11.2.13

De olhos fechados

Fechou os olhos.
Na boca, sem mastigar, esmagou o pedaço permitindo aos sabores misturarem-se na exacta proporção que o mestre sushi imaginou. O arroz. O peixe. As ovas. As algas. E qualquer coisa que não identificou. Algo fresco mas intenso.
Ao engolir abriu os olhos e sentiu uma onda de prazer. A luz era muito fraca mas via com clareza as mãos do mestre de sushi a trabalhar sobre nova experiência na zona mais iluminada da bancada. Procurou o seu olhar e encontrou-o depositado sobre si. O homem, de sorriso largo, e que não falava uma palavra de português, assentiu com um "Hai" e mais qualquer coisa imperceptível. 
Só conseguiu replicar com um sorriso idiota e um gemido de prazer. Deu um gole no saké espesso e trincou um pequeno pedacinho de gengibre em pickle preparando-se para o que mais viesse.
Não tardou muito a receber uma nova peça solitária num pequeno prato manifestamente de manufactura artesanal. A experiência egoísta iria continuar. Pegou nela com os dois pauzinhos e colocou-a na boca onde o fresco se misturou com o estaladiço, o adocicado com o salgado.
Fechou os olhos.