Terry Schiavo morreu. Finalmente, a sua polémica existência terminou. Há quinze anos em coma, com extensas lesões cerebrais, sem capacidade para sentir ou entender, foi artificialmente mantida viva. O que não é o mesmo que dizer que sobreviveu.
Para além das questões éticas inerentes ao tema da eutanásia (recordo o apelo para que não percam o "Mar Adentro"), este caso deixou-me mais uma vez espantado com o sistema judicial norte-americano. Todos os dias ouvia falar em novos recursos, novos Tribunais, novos mecanismos legais. Mas aquela gente não tem (apenas) um Tribunal competente para conhecer de uma questão, e um ou dois graus de recurso como nós? Como se vive sem direito à certeza jurídica?
Por entre o carnaval americano montado à volta de Terry Schiavo, por gente que certamente não estaria minimamente preocupada com ela, mas sim com os seus dogmas fundamentalistas, veio o Presidente Bush defender o respeito pela vida humana, e a sua preservação.
Os iraquianos não podiam estar mais de acordo, não é?
O Papa João Paulo II está, finalmente, à beira da morte. Digo finalmente porque tenho dificuldade em ver alguma dignidade na forma pública como combateu as doenças que o enfermam, sempre sujeito a aparições públicas que legitimam questionar a veracidade dos comunicados do Vaticano sobre a sua lucidez ou capacidade de comunicação.
O esforço, o sacrifício, exigido ao Papa nestes últimos dias combinam com a missão que abraçou? Pelo menos combinam com a imagem de sacrifício defendida, e publicitada pela Igreja Católica como modelo de virtude.
Vêm-me à memória relatos dos últimos dias de Ronald Reagan e penso o que seria se, ao invés de aguardar a morte na calma pacífica do seio familiar fosse obrigado a aparecer em público, a falar (balbuciar) palavras incompreensíveis e por trás anunciassem a sua capacidade para o exercício das suas funções.
O peso da figura do Sumo Pontífice leva à mediatização do seu sofrimento. Acho que a Igreja Católica capitaliza com isso.
Perturbam-me os corredores daquele poder.
Para acabar num tom positivo, deixo uma palavra de regozijo para o feito ocorrido em Espanha. Três linces ibéricos nasceram em cativeiro.
Quando a população selvagem está reduzida a cerca de cem exemplares, que todos os anos morrem vários exemplares atropelados, vítimas de incêndio florestal ou às mãos de caçadores bandidos, este é um passo positivo para a preservação da espécie.
Recorde-se que em Portugal, há dois anos, desconfiava-se que, a haver algum lince ibérico, seria apenas um, algures na Serra algarvia. Depois vieram dois anos de monstruosos incêndios. Não será difícial concluir que apenas em Espanha poderemos ver estes maravilhosos gatos selvagens.
Sem comentários:
Enviar um comentário