18.1.13

Raiva

Logo que saiu do elevador percebeu que tudo estava errado. As lascas no chão, as marcas na porta, a porta entreaberta.
Ficou hirto. Hesitou entre chamar de imediato a polícia ou certificar-se se ainda estava alguém lá em casa. No silêncio do átrio lembrou-se de respirar novamente. Fê-lo devagar, profundamente.
Largou a pasta e encostou-se à porta arrombada. Nada. Nem um som. Empurrou-a o suficiente para se esgueirar para o interior e penetrou no seu espaço sagrado, tão manifestamente violado.
O sentimento era esse mesmo, de violação. Tudo estava remexido. Já mais confiante foi avançando, ciente que há muito se teriam ausentado os ladrões.
Na sala faltava a televisão, a consola de jogos, a mini aparelhagem. Mas as gavetas do aparador tinham sido abertas e muito do seu conteúdo repousava no chão.
No escritório tudo voara. O computador portátil, a impressora, a máquina fotográfica, o iPod. As gavetas tinham sido retiradas do pequeno armário e estavam viradas, vazias, ao lado da pilha de papeis e pequenos artigos que anteriormente guardavam. Atrás da porta estava o espaço vazio onde costumava encostar a espingarda de pressão de ar com quarenta anos que herdara do pai.
No quarto tudo fora revirado. De imediato se despediu dos relógios, vazia que viu a respectiva gaveta. Apercebeu-se igualmente que o blusão de cabedal que ficara desarrumado na cadeira se tinha eclipsado.
Entrou na cozinha e viu que lhe tinham levado a Bimby, a Nespresso, as garrafas de vinho, de whisky, de gin, de vodka...
Apeteceu-lhe gritar, chorar, partir, bater. Mas não fez nada disso. Conteve toda a raiva e limitou-se a chamar a polícia. Concordou em não tocar em nada antes que chegassem.

Quando a PSP chegou a sua casa encontrou-o caído no chão da sala, vítima de um AVC fulminante.

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