Ali estava ela. Quarenta anos, com uma criança de sete pela mão. Três malas, daquelas plásticas, com rodinhas. Vi-a chegar, decidida. O miúdo esteve calmo enquanto ela comprou os bilhetes, alguma comida de ocasião e um chocolate que o entreteve durante algum tempo.
Depois, sentaram-se ali perto. Faltava muito para o comboio.
O pequeno homem começou a ficar irrequieto e, na sua inocência, perguntou uma, duas, três, várias vezes pelo pai. A cada insistência via as lágrimas assomar àqueles olhos verdes rodeados de rugas. Vi o nó na garganta que a obrigava a engolir em seco. Vi um soluço abafado.
Acabou por se levantar e iniciar uma conversa telefónica. À distância, por entre lágrimas convulsivas, consegui ler-lhe nos lábios uns "desculpa".
Quando terminou, rasgou os bilhetes, secou as lágrimas e encaminhou-se para o filho com um sorriso. Nesse sorriso estava algum alívio.
Estava também a derrota.
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