28.12.07
À bomba e ao tiro
26.12.07
Vem aí o Ano Novo
24.12.07
Votos de Natal
22.12.07
Juízes e Procuradores - De nada serve a independência sem autonomia
20.12.07
Conto de Natal
Lamentou não ter trazido as luvas ao sentir as mãos geladas que seguravam o guarda-chuva abanado pelo forte vento. O dia cinzento, chuvoso, frio desaconselhava caminhar pelas ruas excepto em caso de real necessidade, mas ele fazia-o porque nada mais tinha para fazer. Porque nada mais queria fazer.
Ao fim de meia-hora calcorreando as ruas alagadas, as calças encharcadas, os pés e mãos gelados, o nariz e as orelhas completamente insensíveis, chegou à Baixa da capital onde ainda muita gente corria da porta de uma loja para a porta de outra loja em busca do calor condicionado, onde o trânsito se entupia em tromboses rodoviárias, com condutores escudados por detrás de vidros fechados e aquecimentos ligados no máximo, buzinando impaciência.
As iluminações de Natal, este ano sem os exageros do passado, conferiam àquelas ruas uma alegria que não contagiava as pessoas. As suas expressões espelhavam intolerância, cansaço, obrigação, apagando qualquer traço da felicidade apregoada para a quadra.
Presentes eram comprados e embrulhados e papeis de cores garridas mas os olhos de quem pagava traduziam apenas a sensação de um dever cumprido, de uma obrigação descartada. O artigo não era escolhido pelo seu valor para o presenteado, mas pelo peso na carteira do ofertante, pela rapidez com que decidia “isto, e mais isto e mais aquilo, e estou despachado”. E de loja em loja carregavam sacos, exibiam cartões de crédito, acumulavam inutilidades e olhavam para o relógio calculando quando chegariam a casa.
Ele não acompanhava esta lufa-lufa natalícia e olhava com distanciamento para a azáfama de última hora como se fosse um extra-terrestre a fazer um trabalho de campo procurando perceber o que movia a espécie humana. Ele não comprara um único presente em 2007, porque não tinha ninguém a quem o ofertar. Pela primeira vez numa vida de quarenta anos nada sentia pela quadra natalícia. Nem sequer o stress que presenciava. Estava anestesiado pelo frio que corria o seu ser, por dentro e por fora.
Recordou anos passados, nos quais buscava as ofertas uma a uma, dedicando tempo e mil cuidados para que fossem mesmo ao encontro dos desejos daqueles que presenteava. O livro perfeito, a tecnologia mais indicada, a iguaria excêntrica e delicada para ser degustada em cerimonial de prazer, a entrada para o espectáculo que seria citado durante anos e anos como um dos melhores de sempre.
Recordou como aos poucos aqueles que queria junto a si no Natal se afastaram, por vontade própria ou pela própria vontade da Natureza. O seu pai, uns anos antes. A sua mãe, havia seis meses. Apesar da mágoa eram perdas previstas, estando ainda por descobrir o elixir da eterna juventude. O seu irmão mais velho estava longe, no Brasil, com a mulher e três filhos e não falava consigo. Cruzaram-se no funeral da mãe e a única coisa que lhe disse foi “Tratas tu de tudo ou precisas de ajuda?”. A resposta foi dada com um olhar de desdém e mais não disseram durante dois dias. O irmão estava morto desde que casara com a sua antiga namorada.
Este ano ficara finalmente só. Depois de se despedir da mãe perdeu a mulher que partiu sem se despedir. Um dia chegou a casa e viu o guarda-fatos vazio, a prateleira dos CD’s a meio. os livros entremeados por espaços que não existiam. Na casa de banho faltavam os seus cremes, pós, líquidos, tudo aquilo com que implicava diariamente e que só então viu que tanta falta lhe faziam. Nem um adeus, uma palavra, um telefonema. Fora tudo meticulosamente calculado, o telemóvel estava cancelado, os pais dela e os amigos comuns fechados em copas, apregoando uma ignorância que apenas traduzia que tinham escolhido um lado.
