GUERRAS
Na década de 80 qualquer conflito fazia temer uma guerra global. Como já abordei, numa das memórias anteriores, a Guerra Fria estava no auge, e o poder do arsenal nuclear constituia uma omnipresente ameaça, como rastilho de pólvora à espera da faísca.
Assim, os conflitos regionais eram palco para velados combates entre superpotências, e temia-se que pudessem degenerar ao ponto de levar alguma das superpotências a assumir uma contenda. O Médio Oriente era foco de constantes eventos bélicos mas, tal como hoje, a opinião pública estava anestesiada pelo já antigo hábito guerreiro daqueles povos. Os Soviéticos estavam no Afeganistão, afundando-se na incapacidade militar para resolver os problemas naquele país fronteiriço. Iraque e Irão guerreavam entre si, e o terrorismo dava passos aqui e além, desrespeitando quaisquer fronteiras.
Porém, guardo na memória, dois eventos bélicos que me fizeram pensar se não estaria a terceira guerra mundial à espreita.
Era ainda muito novo quando, em 02.04.1982 a Argentina, então governada por uma Junta Militar presidida pelo General Leopoldo Galtieri invadiu as Ilhas Malvinas, ou Falkland Islands para os Britânicos. Ainda assim, recordo alguma tensão no acompanhamento das notícias sobre eventos que ocorriam no Atlântico Sul, a 480 km da costa da Argentina e penso que muita gente sustou a respiração para ver o que iriam os britânicos fazer. Um envolvimento numa guerra por parte de um país tão próximo trazia à consciência riscos de uma generalização do conflito.
Até porque, algo que então não conseguia perceber, os EUA estavam entre os dois contendores, comprometidos por acordos com ambos. Por um lado a NATO ligava os EUA ao Reino Unido; por outro, um acordo com a Argentina, resultado de anos de intervenção, colaboração e manipulação na América do Sul, vinculava os EUA que, assim, se viam na incómoda posição de, falhando a diplomacia, terem que escolher um lado ou faltar ao compromisso com ambos.
A tensão foi crescendo até que, em 01.05.1982 as forças armadas britânicas iniciaram as operações de resgate das Ilhas. Envolvendo a marinha, com forças anfíbias e submarinos nucleares a guerra estalou e prolongou-se até à rendição incondicional da Argentina em 14 de Junho. Pelo caminho perderam a vida 655 argentinos e 236 britânicos. Margaret Tatcher recuperou as ilhas e ficou conhecida pela sua determinação e rapidez de decisão, mesmo contra os seus principais conselheiros.
Por causa de 12 km2 temeu-se uma guerra generalizada. Mas, quando os EUA assumiram o apoio aos britânicos, e nenhuma facção apoiou a Argentina era óbvio que esta viria a claudicar. Fê-lo, e pouco tempo depois o seu governo passou a ser civil, logrando afastar os militares do poder.
Outro conflito fez disparar a adrenalina de um puto, já de 14 anos, que já sonhava com guerra à medida que as via nos filmes. Séries de televisão como a "3ª Guerra Mundial", ou filmes como o "War Games" e "The Day After" aumentavam a ideia que, a qualquer momento, poderíamos ser vaporizados. Bastava que alguém perdesse a calma e entrasse em escalada.
Em 1986, uma bomba explode numa discoteca de Berlim e mata seis militares americanos. O atentado é ligado à Líbia, país com o qual os EUA vinham assumindo uma longa picardia pois já em 1981 caças norte-americanos tinham abatido dois caças líbios.
Desta feita Ronald Reagan assume como necessária a retaliação. Recordo-me perfeitamente. Foi no dia 15.04.1986. Estava na escola, junto ao campo de voleibol, quando chegou uma colega. É impressionante que recordo que estava sol, calor, e ela trazia uma t-shirt com a capa do "The pros and cons of hitch hicking", o disco de Roger Waters. Foi ela quem nos trouxe a novidade. Os americanos bombardearam a Líbia.
A chamada "Operation Eldorado Canyon" levou a morte a 101 líbios, entre eles a filha adoptiva de Khadafi. Aviões partiram de bases em Inglaterra e fizeram toda a viagem pelo mar, sem cruzar o espaço aéreo dos países de permeio, nomeadamente a França.
Mais uma vez ficámos suspensos. Então e agora? Os americanos não atacaram mais. E foi preciso esperar por 1988 e pela queda do vôo PAN AM 103 em Lockerbie para conhecer a reacção da Líbia.
Mais uma vez se via que, desde que URSS e EUA não se confrontassem directamente, tudo podia acontecer.
Apesar das guerras que corriam pelo mundo, em Angola e Moçambique, por exemplo, estas duas foram as que me fizeram vibrar, e sentir risco. Por isso são mais memórias de uma década cada vez mais longe.
