20.1.05

CHUVA



Chovia copiosamente no calor de Julho.
Acordara durante a noite com o barulho da água a correr pelas telhas, a escoar nos algerozes, a cair no empedrado do passeio. E agora, já pela manhã, continuavam os céus a chorar, certa e constantemente, ensopando os recantos mais secos da cidade.
Os automóveis passavam levantando cortinas de água que as sarjetas, entupidas, não engoliam, inundando os peões mais desprevenidos que de punho erguido rogavam pragas aos condutores.
Por causa da chuva, as artérias citadinas estavam entupidas por coágulos motorizados que, impacientemente, buzinavam e lutavam para progredir sem colisões.
Teresa, de guarda-chuva aberto, caminhava para o metro. Levava debaixo do braço o jornal já molhado que comprara no quiosque do Sr. João. Nos lábios o sabor do café tragado no snack do Tó. Ninguém reparava que eram lágrimas que lhe molhavam a cara, e não apenas gotas de chuva.

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