A festa de família que desde pequeno o excitara era agora um amargo vazio. Lembrar-se da bicicleta BMX, do computador ZX Spectrum, da aparelhagem Pioneer, que durante anos e anos foram os melhores presentes alguma vez recebidos pelo Natal, apenas aumentava a dor do vazio que agora sentia.
A espera pela meia-noite em casa dos avós, depois dos pais e dos tios, finalmente em sua casa, sempre precedida por uma ceia iluminada com velas colocadas em altos candelabros com mais de cem anos e que saltitavam de casa em casa conforme era decidido onde passar o Natal, era um momento que ansiava todos os anos. Pouco ligava a passagens do ano, a carnavais ou outros que tanto. Era o Natal que esperava viver todos os anos, como idílio de que, pelo menos por uma vez no ano, tudo estava bem, quente e aconchegante, com sorrisos para aqueles que queria próximo de si.
Até 2007.
Parou frente à montra da pastelaria e viu empurrões desesperados para garantir os últimos bolos-rei, os últimos sonhos. Uma náusea abalou-o, virou costas e acelerou sem olhar, cruzando para o outro lado da rua.
Parar um autocarro da Carris que vai embalado a queimar os semáforos amarelos não é fácil. Especialmente quando, por um acaso, o motorista se deparou com um espaço livre suficiente para acelerar um pouco mais e criar a ilusão de que poderia recuperar algum do irrecuperável atraso que acumulara num urno de filas. Quando ele saltou para o asfalto a travagem desequilibrou os passageiros que iam em pé e dificilmente se seguraram. Ffoi atingido com uma pancada seca que o projectou vários metros para a frente da besta amarela.
Injuriado por muitos, amaldiçoado por muitos mais, que viram aumentar o engarrafamento e atrasar o regresso a casa, ficou no meio da estrada a aguardar o INEM que voou gritando pelo meio do trânsito para o socorrer. Ossos partidos, traumatismo craniano, escoriações deixaram-no no hospital por três dias.
E durante três dias não esteve sózinho. Partilharam consigo uma ceia que nem conseguiu comer, entregaram presentes e recebeu um inesperado livro com sudokus para preencher as horas vagas, estimaram-no e cuidaram de si. Pessoas que nunca vira, médicos e enfermeiros que estavam de serviço em vez de acompanharem as sua famílias e mesmo assim sorriam. Voluntários que preferiam estar ali à noite com uma palavra de apoio, um carinho, um presente para minorar a solidão de quem tinha que ficar no Hospital.
Nesses três dias percebeu que nunca ficaria só no Natal. Que sempre estaria disponível para, como voluntário, ir em busca de gente mais só do que ele, e juntos aquecerem uma noite que para si tanto significava.
17.12.07
Democracia
12.12.07
Carta ao Pai Natal
Sempre quis ter um destes relógios, sem o 007. Mas como é coisa "barata", os relógios que tenho são mais Swatch. Por isso, era tempo do Pai Natal desencaminhar um destes para o meu pulso.
(Sim, é verdade, gosto de ter relógios, vários, acumulados numa caixa, para todos os dias escolher um para usar. Manias. Antes isto que a droga, não?)
3.º - Uma viagem à Patagónia e Terra do Fogo.
Faz parte do meu imaginário. Infelizmente não posso estar de férias na melhor altura para lá ir. Quem sabe, um dia destes, se isso não muda?
4.º - Um curso de vela de recreio.
Depois de umas voltas em Hobbycat, está na altura de aprender e experimentar uma coisa assim.
5.º - Depois do DB9 e do Jaguar XK, que tal um Ferrari 612 Scaglietti? Ficava-me bem, asseguro-vos.
Atenção, escolher novas prendas não quer dizer que as antigas já não sejam desejadas. São-no, mas não faz sentido repeti-las aqui. Se alguém quiser oferecer o que ficou para trás, esteja à vontade, o.k.?
