MENSAGEM
PTUII... cuspiu a areia que o vento empurrara para a boca. Ainda assim, quando fechou os maxilares sentiu o desagradável moer de alguns grãos nos seus dentes.
Desgraçado vento. A areia projectada a alta velocidade colidia com a pele, perfurando-a, desgastando-a, roendo o invólucro do seu ser. Com uma das mãos cobria os genitais. Com a outra protegia os olhos e segurava o telemóvel. Lentamente, tentava progredir.
Como lhe acontecera aquilo? Como pudera adormecer tão profundamente? Fora já tarde para o extenso areal daquela praia de nudistas. Calmamente, despiu-se na íntegra e deitou-se ao sol na toalha que trouxera de Hollywood.
Depois... depois acordou, noite cerrada, o vento a fustigar-lhe o corpo enregelado. Olhou em volta e todas as suas coisas tinham desaparecido. Todas as pessoas tinham debandado. Estava só. Ele, a toalha, e o telemóvel que, com medo dos furtos, protegera deitando-se sobre ele.
Habituou os olhos à escuridão e à surpresa. Sentiu o vento e decidiu chamar por socorro. Mas a bateria do aparelho tinha expirado. Silêncio e mais nada eram as ofertas daquele apêndice social que lhe custara uma pequena fortuna. Optou por se fazer ao caminho.
Ergueu-se e, no momento em que se debruçou para apanhar a toalha, viu-a voar para longe, arrastada pelo vento ciclónico. Não fosse o rugir do mar e o cenário facilmente se confundiria com uma desértica tempestade de areia.
A escuridão reinava. A praia ficava longe de tudo como gostam os naturistas. O luar, como seria de supor numa noite de lua nova, primava pela ausência.
Iniciou a caminhada, semi-curvado, tentando regressar. Sabia que o destino se escondia por detrás de uma alta duna, na direcção oposta à do oceano. Subiu. Subiu. Subiu.
Já no topo da duna, quando suspirava de alívio, uma forte rajada derrubou-o. Rebolou duna abaixo. À terceira cambalhota partiu o pescoço.
*
A areia perfurou a pele, roeu-a, comeu a carne e limpou os ossos. No dia seguinte muitos foram os nudistas a contemplar a bizarra escultura que, de noite, algum artista deixara na praia: um esqueleto a segurar um telemóvel.
Decerto haveria uma mensagem.
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