28.1.13

Um dia de cada vez

"Como cheguei eu aqui? Por onde vim hoje? Com quem me cruzei?", pensou Rodrigo ao desligar o carro. "Que horas são? 08.30.", respondeu a si mesmo olhando o relógio com trinta anos que usava no pulso. "Para onde foi a última meia-hora da minha vida?"
Todos os dias partia de casa para o trabalho ao volante do seu pequeno Fiat Punto. Todos os dias tinha que decidir, enquanto progredia, qual o melhor caminho a seguir. "Hoje, por aqui não, há fila. Oi, estão a dizer na rádio que ali à frente houve um acidente, é melhor sair por este lado". A rede de estradas interligadas que separavam o lar do escritório permitiam variadas combinações que Rodrigo tinha já explorado durante anos. Muitos anos.
Hoje, porém, ao desligar o carro, foi assolado pela dúvida. "Como cheguei eu aqui? Por onde vim hoje? Com quem me cruzei?"
O caminho ficou perdido dos pensamentos que o absorveram durante a viagem. Nem o rádio ligado penetrou no seu consciente. Hoje não rira de piadas algumas que a equipa da manhã costumava lançar, ajudando-o a acordar e a ganhar boa disposição. Hoje não. Não recordava nada da emissão.
Hoje encontrou-se perdido nos automatismos do dia-a-dia.