Cassetes e leitores
Algures em finais dos anos 70 recebi o meu primeiro gravador. Era, naturalmente, um simples aparelho que gravava e lia em mono, mas já ia para além daquela mais comum forma de tijolo preto. Era um gravador "espacial", como dizia eu e os meus amigos, arredondado, todo em plástico, castanho claro e escuro, tipo galão.
Com ele muito brinquei, gravando palermices que reproduzia, fingindo programas de rádio, rádio-novelas e misteriosas mensagens crípticas. Foi igualmente no gravador "espacial" que ouvi as primeiras cassetes de música. A primeiríssima que comprei, através do Círculo de Leitores (!!) foi o álbum "Red skies over paradise" dos Fischer-Z.
Conheci outros leitores daquele tipo, mas já todos reconvertidos à função de carregar jogos no Spectrum. O final dos anos 70 anunciava o fim da carreira daqueles modelos que, hoje, podemos ver no RTP Memória em frente aos entrevistados, empunhados por jornalistas que os usavam para registar os depoimentos.
Com os anos 80, outros aparelhos surgiram no nosso universo. O "tijolo" cresceu e assumiu proporções inauditas. As imagens de televisão vindas dos Estados Unidos, em séries como a Fama, os tele-discos (hoje chamados videoclips) e filmes deram a conhecer o mundo dos rádios/leitores de cassetes, stereo, com colunas potentes, por vezes destacáveis, alimentados a pilhas, e com grande capacidade para encher os ouvidos do vizinho. O "Break-Dance" era associado ao novo comportamento, e havia gente que andava com o rádio ao ombro, a bombar som na rua, no autocarro, ou na praia.
Olhando para trás vejo o rídiculo do ano de 1984, ano em que, com quase 13 anos, fiz o Verão na praia integrado num grupo com idades dos 12 aos 18 e que, qual gang, invadia a minúscula praia da Parede, amontoando-se a um canto do areal, com um rádio a passar música.
Por outro lado, os anos 80 foram aqueles em que se generalizaram os "walkman". Toda a gente tinha que ter uns, e andar na rua com as orelhas cobertas por auscultadores que, de preferência alto, enchiam a cabeça de música alienando o meio que nos rodeava. Hábito que se manteve com o passar do tempo, e viu os auscultares desaparecerem para dar lugar a pequenos apêndices que se enfiam na orelha.
Naquela altura andávamos sempre acompanhados de cassetes e deixávamos pendurados no pescoço os "headphones", como fazíamos questão de dizer, quando o aparelho estava desligado.
Aliás, recordo-me de, uma vez, certo indíviduo andar só com os "headphones" para fingir que tinha um "walkman".
A música era diferente. O seus suportes, cassetes e vinyl, estão relegados para a história. O próprio leitor de CD portátil é hoje uma peça em vias de extinção, com o advento dos suportes digitais de alta capacidade como iPod e afins.
Nos anos 80, quem reinava eram as cassetes.
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