5.3.13

Cada vez menos

Respirar era uma prova de coragem. Ardiam os pulmões a cada golfada do ar saturado de fumo e o esforço para não desfalecer a tossir era quase tão grande como o necessário para mexer pernas e braços enquanto gatinhava pelo corredor. 
Já pouco via, tão inflamados estavam os olhos. Chorava, mas o calor extremo secava cada lágrima assim que esta assomava, impedindo-a de lubrificar as órbitas ressequidas.
O barulho ensurdecia. Os alarmes continuavam a silvar desesperadamente avisando toda a gente do hotel para partir, para sair sem fazer check-out, sem levar bagagem, sem se preocupar com gorjetas. Cada silvo da sirene gritava um apelo de urgência que ele, ali ao nível do solo, já não conseguia garantir.
A exaustão toldava-lhe a clareza de raciocínio, e por isso já não sabia se estava no caminho certo. Ao contrário dos aviões, nenhuma luz ao nível do solo lhe indicava a saída de emergência.
Sentiu uma porta e quis procurar o puxador, a barra anti-pânico, qualquer coisa que a abrisse. Mas para o fazer tinha que se erguer um pouco, esticar os braços. Estava já tão estafado que mesmo esse simples impulso parecia uma tortura infindável.
Só queria parar, encolher-se e esperar que tudo passasse.
Começou a aninhar-se de encontro à porta. Cada vez menos ar a entrar no corpo. Cada vez menos energia. Cada vez menos.