Não pude deixar de reparar nela.
Alta, loira, mas feia. Tinha um corpo de espanto, vestido com um conjunto saia/casaco cinzento. As longas pernas eram perfeitos anúncios de collants. Fumava um cigarro comprido que mantinha descaído no canto da boca formada por dois finos lábios, traços vermelhos. Não tinha qualquer maquilhagem, mas os seus olhos azuis, frios, sobressaíam dolorosamente.
Trazia consigo uma caixa de violino que destoava tanto, tanto... Apesar das mãos finas e compridas, não a via a manejar o arco, sequer a tocar qualquer instrumento. Muito menos o nobre violino.
Dirigiu-se à cabina telefónica ao meu lado. Assim que atenderam disse:
- Deves-me cinco mil contos. - a voz, calma e pausada, era poderosa. Tal como imaginamos a voz de um psicólogo.
Desligou sem dar hipótese de resposta e desapareceu num ápice em direcção aos táxis.
"A Capital", nessa tarde, dava conta em grandes parangonas do assassínio, em Coimbra, de um juiz que tinha a seu cargo o julgamento de uma poderosa rede de narcotráfico.
Na última fotografia que lhe fora tirada, via-se ao fundo uma mulher loira, alta, com um estojo de violino.
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