9.2.05

"Vera, what has become of you... does anybody else in here, feel the way I do?" (Pink Floyd, "The Wall")

Excelentemente realizado, com uma sublime interpretação de todos os actores. Mike Leigh, mais uma vez, mostra como é para si importante ter personagens com espessura, sólidos, que nos fazem sentir, antes de pensar.
A acção passa-se em 1950, na urbana Inglaterra do pós-guerra, deprimente pela pobreza notória da classe trabalhadora.
A lei proíbe o aborto. Vera Drake limita-se a "ajudar" as raparigas que têm um problema. Raparigas e mulheres que engravidam porque não há contracepção, e que se tornam mães de muitos, no meio da pobreza em que vivem.
Vera Drake é solícita, ajuda quem precisa, e não ganha nada com isso.
Até ser descoberta, presa e julgada.
Com uma actualidade incrível, o filme coloca-nos perante o dilema que aquela mulhar representa. A criminosa é uma boa pessoa, interessada apenas no bem-estar dos outros. Apela à nossa simpatia. Mas, ao mesmo tempo, é alguém que conscientemente viola a lei.
Deixa-nos a pensar, depois de sentir. Emoções que rolam ao sabor do filme, ao sabor da direcção de Mike Leigh. E da frase de um dos personagens que diz aproximadamente algo como "éramos seis irmãos, vivíamos em dois quartos... quando se é pobre e não se consegue alimentar toda a gente não se consegue amar todos os filhos"
É, sem sombra de dúvida, um filme imperdível.

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