11.12.07
Poeira para os olhos
10.12.07
Memória
6.12.07
O prometido é devido
5.12.07
Correndo atrás do tempo
4.12.07
Bomba
Noite
28.11.07
O espírito do Natal chegou hoje
25.11.07
Hoje não há circo
23.11.07
O cozinheiro, a SIDA, as "notícias" e, afinal, os Juízes
COMUNICADO À IMPRENSA
Relativamente ao teor das notícias e artigos de opinião publicados em diversos meios de comunicação, designadamente nas estações de televisão, de rádio e na imprensa escrita, sobre o caso do "despedimento de um cozinheiro infectado com HIV", na sequência de solicitação feita pelos Juízes Desembargadores que subscreveram o Acórdão e de acordo com as informações por estes prestadas, cumpre ao CSM esclarecer o seguinte:
1- O cidadão em questão não foi objecto de despedimento com justa causa, antes a entidade empregadora considerou a existência de caducidade do contrato de trabalho;
2- Apesar das notícias aludirem à existência de dois pareceres médico-científicos que teriam sido ignorados por todos os juízes, apenas foi junta ao processo, no Tribunal do Trabalho de Lisboa, cópia impressa de páginas de um "site" do governo dos Estados Unidos da América (CDC), destinado a informação genérica à população americana sobre doenças transmissíveis que não pode ser confundido com um Parecer médico-científico;
3- No Tribunal da Relação de Lisboa não foi junto qualquer Parecer médico-científico mas, unicamente, um parecer jurídico, do Centro de Direito Biomédico da Universidade de Coimbra.
Acresce que este Parecer jurídico, não poderia ter sido atendido nem considerado processualmente pelos Juízes Desembargadores, porque não foi admitido por extemporaneidade, conforme despacho da Relatora do processo e que não foi objecto de recurso por nenhuma das partes, apesar de devidamente notificadas do mesmo;
4- O Juiz do Tribunal de Trabalho de Lisboa, após a realização do julgamento, com gravação da prova, fixou os factos provados, fundamentando os mesmos nos depoimentos de vários médicos que ali foram ouvidos como testemunhas, bem como na documentação junta aos autos;
5- Designadamente, no facto provado n° 22 pode ler-se que: "O vírus HIV pode ser transmitido nos casos de haver derrame de sangue, saliva, suor ou lágrimas sobre alimentos servidos em cru ou consumidos por quem tenha na boca uma ferida na mucosa de qualquer espécie";
6- No recurso de apelação interposto para o Tribunal da Relação de Lisboa, o cidadão em causa, apesar dos depoimentos das testemunhas terem sido gravados, não recorreu dos factos fixados não pedindo ao tribunal de recurso a sua alteração com base nos depoimentos prestados ou sequer com base no que consta no site americano CDC.
7- O Tribunal da Relação de Lisboa, proferiu o Acórdão tendo por base os factos provados vindos do Tribunal de Trabalho de Lisboa que foram aceites, sem recurso., nesta parte.
António Nunes Ferreira Girão
Juiz Conselheiro
Vice-Presidente do Conselho Superior da Magistratura
21.11.07
O Governo e os incómodos Juízes
Ora, no Dec.-Lei n.º 383/2007, de 16.11, que aprova o regime da concessão, emissão e utilização do passaporte diplomático português, foram "esquecidos"os vice-presidentes do STJ e o Vice-Presidente do CSM, quando tal constitui um direito expresso e previsto no n.º 3 do art.º 17.º do EMJ.
Não me parece inocente tal "esquecimento". Quando se pega numa lei antiga para a modificar e se excluem situações já previstas, deliberadamente se pretende modificá-las. Deliberadamente este Governo quer desqualificar os Juízes. Deliberadamente se pretende reduzir o poder judicial.
19.11.07
Chocolate
Isto deveria ser chamado por aquilo que é: doce pasta branca solidificada em tablete.
Por isso, é tempo de lançar o desafio: deixemos de chamar chocolate branco a isto. Chocolate é outra coisa. Olhem para a primeira fotografia e vejam a diferença.
E passem a mensagem.
12.11.07
Números redondos
5.11.07
31.10.07
Parabéns para mim
30.10.07
Viva o nosso Legislador!
29.10.07
Aperta aí
Assim como é visível, nos primeiros instantes do vídeo, mesmo no início, a forma "cortês" como trata o Ministro dos Negócios Estrangeiros, deixando-o de mão esticada.
