Porque ainda estamos longe da memória nº 80, e porque há já algum tempo que a esta série não voltava, cá vai mais uma recordação. Desta vez, o tema passa pelas carcaças, especialmente, as carcaças com manteiga.
Nos idos anos '80 o pão era completamente diferente dos dias de hoje.
Por exemplo, lembro-me de não haver pão fresco ao domingo, pois nesse dia não abriam padarias. Durante o resto da semana, ao entrarmos numa padaria, podíamos escolher entre: carcaças (ou papo-secos), pão saloio (ou dito de Mafra), pão de forma e, por vezes, cacete. E mais nada.
Pelo preço e pela durabilidade, lá em casa o habitual era haver carcaças para o dia, e pão saloio para as matinais torradas.
A imagem que hoje guardo das carcaças não podia ser pior. Não sei porquê, pois que as comia com prazer apesar de apenas lhes pôr manteiga, ou marmelada. Naquela fase do início da adolescência, em que crescemos a olhos vistos, lembro-me de lanchar três carcaças para enganar o apetite insaciável que então me assaltava. E não pensava que as carcaças fossem sensaboronas.
Seriam realmente assim tão más como as de hoje?
Se calhar não.
Hoje em dia podemos escolher dezenas de tipos de pão, que se vende nas padarias, nas pastelarias, nos supermercados, no hipermercados, acabado de fazer, ou preparado para o fazermos em casa. E, meus amigos, as carcaças de hoje não podiam ter pior aspecto. Não só nunca parecem frescas, como se assemelham a esponjas gastas.
O pão saloio continua a existir. Mas hoje é preciso um curso para o comprar. Ele já não se chama assim. Agora é o de mistura, o mafrinha, o mafra, o sei lá de nomes que são dados aos diferentes tipos de pão que se acumulam em sacos ou expositores à espera da moeda que os levará.
Falando de pão deixo aqui os meus favoritos. Quando se vai para Santa Cruz, vindo de Torres Vedras, passa-se por Silveira. Logo no início há um moinho à beira do lado esquerdo da estrada. Aí encontrarão um extraordinário pão com chouriço, pão com bacon ou pão com torresmos (estes dois apenas ao fim-de-semana).
Nessa mesma Silveira, mais à frente, depois da rotunda e do frango à maneira, há uma entrada do lado esquerdo que tem uma tabuleta a dizer "pão quente". Aí está o melhor pão que conheço. O de trigo e o de milho.
Recentemente descobri uma casinha na Parede, junto à estação da CP, chamada precisamente "Pão quente a toda a hora", que tem uma bolas "de Mafra" que, quase sempre quentes, são de comer e chorar por mais.
Finalmente, mais industrial e mais acessível a todos, no Carrefour fazem um "pão rústico", enorme, que se for comprado ainda quente é muito, muito bom.
Esta conversa abriu-me o apetite... e ainda são apenas 08.00 da manhã...