7.3.13

Maçãs

O som dos passos na neve era uma novidade que o entusiasmava. O branco que tudo cobria reflectia a pouca luz que o céu cinzento deixava passar, dando um brilho irreal a toda a paisagem.
Em cima dos muros, dos pilares, dos telhados, camadas de neve imitavam claras em castelo, suspiros à espera da primeira dentada. 
Eram as primeiras horas de domingo, e não se via uma alma na rua. As estradas, os passeios, revelavam-se imaculados, sem qualquer marca, dando-lhe o prazer de deixar o único carreiro de pegadas.
Carregava várias camadas de roupa que o protegiam contra o vento gélido. Apenas as maçãs do rosto espreitavam entre o cachecol que cobria a boca e os óculos que salvavam os olhos.
Apenas as maçãs do rosto se expunham ao frio e doíam. Doíam ao mesmo tempo que ficavam dormentes. Uma dor agradável que o fazia sentir-se vivo. E essa sensação era o que o fazia acordar e sair para a rua todos os dias, bem cedinho, e andar, andar pelas ruas da cidade, de Verão ou Inverno, ao frio ou com calor.

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