Ataque às magistraturas
Naquela que é a lei que vai proceder à reforma dos regimes de vinculação, de carreiras e de remunerações dos trabalhadores da Administração Pública cria-se um singelo n.º num artigo e eis que cá está, Juízes e Procuradores cada vez mais funcionários:
Artigo 2.º
Âmbito de aplicação subjectivo
1.A presente lei é aplicável a todos os trabalhadores que exercem funções públicas, independentemente da modalidade de vinculação e de constituição da relação jurídica de emprego público ao abrigo da qual exercem as respectivas funções.
2. A presente lei é também aplicável, com as necessárias adaptações, aos actuais trabalhadores com a qualidade de funcionário ou agente de pessoas colectivas que se encontrem excluídas do seu âmbito de aplicação objectivo.
3. Sem prejuízo do disposto na Constituição da República Portuguesa e em leis especiais, a presente lei é ainda aplicável, com as necessárias adaptações, aos juízes de qualquer jurisdição e aos magistrados do Ministério Público.
Hot Fuzz
Na sexta-feira fui à ante-estreia de Hot Fuzz - Esquadrão de Província, numa iniciativa conjunta da Lusomundo e do blog Há vida em Markl. O resultado foi encontrarem-se numa sala de cinema mais de 230 leitores do HVEM, para ver o filme que, condenado que estava apenas à edição em DVD, recebeu uma vida nova com direito a estreia em sala. E ainda bem. Espreitem aqui para ver o trailer, e descubram este genial filme de acção e humor, muito britânico.
Ao invés dos filmes americanos que costumam gozar com os blockbusters recriando cenas para as exagerar ou tornar escatológicas, este Hot Fuzz cria uma história, com personagens trabalhados, e piadas fabulosas, gozando com os filmes de acção de Hollywood tanto pela forma como é filmado, como pelos meios envolvidos.
E o elenco é muito bom, com Simon Pegg à cabeça, mas por onde passam inúmeros actores da britcom ainda que seja por breves momentos.
Hot Fuzz ganha muito com o écran grande de uma sala de cinema. Por isso, quando estrear, vão ver. Será, sem dúvida, uma das grandes comédias do ano.
24.10.07
Ferrari
21.10.07
É a cultura aqui ao lado
Na quinta-feira a eleita foi a minha querida Companhia Teatral do Chiado, que nunca me desiludiu e sempre me proporcionou espectáculos de qualidade num ambiente de alguma intimidade, familiar. Com efeito, a sala pequena que é a Sala Estúdio Mário Viegas proporciona proximidade entre espectadores e actores, e as representações ocorrem mesmo junto a nós. Os actores estão sempre a interagir com a audiência, dando relevo à sua presença e não apenas para uma massa de espectadores exigentes de performance.
Desta feita o espectáculo é a Biblia: toda a palavra de Deus (sintetizada). Não se deixem iludir, o espectáculo não tem pretensões religiosas, mas apena o desejo de vos pôr a rir durante as mais de três (!) horas de duração. Adaptação do texto original dos tês criadores de "As obras completas de William Shakspeare em 97 minutos" (se nunca viram, vão ver a adaptação da CTC, em exibição há 11 anos), esta peça é fabulosamente interpretada por apenas três talentosos actores que dão uma verdadeira lição de teatro. Simplesmente imperdível.
Na sexta-feira o destino foi o CCB onde desfilaram num único concerto Vieux Farka Touré, um dos filhos de Ali Farka Touré recentemente falecido, e os Tinariwen. O primeiro mostrou que não transporta apenas o nome do pai, mas também um talento à medida da herança familiar. Mestre da guitarra toca a alma do Mali em ritmos de blues, irados, animados, dançantes com uma energia em palco contangiante, capaz de levantar muitos espectadores das cadeiras para irem dançar para as coxias da sala. Não resisti e comprei o primeiro CD dele cuja capa aqui exibo. Vale a pena ouvir, ver e manter debaixo de olho.
