18.2.05

"Um Imenso Caldeirão" (14)




Ali estava ela. Quarenta anos, com uma criança de sete pela mão. Três malas, daquelas plásticas, com rodinhas. Vi-a chegar, decidida. O miúdo esteve calmo enquanto ela comprou os bilhetes, alguma comida de ocasião e um chocolate que o entreteve durante algum tempo.
Depois, sentaram-se ali perto. Faltava muito para o comboio.

O pequeno homem começou a ficar irrequieto e, na sua inocência, perguntou uma, duas, três, várias vezes pelo pai. A cada insistência via as lágrimas assomar àqueles olhos verdes rodeados de rugas. Vi o nó na garganta que a obrigava a engolir em seco. Vi um soluço abafado.

Acabou por se levantar e iniciar uma conversa telefónica. À distância, por entre lágrimas convulsivas, consegui ler-lhe nos lábios uns "desculpa".

Quando terminou, rasgou os bilhetes, secou as lágrimas e encaminhou-se para o filho com um sorriso. Nesse sorriso estava algum alívio.

Estava também a derrota.

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