O ferro atravessava o crânio, entrava junto à nuca e perfurava até um ponto um pouco atrás do olho direito. Pelo menos, era assim que conseguia descrever a dor de cabeça. Havia três dias que sentia aquela dor. Três dias sem repouso, sem conseguir dormir. Três dias encharcado em medicamentos e mezinhas.
Melhorias? Nenhumas.
Quando entrou no hospital, as luzes tinham todas um halo à sua volta e faziam mexer o danado do ferro, torcendo a dor que o assolava, levando-a para patamares bem mais agressivos. Já não comia, não bebia não se mexia, pois todos esses actos quotidianos pioravam o seu estado.
Não conseguia ficar na sala de espera, e disso deu notícia à enfermeira. Fizeram-no entrar para o Banco de Urgência onde a viu pela primeira vez, como um anjo. Loira, com a luz por trás oferecendo-lhe um maravilhoso halo. Estendeu a mão fresca e depositou-a na sua testa.
- Basta olhar para si para perceber que dói.
Foram estas as primeiras que lhe ouviu. E as primeiras que lhe disse foram um apelo desesperado.
- Salve-me.
Depois do tratamento, um dia, encontraram-se no café. A relação médico-paciente já não era ali qualquer obstáculo e puderam comportar-se apenas como um homem e uma mulher.
Algum tempo depois viviam juntos. Depois tiveram filhos. Envelheceram juntos. E ele dizia a brincar:
- Foi uma dor de cabeça que nos uniu. E garanto que esta mulher nunca foi uma dor de cabeça para mim.
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