Mas o concerto continuou com uma segunda parte a cargo da banda Touareg (incompleta pois apenas cinco dos sete ocuparam o palco) que se mostra igualmente à vontade a manipular as cordas das guitarras, num ritmo por vezes hipnotizante mas quase sempre dançante. As músicas parecem repetir-se mas na realidadidade entranham-se no corpo e obrigam-no a mexer-se. Mais gente largou os assentos e quando chegou ao fim todos de pé dançaram um pouquinho no ambiente sempre formal do Grande Auditório do CCB. Também comprei um CD deles, o "Aman Iman" e saí de Belém com a satisfação de quase três horas de música muito bem tocada por artistas que sabem cativar e mobilizar o público.
Nesse dia recebi o convite da produção do espectáculo de ontem de Chick Corea para ir ver a actuação a solo deste artista ao piano (muito obrigado, Tiago) e não podia recusar. Com efeito, o concerto foi espectacular, e impressionante. Corea conseguiu criar um ambiente intimista numa sala como o Grande Auditório do CCB onde mais de 600 pessoas assistiam ao evento, e tocou de forma fabulosa, rigorosa, diversos improvisos, passeando por temas antigos da sua já longa carreira, misturando referências e exibindo o seu virtuosismo. e, para acabar, tocou um incrível tema com o Coro de Lisboa. Quem? Com os 600 assistentes que dividiu em áreas e pôs a cantar consigo enquanto teclava no piano, enquanto exibia acordes que as vozes repetiam, enquanto pedia mais ou menos intensidade. E durante vários minutos nós, que assistíamos a um concerto de Chick Corea, tivemos o prazer de cantar com ele, fazer parte do espectáculo. Memorável. Mais um concerto inesquecível.
15.10.07
Sem perder o rumo
A iniciação de ontem terminou com um percurso de 17 pontos e três quilómetros no Jamor.
Fiquei com vontade de ir experimentar uma prova.
9.10.07
Armadilhas dos armados em bons
Depois vi o segundo filme de Grindhouse, a épica homenagem de Tarantino e Rodriguez aos filmes de série Z. Da opção de Tarantino ("À prova de morte", já por mim comentado) resultaram padrões muito elevados e que inevitavelmente proporcionariam comparação com este filme de Robert Rodriguez. Porém, o realizador esteve igual a si mesmo e, num regresso às origens, fez um filme de zombies. Mas apenas isso. Um filme de zombies.
Basicamente, ao ritmo de um jogo de vídeo (ou antes, foram estes inspirar-se em filmes dos anos setenta) temos uma história descabida que cria zombies bexigosos, esfomeados por cérebros, e um grupo de sobreviventes a disparar a torto e a direito para acabar com eles e salvar a humanidade. Está lá tudo o que de bom e mau tinham estes filmes. As incongruências de argumento, a irrealidade das situações, o vazio dos personagens, a película riscada e até uma bobina perdida. E nunca se leva a sério, nunca se arma em bom, pelo que foge aos lugares miseráveis daqueles filmes que, actualmente, enchem a pantalha de efeitos especiais e pseudo-histórias para transpor ideias que nasceram de jogos de vídeo do tipo "tiro neles" (shoot'em up).
É, sem dúvida, uma boa diversão. Falta-lhe contudo, o substrato que faz da obra de Tarantino um verdadeiro filme, devidamente completo. Enquanto Tarantino não deixa nunca para trás o diálogo, a composição dos personagens, Rodriguez troca isso tudo por mais sangue, mais gore. Por isso, na comparação, fica a perder, e merece apenas uma nota três.
6.10.07
1.10.07
Canon EOS 40D - EFs 17-85 1:4-5.6 IS USM
28.9.07
Monty Python a portuguesa
Ontem fui ver esta gente a interpretar peças dos míticos Monty Python, segundo uma tradução/adaptação de Nuno Markl. A encenação coube a António Feio.
Não sei como dizer aquilo que achei do espectáculo. Quando se admira tanto o trabalho daqueles senhores ingleses (e um americano), soa sempre a sacrilégio saber que alguém anda a remexer na "coisa". Assim, foi com muito receio que me sentei no Auditório dos Oceanos no Casino de Lisboa. Tinha apenas a segurança de saber que os artistas eram bons, competentes, e o adaptador respeitava muito, mas mesmo muito, o trabalho dos Monty Python.
