25.3.05

Quem semeia ventos

A notícia vem no Público, aqui.

Se atentarem no seu tom, reparem como o tom de desculpa pretende justificar que três tipos, ainda que menores, possam assaltar uma farmácia e se ponham em fuga em carro roubado, conduzindo perigosamente e desrespeitando ordens de paragem da polícia.

Eu não tolero, e admito perfeitamente que o polícia dispare para parar o automóvel. Tanto mais que os fugitivos, ao assumir tal conduta, têm que se presumir perigosos.

Nos EUA a highway patrol, tipo a nossa BT, não corre riscos. Se um condutor mandado parar não o fizer, ou se ao parar fizer gestos suspeitos ocultando as suas mãos, corre o risco de ser alvejado. Porquê?. Porque se presume perigoso.

Porque não poderá a polícia portuguesa presumir perigosos os assaltantates de uma farmácia que se põem em fuga, na qual persistem?

Mas vejam a notícia:



Monte da Caparica
Jovem morto a tiro pela GNR por suspeita de roubar farmácia

Francisco Neves

Jovens de 17 e 14 anos perseguidos pela GNR. Conhecidos da vítima estranham alegado envolvimento em assalto
Causou espanto a moradores da Rua do Raposo de Cima, no Monte da Caparica, concelho de Almada, ver três "miúdos impecáveis", entre os 14 e os 17 anos, ser perseguidos a tiro até que um caiu morto, baleado pela GNR.Foi quarta-feira à noite, entre as 20h e as 21h, depois de várias voltas pela zona do Bairro do Pica-Pau Amarelo, já debaixo de fogo, que o Fiat Uno dos três rapazes embateu contra um carro estacionado e um candeeiro daquela artéria.Quando o estrondo trouxe os moradores das modestas casas do IGAPHE para a rua, alguns depararam com um grande aparato policial e, no chão, do lado do condutor, um rapaz de 17 anos agonizante, virado para cima, e, do outro lado da rua, outros dois jovens mandados deitar no chão pelas autoridades. Pelo menos dois deles tinham família na zona, como se se dirigissem para casa, buscando refúgio. Nenhum deles estava armado."São miúdos impecáveis, nunca foram malcriados. Conheço dois deles, o Paulinho e o Sérgio, sempre pareceram sossegados", disse ontem ao PÚBLICO uma moradora.A GNR também os conhecia. "Estavam referenciados por furtos, mas não foram encontradas armas com eles", disse fonte das relações públicas do comando geral daquela força.Segundo a mesma fonte, o grupo de rapazes tornou-se suspeito de um assalto ocorrido minutos antes a exactamente 3,9 quilómetros dali, na Farmácia Pepo, na Praceta Frederico Pinheiro, em Vila Nova da Caparica. Armados com pedras da calçadaO roubo deu-se pelas 19h45, ainda estavam cinco pessoas na farmácia, "a única nas redondezas que faltava ser assaltada", segundo Zélia Pepo, a proprietária. E foi feito sem violência: as armas exibidas pelo trio eram pedras da calçada."Eram três com as caras tapadas com capuzes de lã e cachecóis. Um ficou à porta, outro veio para o meio da casa e o terceiro veio logo atrás do balcão e só disse: "Passe para cá o dinheiro"", descreveu a proprietária. Levaram cerca de 450 euros. Uma sua empregada, de serviço na noite do roubo, comentou: "Ainda pensámos que era uma brincadeira, porque eles entraram aos saltinhos. Só que levantaram os braços e tinham nas mãos pedras da calçada." Nenhum dos três exibiu qualquer arma, embora a funcionária se recorde de, quando alguém chamou por socorro, um dos intrusos ter dito a outro: "Dá-lhe um tiro."Mas não houve tiros e, assim que os três saíram, os comerciantes alertaram a GNR. Não puderam informá-la que carro os assaltantes usavam, pois não o viram. Pouco depois, uma perseguição começava.Segundo fonte policial que não da guarda, a GNR teria indicações de que um grupo de "marginais perigosos" estaria a preparar uma série de assaltos na zona e o grupo perseguido a tiro poderia ter sido confundido com eles. As autoridades usaram na operação um carro não identificado. Durante a corrida, que acabou no Raposo de Cima, os primeiros tiros feitos pelos agentes da GNR terão sido "para baixo", tentando atingir os pneus do Fiat de matrícula 95-48-BD, mas uma travagem terá feito subir o braço que empunhava a arma, atingindo o condutor fugitivo no abdómen. Levado ao Hospital Garcia de Orta, em Almada, chegou lá morto. Dos dois restantes, o mais velho, também de 17 anos, foi detido depois de breve passagem pelo hospital, enquanto o de 14 foi entregue aos pais. Ambos foram ontem ouvidos pelo Tribunal de Almada, tendo o mais velho ficado sujeito a termo de identidade e residência. Respondera recentemente pela acusação de furto de carro e condução sem carta.Na noite de anteontem, a Rua do Raposo de Cima "parecia o Texas", com polícias, ambulâncias e um cordão de segurança que não deixava passar ninguém, mas ontem à tarde só cacos de faróis e guarda-lamas restavam do sucedido. Descontada a tristeza dos mais velhos e a raiva à polícia dos mais novos."É pena ter morrido uma criança", dizia ontem Zélia Cruz, trabalhadora do Clube Recreativo União Raposense.Um grupo de conhecidos do jovem baleado, residentes no Pica-Pau Amarelo, não suspendeu o jogo de matraquilhos para comentar o caso, mas vários deles insistiram em que os rapazes do Fiat não eram pessoas de armas nem de assaltos e que a polícia sabia disso porque os conhecia. Conhecia como? "Eram putos com a mania da Playstation, arranjavam uns Unos p"ra fazer umas corridas e a polícia não gostava porque gozavam dela", disse um deles.
Com Cláudia Veloso

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