8.1.13

«Little China Girl»

Nem por acaso, a música de David Bowie soava no rádio quando parei no semáforo e vi aquela miúda franzina, chinesa, com um enorme caixote sobre as costas. Não devia ser pesado. Não. Aquele volume, com maior densidade, esmagaria a rapariga que se esforçava por ver o caminho, dobrada sobre si, fincando os nós dos dedos, brancos, na corda que envolvia o cartão.
O semáforo virou verde, mas não arranquei. Estava abismado com a imagem do esforço, da sobrecarga de um ser tão pequeno. A rapariga chinesa não teria mais de 10, 12 anos. 
Com passos pouco firmes alcançou a porta da loja e largou o grande fardo. Com um sorriso, lançou um aviso estridente, tão aguda era a sua voz, e pegou numa mochila escolar cor-de-rosa com a omnipresente Hello Kitty.
Num instante arrancou ora correndo, ora saltitando, seguramente na direcção da escola.
Também eu quis partir mas fui novamente impedido pela regressada luz vermelha. Na rádio começaram a passar Supertramp. School.

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