1.2.13

Reviravolta

Deixou os miúdos no colégio e entrou de novo no carro. Respirou fundo e arrancou. Ao chegar à fila do costume não se encaminhou para a procissão que entrava para a auto-estrada em direcção à grande cidade. Hoje, enfiou para o sentido contrário. Três faixas vazias. Acelerou enquanto do outro lado a paciência se esgotava no "pára-arranca".
A sua expressão era tensa. Cerrara os dentes e nem se apercebera da força esmagadora que fazia entre os molares. Acelerou ainda mais.
Quase instintivamente rodou o botão do computador de bordo até ver a autonomia. 643 quilómetros. Era um bom sinal.
À medida que foi percorrendo a auto-estrada, que, de ligação em ligação, se aproximou da fronteira, foi relaxando. A dada altura já esboçava um sorriso. Quando abasteceu, já em Espanha, riu mesmo, em grandes gargalhadas, ao ver a nova autonomia. 801 quilómetros.
Regressou ao asfalto e prosseguiu a marcha. Ainda nem decidira onde ou quando iria parar. Ou por quanto tempo.

Martim e Inês, os dois miúdos, ficaram horas no colégio à espera do pai. Tiveram que chamar a mãe, a avó, até que esta os foi buscar. Esse foi o último dia em que viram o pai. 

1 comentário:

Ouriço-Cacheiro disse...

Um pai empreendedor ;-)