Com o correr da apresentação tive que constatar o facto de ser mesmo um cromo, pois que não só reconheci como antecipei todo o texto, tantas as vezes que já vi os originais. Ora, isso seria um passo para não achar piada ao espectáculo. Mas achei. E houve momentos de rir a bom rir tal a forma como os actores levaram a cabo o árduo trabalho. E mais ainda com José Pedro Gomes estava em dia "não" em termos de concentração e andou perdido de riso no meio das rábulas, tentando conter-se, mas acabando por contaminar os colegas de palco que a custo, a muito custo, resistiram às insinuantes investidas do riso descontrolado.
De todas as rábulas, as que mais gostei de ver adaptadas foram, sem dúvida, a do Papa e Miguel Ângelo, a dos polícias que têm problemas de audição, a menos que lhes falem com diferentes entoações, e a do produtor de cinema e seus argumentistas. Quanto aos números musicais, Markl lá se safou, particularmente na cambiante do "lumberjack" que virou trolha, sendo certo que é muito difícil adaptar letras de músicas nascidas para ter piada pela cadência e sonoridade do inglês.
Os actores são muito dedicados e, respeitando o original, copiam os tiques dos grandes Monty Python, indo para além dessa mesma cópia mas não estragando a performance com soluções desadequadas ou demasiado "criativas".
Vim de lá muito mais satisfeito do que pensava que poderia vir quando paguei os bilhetinhos.
27.9.07
26.9.07
DNA
25.9.07
Prisões
23.9.07
De novo ao sabor do vento
É bom andar ao sabor do vento. É bom sentir que se consegue ir de "a" a "b" aos comandos de uma embarcação destas.
19.9.07
Código desconhecido
17.9.07
14.9.07
Pais real
O Dalai-Lama está em Portugal. É uma figura incontornável do nosso Mundo, por tudo aquilo que representa, mas muito particularmente pela forma como age e comunica. A tragédia do Tibete alvo de repressão chinesa não é das mais graves neste nosso planeta, mas é uma entre muitas, e a forma como o Dalai-Lama a combate, argumentando com um sorriso nos lábios espalhando a filosofia que o rege consegue captar simpatia, ainda que pouco esclarecida.
Ao chegar a Portugal, jornalistas portugueses "saltaram" sobre o homem confrontando-o com a recusa do Governo Português em recebê-lo oficialmente, aparentemente à espera de uma declaração bombástica, arrasadora, amarga. Mas, naturalmente, isso não aconteceu, saindo-se o líder espiritual tibetano com a fantástica frase de que os Governos pouco fazem para espalhar a palavra de paz e igualdade que é a sua missão, não sendo o Português uma excepção.
O Governo Português não quis receber oficialmente o Dalai-Lama. A única justificação para tal decisão, por muita argumentação publicada pelos governantes, só pode ser o desejo de não "ferir a sensibilidade da China", cujo crescente poderio económico justifica uma estranha subserviência.
Em contrapartida convidou Robert Mugabe para a Conferência da União Europeia com os países africanos, mesmo que com isso ponha em causa a participação do Reino Unido e outros que já ameaçaram, igualmente, boicotar a iniciativa. Pelos vistos este países europeus terão pouco peso na estratégia governativa, e aquele ditador de pacotilha, que responde a um passado racista com vítimas negras num presente racista com expulsão, sem qualquer critério ou justificação, dos brancos, com isso arruinando o país e entregando a população (negra) que demagogicamente anunciou defender, no limiar da fome, na mais confragedora pobreza num país de elevados recursos naturais.
Este é o Governo real.
É o nosso país real. Aquele cujos noticiários televisivos abrem com o soco de Scolari que escalpelizam durante dez minutos para, depois, gastar outro tanto tempo com as especulações jornaisticas sobre o caso da Maddie.
Cada vez mais, mais pessoas vivem longe da realidade, intoxicadas pela deturpação dos valores traduzida nestes tiros ao lado de tudo o que verdadeiramente importa.