Eram três horas da tarde. O sol entrava por cima da minha cabeça. No chão, o recorte luminoso da janela só era interrompido por uma réstia da minha sombra.
Foi nesse pedacinho que uma miúda de cinco, seis anos, cabelo escuro, comprido, e muitas sardas se sentou. Ali no chão iniciou uma conversa com o seu amigo invisível. Palrou deliciosamente durante uma curta eternidade. E se eu não percebi quase nada do que dizia, devorei a atitude, a serenidade, a ilusão.
Os pais surgiram assustados. O casal com ar de perder muito tempo a discutir deixando a criança para um segundo plano, aparentava já ter andado à sua procura pela estação. Enquanto lhe ralhavam por uma falta infantil, olharam para mim com desconfiança.
Fui visto como um pederasta.
Creio que servi de exemplo:
"Cuidado com os senhores como aquele ali. São maus..."
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