque tudo o que tem essa virtude encontra-se coberto por um manto de corrupção, de poluição, de opressão, e precisa de esforço para ser visto e sentido.

Deixem estar... é 6ª-feira e tudo melhorará com horas e horas de sono prometidas para amanhã. Hoje à noite, jantar com amigos também será um bom começo.

(nota: as fotografias foram sacadas aleatoriamente da net, não são do Urso Polar)


Sem comentários: