14.2.13

Caracol, caracol, põe os pauzinhos ao sol

Sobre a mesa da esplanada contavam-se os despojos do festim. Mesmo com o empregado a recolher pratos e copos já vazios, ainda se contavam quatro imperiais, dois cestos de pão e uma grande dose de caracóis.
As cascas vazias empilhavam-se, secando ao sol do fim de tarde. Os guardanapos de papel usados competiam num monte assente noutro prato. Como nem uma brisa corria, não havia perigo de se espalharem papel e gordura.
Ao fundo, o mar enrolava na areia, sereno,  sem dramas.
Carlos saboreava o salgado dos lábios enquanto picotava a toalha com o palito usado para fisgar os que mais renitentes se tinham escondido na sua casca. Olhou para Isabel e encontrou-a perdida no reflexo do poente nas calmas águas esverdeadas, também ela pintada naquele laranja quente.
Num golpe de sorte o sistema de som da esplanada avariara, pelo que se ouviam conversas, brincadeiras de crianças, uma ou outra gaivota e o marulhar das pequenas ondas, lá à frente. Mesmo assim, sentia-se insatisfeito.
Pigarreou ganhando a atenção de Isabel. Não foi preciso dizer nada. Já não era preciso dizer nada. Um olhar anunciou a pergunta. O seu encolher de ombros, como se estivesse resignada e disposta a fazer um sacrifício, acompanhado daquele sorriso que denunciou a ironia da resposta bastou para que Carlos erguesse o braço.
- Mais um prato de caracóis e duas imperiais. - transmitiu ao empregado.

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