Na década de 80 qualquer conflito fazia temer uma guerra global. Como já abordei, numa das memórias anteriores, a Guerra Fria estava no auge, e o poder do arsenal nuclear constituia uma omnipresente ameaça, como rastilho de pólvora à espera da faísca.
Assim, os conflitos regionais eram palco para velados combates entre superpotências, e temia-se que pudessem degenerar ao ponto de levar alguma das superpotências a assumir uma contenda. O Médio Oriente era foco de constantes eventos bélicos mas, tal como hoje, a opinião pública estava anestesiada pelo já antigo hábito guerreiro daqueles povos. Os Soviéticos estavam no Afeganistão, afundando-se na incapacidade militar para resolver os problemas naquele país fronteiriço. Iraque e Irão guerreavam entre si, e o terrorismo dava passos aqui e além, desrespeitando quaisquer fronteiras.
Porém, guardo na memória, dois eventos bélicos que me fizeram pensar se não estaria a terceira guerra mundial à espreita.
Era ainda muito novo quando, em 02.04.1982 a Argentina, então governada por uma Junta Militar presidida pelo General Leopoldo Galtieri invadiu as Ilhas Malvinas, ou Falkland Islands para os Britânicos. Ainda assim, recordo alguma tensão no acompanhamento das notícias sobre eventos que ocorriam no Atlântico Sul, a 480 km da costa da Argentina e penso que muita gente sustou a respiração para ver o que iriam os britânicos fazer. Um envolvimento numa guerra por parte de um país tão próximo trazia à consciência riscos de uma generalização do conflito.
Até porque, algo que então não conseguia perceber, os EUA estavam entre os dois contendores, comprometidos por acordos com ambos. Por um lado a NATO ligava os EUA ao Reino Unido; por outro, um acordo com a Argentina, resultado de anos de intervenção, colaboração e manipulação na América do Sul, vinculava os EUA que, assim, se viam na incómoda posição de, falhando a diplomacia, terem que escolher um lado ou faltar ao compromisso com ambos.
A tensão foi crescendo até que, em 01.05.1982 as forças armadas britânicas iniciaram as operações de resgate das Ilhas. Envolvendo a marinha, com forças anfíbias e submarinos nucleares a guerra estalou e prolongou-se até à rendição incondicional da Argentina em 14 de Junho. Pelo caminho perderam a vida 655 argentinos e 236 britânicos. Margaret Tatcher recuperou as ilhas e ficou conhecida pela sua determinação e rapidez de decisão, mesmo contra os seus principais conselheiros.
Por causa de 12 km2 temeu-se uma guerra generalizada. Mas, quando os EUA assumiram o apoio aos britânicos, e nenhuma facção apoiou a Argentina era óbvio que esta viria a claudicar. Fê-lo, e pouco tempo depois o seu governo passou a ser civil, logrando afastar os militares do poder.
Outro conflito fez disparar a adrenalina de um puto, já de 14 anos, que já sonhava com guerra à medida que as via nos filmes. Séries de televisão como a "3ª Guerra Mundial", ou filmes como o "War Games" e "The Day After" aumentavam a ideia que, a qualquer momento, poderíamos ser vaporizados. Bastava que alguém perdesse a calma e entrasse em escalada.
Em 1986, uma bomba explode numa discoteca de Berlim e mata seis militares americanos. O atentado é ligado à Líbia, país com o qual os EUA vinham assumindo uma longa picardia pois já em 1981 caças norte-americanos tinham abatido dois caças líbios.
Desta feita Ronald Reagan assume como necessária a retaliação. Recordo-me perfeitamente. Foi no dia 15.04.1986. Estava na escola, junto ao campo de voleibol, quando chegou uma colega. É impressionante que recordo que estava sol, calor, e ela trazia uma t-shirt com a capa do "The pros and cons of hitch hicking", o disco de Roger Waters. Foi ela quem nos trouxe a novidade. Os americanos bombardearam a Líbia.
A chamada "Operation Eldorado Canyon" levou a morte a 101 líbios, entre eles a filha adoptiva de Khadafi. Aviões partiram de bases em Inglaterra e fizeram toda a viagem pelo mar, sem cruzar o espaço aéreo dos países de permeio, nomeadamente a França.
Mais uma vez ficámos suspensos. Então e agora? Os americanos não atacaram mais. E foi preciso esperar por 1988 e pela queda do vôo PAN AM 103 em Lockerbie para conhecer a reacção da Líbia.
Mais uma vez se via que, desde que URSS e EUA não se confrontassem directamente, tudo podia acontecer.
Apesar das guerras que corriam pelo mundo, em Angola e Moçambique, por exemplo, estas duas foram as que me fizeram vibrar, e sentir risco. Por isso são mais memórias de uma década cada vez mais longe.
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