27.1.05

"Um Imenso Caldeirão" - (1)


Não sei como cheguei ali. Só sei que quando dei por mim, estava em Santa Apolónia a olhar maravilhado para os quadros dos comboios.
Na esquerda, as partidas; à direita, as chegadas. O fundo negro, as letras amarelas e rubras.
Hora; destino; comboio; observações.
Hora; procedência; comboio; observações.
Olhei... Olhei... vi as chegadas. E soube que tinha de esperar. Esperar por alguma coisa. Alguém. Alguém viria. Alguém viria.
Senti as paredes de pedra, o tecto feio daquele átrio. Senti o cheiro. O som. As pessoas. Senti a estação. Senti os autocarros lá fora. E sentei-me à espera.
Sentei-me a ver aquelas pessoas todas. Aquelas histórias que se cruzam num átrio pouco acolhedor. As pessoas. Feias, bonitas, lindas, horríveis. Mulheres atraentes, mulheres enjoadas, enjoativas. Machos latinos, "fatos", miseráveis.
Sentei-me e senti.
Um imenso caldeirão.

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