20.2.13

Oh, Susana...

"Susana?"
Ninguém respondeu.
"Susana, estás aí?"
De novo o silêncio.
Acendeu a luz e viu aquilo que temia.
"Susana, responde."
A voz diminuiu de intensidade. Viu a moldura da consola sem a fotografia tirada havia quinze anos, na praia. Na sala algumas prateleiras quedavam vazias exibindo marcas de pó reveladoras da ausência de livros e discos.
"Susana?..."
O chamamento era agora um apelo torcido pelo nó na garganta.
No quarto, o guarda-fatos aberto expunha cabides despidos, esqueletos pendurados. As gavetas da cómoda estavam abertas, vazias do seu recheio.
"Oh, Susana."
Deitou-se agarrado à almofada que ainda guardava o cheiro dela, fechou os olhos e quis chorar. 
Mas não conseguiu. Apenas então percebeu que era por isso que ela tinha partido. E que o fizera com toda a razão do mundo.

1 comentário:

Ouriço-Cacheiro disse...

Se ela partiu com convicção e ele percebeu a razão, então... há vida nova e inspiração para outros dois contos!