Havia dois anos que apanhava, religiosamente, o mesmo comboio, o mesmo barco, o mesmo autocarro até ao trabalho. Todos os dias.
E todos os dias, salvo algumas excepções, nomeadamente nas férias, via-a no mesmo comboio, no mesmo barco, sempre no mesmo lugar. Como um relógio, as suas vidas cruzavam-se.
Apesar de já ter sonhado mil e uma maneiras de começar a conversar com ela, nunca o fizera. Nunca conseguira. Nunca se alinharam as circunstâncias para que ultrapassasse todas as inseguranças que durante uma vida o impediram de, realmente, viver.
Quem sabe... talvez amanhã.
Havia dois anos que reparara nele. Adorara o facto de não ter sido apenas uma viagem. De todos os dias se reencontrarem naquele comboio, de prosseguirem naquele barco... Já lhe dera nome. Já lhe dera emprego, educação, futuro. Já imaginara tudo aquilo que desconhecia por não ser capaz de quebrar a barreira que os separava.
Talvez amanhã.
2 comentários:
Lindo!
Com o tempo vamos aprendendo que "talvez amanhã" deve perder frequentemente para "agora ou nunca" .
"carpe diem", que não é, necessariamente, fazer todas as asneiras e ultrapassar todos os limites. Antes viver intensamente as sensações que a vida nos oferece.
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