As duas formavam um par muito estranho. Não passavam despercebidas, mas faziam-no de propósito.
A mais baixa era feia. Tinha o cabelo cortado à máquina três. Era magra e curvada. Vestia um blusão de cabedal negro com algumas correntes cromadas por cima de uma t-shirt escura e manchada de lixívia. As calças de ganga eram claras e coçadas, as botas grandes e pesadas. Insistia em sorrir, mostrando os seus dentes irregulares. Tinha vários brincos nas duas orelhas. As grandes sobrancelhas, negras como os olhos e o escasso cabelo, aumentavam-lhe o ar debilóide.
A outra era um pouco mais alta, e bonita. A pele alva sobressaía do cabelo cortado "à francesinha", mas cruelmente pintado de ruivo alaranjado. Tinha dois brincos: um crucifixo e uma caveira. Vestia igualmente um blusão de cabedal preto, mas por baixo envergava um "top" branco que lhe moldava os fartos seios, em contraste com a lisura da sua companheira. Tinha ainda uns curtos calções negros e collants da mesma cor com uma longa malha na face interior da coxa direita. As suas pernas eram muito bem moldadas e não ficavam nada bem com aquelas botas de tipo militar. Também ria. Mas com um riso muito belo. E maldoso.
Entraram de mão dada. Na fila da bilheteira abraçaram-se como qualquer casal. A feia deixou a sua mão apoiar-se nos calções da outra e começou a apalpar-lhe as nádegas roliças. Pôs a mão mais por baixo, pelo meio das pernas. Pude descortinar alguns olhares chocados. Outros excitados. Muito poucos indiferentes.
Quando regressavam em direcção ao cais de embarque pararam no meio do átrio. Olharam-se muito de perto. A feia acariciou a face branca. A ruiva aproximou-se ainda mais. E beijaram-se provocantemente.
Muita gente teve uma história para contar nos dias que se seguiram.
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