"Amigo, desta vez é que é. Essa é a última bifana que lhe sirvo", o velhote, barrigudo, barba por fazer, engordurado, não tinha afivelado o habitual sorriso. Engoli com esforço e questionei, "Como assim? Acabou-se?"
"Acabou-se! Já não tenho vida para isto. Todos os dias a mesma coisa. Todos os dias menos receita, menos dinheiro para mim. E agora falam que a ASAE anda a multar a malta que tem molhos como o meu. Como se as bifanas pudessem ser feitas sem esta gordura..."
"Arranje-me aí mais uma. Essa sim, será a última."
"Aqui está. E esta fica por conta da casa. Por todas as que já cá comeu..."
"Obrigado."
Ao morder o pão senti o sabor salgado do molho que o ensopava. A carne rasgada pelos dentes desfez-se espalhando mais sabor a todos os recantos da boca. Engoli com prazer e empurrei com mais um pouco da imperial fresca. Repeti o ritual em pequenos pedaços prolongando o momento. Quando terminei tinha na garganta um nó muito bem temperado.
Estendi a mão ao Sr. Luis e desejei-lhe bom descanso.
"Até um dia."
"Até um dia", despediu-se ele.
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