1.4.05

"Vidas" (7)


PONTOS

Na sala de interrogatórios o ambiente estava pesado. A luz disparada pelo poderoso foco aquecia o ar e denunciava os fumos que se erguiam dos vários cigarros acesos. No chão irregular, alguma água, restos de baldes lançados à cara de quem já desfalecera. Um inspector, um chefe de brigada e dois agentes, perfilavam-se na penumbra atrás do foco.

Exposto às agruras dos 500 watts, algemado a uma cadeira, suado, encharcado, vermelhão, ensanguentado, encontrava-se o interrogado. Havia já cinco horas que o espremiam. Nada saía cá para fora. Cinco horas a espremer um ponto negro e nada. Nada!

O inspector, cansado, deixara as perguntas ao chefe de brigada o qual exigia dos agentes aquilo que de melhor tinham: os músculos. Músculos. Força. Era preciso muita força para espremer um ponto negro daquele tamanho.

Por fim, exausta, a vítima daqueles quatro acabou por ceder. Então deitou tudo cá para fora. Quilos e quilos de sebo e pus. No fim, o sangue. Os agentes, por estarem mais perto, sentiram-se enjoados, engasgaram-se. Um nó na garganta. Acabaram por vomitar.

O inspector ordenou: "Comportem-se, meninas! Limpem esta merda e tragam o ponto final. Temos de o espremer ainda hoje."

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